“Por Quem os Sinos Dobram”, por Dr Júlio Carvalho

"Por Quem os Sinos Dobram", Ernest Hemingway
“Por Quem os Sinos Dobram”, Ernest Hemingway

Na minha juventude, fui um assíduo leitor dos livros do escritor norte americano Ernest Hemingway, sendo “Por quem os sinos dobram” o que mais me empolgou, embora a obra premiada tenha sido “O Velho e o Mar”.

Até o início do século passado, havia o hábito do sino maior da nossa igreja bater dobrado quando o corpo dos falecidos saiam da nossa igreja, após ser encomendado pelo vigário. O mesmo ocorria quando falecia um Papa: nesse caso, o sino batia dobrado várias vezes ao dia. Coitado do sineiro, tinha que subir as enormes escadas em caracol inúmeras vezes, pois tudo era manual. Portanto, sino soando em dobro era comunicação de falecimento.

Há alguns meses, li, em um jornal carioca, que o último índio de uma tribo brasileira vivia se escondendo, com medo de ser morto a tiro por algum branco, como recentemente ocorrera no Maranhão.

Amoim Aruká Juma, último homem indígena da etnia Juma, morre em Rondônia
Amoim Aruká Juma, último homem indígena da etnia Juma, morre em Rondônia

No final de fevereiro, o colunista do UOL, Julián Fuks, em brilhante coluna, comunicava o falecimento desse último índio da etnia Juma, Amoim Aruká Juma, não por arma de fogo como ele temia, mas por Covid. É mais um brasileiro que morre por falta de vacina. Naquele dia, 27 de fevereiro, eram 250 mil mortos por Covid. Hoje, 06 de abril, são 337.364, número que não para de crescer, tudo por falta de vacinas que foram consideradas “comunistas e sem credibilidade”. Qualquer cidadão, medianamente inteligente, sabe que a ciência não tem pátria nem ideologia, que suas conquistas são em benefício da humanidade. Numa guerra, por exemplo, os médicos são obrigados a socorrer até os inimigos feridos. A ciência é nobre!

Voltando à morte do último índio Juma, diz o articulista do UOL, não morreu apenas um homem, desapareceram toda história, tradição e cultura de mais uma nação indígena, que vão desaparecendo à medida que as florestas brasileiras, criminosamente, são destruídas.

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

Retornando ao escritor Ernest Hemingway, ele, no espelho do livro “Por Quem os Sinos Dobram”, inicia desse modo: “Nenhum homem é uma ilha isolada. Cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra. Se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de seus amigos ou o seu próprio. A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do GÊNERO HUMANO.

Aos mais de 300.000 brasileiros mortos por Covid, dedico este belíssimo trecho do poeta e pensador inglês John Donne, religioso anglicano, falecido aos 57 anos de idade, pois sou, também, membro do gênero humano, enlutado por todos que morreram na luta desigual contra o vírus.

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

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