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O novo brasão, de autoria do desenhista Alberto Lima, especialista em heráldica, aprovado pela Lei Municipal nº 2, de 20 de julho de 1964
Plagiando Luís de Camões – A armas e os barões assinalados… – em os Lusíadas, inicio o artigo desta semana.
As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca d’antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.
Não, não e não. Não vou entupir os caros leitores desse famoso autor português que eu conheci nas aulas de literatura portuguesa e brasileira da professora Amélia Thomaz, no curso Científico do Colégio Euclides da Cunha, nos idos da década de 50. O assunto é outro: o brasão e a bandeira do município de Cantagalo. Poucos cantagalenses conhecem a descrição desses dois elementos importantes de nossa história. São frutos da heráldica.
A heráldica ou armaria é a identificação visual e o simbolismo criado na Europa no século XII. O termo designa a arte de elaborar os brasões e a ciência que estuda suas regras, formas, tradições, simbolismos e significados históricos, políticos, culturais e sociais. O brasão de Cantagalo, que vigorou até julho de 1964, era bem simples: ramos de café e cana, um galo sobre uma circunferência. Ali estava escrito “Ordem” e as estrelas da bandeira brasileira e, abaixo, o lema em latim “Semper Vigilians”. Nem é preciso traduzir.
O novo brasão, de autoria do desenhista Alberto Lima, especialista em heráldica, foi aprovado pela Lei Municipal nº 2, de 20 de julho de 1964. Modificou brasão de armas anterior e criou a Bandeira de nosso município.
O art. 1º trata do Brasão de Armas que passa a vigorar com as seguintes características:
“Escudo português. Em campo de prata, um galo heráldico, representado de bico aberto e a pata direita levantada, de sinople (verde) cristado, barbelado, orelhado e armado (unhas, patas e esporões) de goles (vermelho). Um chefe partido de dois quarteis: no primeiro quartel, em campo de goles (vermelho), um turbante de penas, de ouro; no segundo quartel, em campo de blau (azul), um livro aberto e, sobre o mesmo, penas clássicas, tudo em prata. Na base, acompanhando a forma do escudo, um listel de prata ostentando os seguintes dizeres: “1814 – CANTAGALO – 1857”. Como suporte, respectivamente, à destra (direita) e à sinistra (esquerda), um galho de café e uma haste de cana. Encimando o conjunto, como figura máxima, a coroa mural de cinco torres de prata, que é de Cidade, carregada de uma elipse de blau (azul), ostentando uma chave de ouro.”.
“O escudo português lembra a origem lusitana de nossa Pátria. O galo, representativo do topônimo municipal, em sua posição característica, evidencia o esforço e a coragem. O turbante representa os índios Coroados e Goitacazes que, em épocas remotas, dominaram a região. O livro e a pena lembram ‘Os Sertões’, a obra-prima de Euclides da Cunha, considerada o Lusíadas brasileiro; representando a homenagem do Município ao seu insigne filho. Café e cana, as riquezas do passado que ajudaram a construir a grandeza do Município. A chave simboliza o padroeiro do Município, São Pedro de Cantagalo. As datas: 1814 e 1857, respectivamente: criação da Vila e a elevação desta à categoria de Cidade. Os metais e esmaltes significam: ouro, força; prata, candura; vermelho (goles), intrepidez; azul (blau), serenidade; verde (sinople), abundância”.
Penso ser relevante lembrar que o prefeito de Cantagalo a época (1957), Henrique Frauches, com o apoio do Governador Miguel Filho e do Grêmio dos Amigos de Cantagalo (GAC), em 2 de outubro de 1957, estava comemorando uma data histórica, o Centenário da Cidade de Cantagalo, com um monumento na Praça Miguel Santos, criado e executado por um artista plástico cantagalense famoso – Honório Peçanha. O evento contou com a presença do governador Miguel Couto, do deputado federal Miguel Couto Filho, e a divulgação em O Fluminense e no jornal falado, transmitido pela Rádio Tamoio do Rio de Janeiro, Grande Jornal Fluminense, com presença do excelente repórter e locutor Erthal Rocha, um bonjardinense dos melhores.
Os cantagalenses, segundo o brasão de armas de nosso Município, temos força, candura, intrepidez, serenidade e abundância. Alguém vai reclamar que não tem tudo isso em sua vida? É a Lei! Parêntesis. No Brasil se resolve tudo por meio de leis ou decretos. Se a Lei diz que temos tudo isso em nossa “bolsa de mandingas” é porque temos. Precisamos é desenvolver aquelas que ainda não conquistamos…
A Bandeira tem as suas características descritas no artigo 2º:
“A Bandeira do Município de Cantagalo, Estado do Rio de Janeiro, cujo desenho original a esta acompanha, tem as seguintes características: cores nacionais (verde e amarelo) alternadas em cinco faixas horizontais, simbolizando cada faixa um distrito: Cantagalo (a sede), Santa Rita da Floresta, Euclidelândia, São Sebastião do Paraíba e Boa Sorte, tendo ao alto à esquerda o Brasão de Armas do Município”, conforme descrito na citada lei. O centenário da criação do município, em 1914, não pude participar das comemorações. O bicentenário do Município aconteceu na gestão do Prefeito Saulo Gouvea e foi comemorado com o devido respeito. À época, recebi em Brasília, onde residia, os brindes que a Prefeitura distribuiu na ocasião.
Penso que é interessante que os cantagalenses conheçam as histórias dos vários setores governamentais e da livre iniciativa, os personagens que fizeram nossa História, não só nos grandes momentos, mas no dia a dia das batalhas pelo progresso e desenvolvimento do município, que vamos, eu e o amigo e médico Júlio Carvalho, construindo aos poucos, com a participação de vários pesquisadores, e pessoas que amam a cultura, Eny Chevrand Baptista, Angela Araújo, Gilberto Cunha, Luiz Vieira, Luiz Alberto d’Azevedo, Ana Beatriz, filha de Ruth Farah e tantos outros que passam anonimamente pela nossa rica história, mas guardam nos seus arquivos as marcas, os rastros dos que brilharam e brilham na economia, na política, nas artes, na ciência, nas letras.
As armas e os brasões assinalados marcam um vale, montanhas, rios e riachos abundantes onde residem herdeiros das terras de Manuel Henriques, o Mão de Luva, as Novas Minas de Cantagalo. Essas terras não foram compradas, mas usurpadas para serem entregues, mediante sesmarias, a apaniguados da Coroa Portuguesa e, depois, aos ricos que possuíam, no mínimo, quinze escravos, símbolo de riqueza em tempos de uma cruel escravidão comandada pelo Reino Unido de Portugal, Brasil e Açores, em grande parte governado por uma rainha conhecida como “A Louca” …¨