“As festas juninas e seus Santos”, por Julio Carvalho

Herdamos de nossos antepassados portugueses as festas juninas, que pouco a pouco vão perdendo suas características de outrora. Em Cantagalo elas quase desapareceram, sendo comemoradas quase que somente nos colégios, sendo que a própria Festa dos Carecas tem poucas semelhanças com as iniciais, todavia ainda persiste em nosso calendário. No nordeste, elas continuam sendo realizadas a todo vapor.

Não sei porque os santos escolhidos foram Santo Antônio (13), São João (24) e São Pedro (29), todavia deve haver algum ou alguns motivos para as escolhas.

Santo Antônio, membro de uma família destacada de Portugal, sendo ordenado padre recebeu uma paróquia importante, em região rica de seu país, todavia não se adaptando aos hábitos locais, optou pela ordem dos Franciscanos Menores, passando a viver em um convento. Certa noite, estando de serviço como porteiro, acolheu três frades que seguiam como missionários para o Marrocos. Conversou muito com eles durante a refeição e no momento da partida. Os três religiosos chegando ao norte da África foram presos e mortos pelos mulçumanos.

Frei Antônio ficou impressionado com o ocorrido com os três membros de sua ordem, desejando, também, se tornar um missionário católico no outro continente. Recebendo autorização do seu superior embarcou em um navio, todavia, estava reservado para ele uma história muito diferente; uma violenta tempestade colocou o navio à deriva e o mesmo foi parar na ilha Cecília, onde frei Antônio desembarcou desnutrido, desidratado e doente; permaneceu por algum período para sua recuperação.

Posteriormente, ele se incorporou aos franciscanos do norte da Itália, passando a trabalhar com Frei Francisco de Assis, fundador da Ordem do Frades Menores. Por sua cultura e extraordinário conhecimento da Bíblia era designado como pregador dos retiros da ordem franciscana.

A Santo Antônio são atribuídos diversos milagres, inclusive o poder da bi locação, todavia não cabe aqui cita-los pela limitação do espaço. Faleceu precocemente, aos 33 anos, no dia 13 de junho de 1231, sendo canonizado pelo Papa Gregório IX menos de um ano depois do seu falecimento, em 30 de maio de 1232.

Desde jovem sou profundo admirador de Santo Antônio, li vários livros sobre sua vida e tenho uma coleção de suas imagens. Meu filho e meu colega Marco Antônio tinha a data prevista para seu nascimento em 15 de junho, todavia resolveu nascer de parto normal, às duas horas do dia de Santo Antônio, daí o seu nome.

São João Batista, o precursor de Jesus Cristo, foi o último profeta do Antigo Testamento e o primeiro profeta do Novo Testamento. Nasceu de um casal idoso que não possuía filhos, sendo a gestação de sua mãe anunciada ao seu pai quando trabalhava no templo.

Viveu um período longo no deserto, alimentando-se de mel e gafanhotos; vestia-se com couro de camelos; outros dizem que foi um essênio. Em suas pregações combatia de modo firme as irregularidades da sociedade dos judeus. Anunciava a vinda de Jesus, declarando que “não sou digno de desamarrar as sandálias de seus pés”. Acabou degolado.

A festa junina de São João é a mais famosa e mais animada, pois comemora a data do seu nascimento e não a da morte.

Finalmente São Pedro, o pescador da Galileia, que junto com seu irmão André, deixou tudo para seguir Jesus em sua divina missão. Certa vez, li uma reportagem sobre as escavações realizadas onde, provavelmente, fora a casa de Pedro, e onde encontraram uma garagem com mais de um barco de pesca, chegando-se à conclusão de que Pedro não fora apenas um pescador mas dono de uma companhia de pesca; se isso for verdade aumenta o seu valor, pois deixou um patrimônio para acompanhar Jesus.

Pedro foi um homem problemático e cheio de dúvidas. Quando Jesus falou em morrer crucificado, Pedro protestou, não aceitando; na transfiguração Jesus, propôs construir três tendas no monte Tabor, ouvindo do Mestre: “antes de chegar ao Tabor é preciso passar pelo Calvário”. No monte das Oliveira, para defender Jesus sacou a espada e feriu Malco na orelha, pouco depois, por três vezes negou conhecer Jesus, todavia chorou, arrependido, quando Jesus passou preso diante dele e o olhou de modo misericordioso.

Depois que Jesus ressuscitou, Pedro e os companheiros retornaram à pescaria na Galileia. Quando viram Jesus na praia, Pedro se emocionou, atirou-se no, mar, dizem alguns que estava nu, e partiu ao encontro do Mestre e amigo, humildemente, por três vezes disse amar jesus.

Por seu arrependimento e por sua humildade, disse-lhe Jesus: “Cuida das minhas ovelhas. Em verdade, em verdade, lhe digo: quando era jovem, você mesmo amarrava seu cinto e andava por onde queria; quando, porém, for velho, estenderá as mãos, e outro lhe amarrará pela cintura e lhe levará para onde não quer ir”.

Pedro foi para Roma, onde pregou o Evangelho de Cristo, foi preso e morto no ano 67 d.C., crucificado no Circo de Nero, na colina onde hoje está construída a Basílica do Vaticano. Não se considerando digno de morrer como Jesus, pediu que fosse crucificado de cabeça para baixo. Pedro é considerado o primeiro Papa do Catolicismo, que, atualmente, congrega no planeta Terra cerca de 1,5 bilhões de adeptos.

O grande esquecido nas festas juninas é São Paulo, pois o calendário da Igreja Católica considera o dia 29 de junho como data de São Pedro e São Paulo, sendo este o maior missionário da história do cristianismo. Mais uma falha da humanidade!

Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo
Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo. Atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo e vice-prefeito de Cantagalo.

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