“As sete ondas para um mundo melhor”, por Amanda de Moraes

As sete ondas para um mundo melhor

O final do ano nos traz um turbilhão de sentimentos. Para muitos, é motivo de renovação, esperança e boas-novas, principalmente quando um caminho mais árduo foi percorrido ao longo dos meses.

Como disse Drummond: “Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante tudo vai ser diferente.

Essa linha de chegada parece conhecer bem o coração humano, que precisa de pausas e respiros para pegar fôlego. Um dos pit-stops da vida.

A sociedade se organiza para novos ares na rotina, ainda que seja apenas por uma noite. Alguns buscam o agito das multidões, fogos de artifício, festas. Há os que preferem o silêncio das florestas, recarregar as energias, meditar sobre o ano vindouro e aquele que acabou de ficar para trás. Não esqueçamos também os que apenas esperam a data passar… sem esperar absolutamente nada; a vida cansa vez ou outra.

E assim as mudanças desejadas ganham combustível: sonhos, matrícula na academia, amores, conquistas, casa nova, prosperidade. “Neste ano, farei diferente!” – afirmamos a cada simpatia. É um vale-tudo. Até católicos oferecem flores para Iemanjá. Há quem deposite simpatia na calcinha vermelha para trazer amor; semente de romã e lentilha para trazer sorte; sete ondinhas para sete desejos. Ah, e não podemos esquecer os trajes brancos, hoje utilizados por muitos que buscam paz, boas energias e prosperidade. Busca-se, com perseverança, uma vida boa.

Em um mundo individualista, no qual nem sequer sabemos os nomes dos nossos vizinhos, os pedidos para a qualidade de vida se restringem a si mesmo, fruto de uma visão onde o ser humano existe de forma independente do ecossistema, das demais pessoas.

À medida que jogamos o resto da ceia de ano-novo no lixo, o menino no semáforo passa praticamente despercebido. Enquanto enchemos o mar com flores em uma noite, para que as nossas vidas melhorem, inundamos nossos oceanos, no resto do ano, com plástico, detritos e esgoto. De acordo com o Instituto Brasileiro de Floresta, as algas marinhas são reguladoras do clima do planeta, sendo responsáveis por 54% do oxigênio do mundo, e a situação está ficando delicada para o pulmão da Terra. Desmatamento em níveis alarmantes, derretimentos de geleiras, espécies em extinção, rios entrando em coma.

Pois é, precisaremos mais do que sete sementes de romãs…

Talvez uma boa simpatia para um futuro melhor seja a abertura da nossa percepção para novas formas de enxergar a vida. Mudando a lente, mudamos as prioridades. Para isso, faz-se necessário o contato com ideais diferentes dos que reproduzimos em nossas vidas. O novo pode ser interessante, para mostrar outras possibilidades. Por que não?

Para 2025, um bom ritual para uma vida melhor é a leitura das obras de Ailton Krenak, ambientalista e primeiro indígena a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Aliás, um best-seller. O autor nos leva a repensar a visão do ser humano como centro de tudo, sem levar em consideração outras formas de vida e um equilíbrio necessário com o meio ambiente. Entende o planeta como um ser vivo, em vez de um recurso a ser explorado de forma ilimitada.

Em seu livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo, Krenak traz críticas incisivas à autodestruição que o nosso atual modelo homogeneizado de sociedade induz e ao atual modelo econômico. Como disse: “A gente não fez outra coisa nos últimos tempos senão despencar.

Que possamos, neste final de 2024, em meio ao tempo da superprodução e consumo desenfreado, resgatar algumas ideias do autor indígena, como o ócio criativo e a contemplação – como formas de reconexão com a vida e com o planeta. Quem sabe a solução para muitas crises contemporâneas já não esteja aí, em conhecimentos ancestrais. Como disse Krenak, o futuro é ancestral.

Agora, restam apenas mais 25 anos para 2050. Será que os adultos desse futuro receberão um mundo mais simpático e humanista? Tomara que não deixemos a nossa responsabilidade relegada às sete ondas em Copacabana. Feliz Ano Novo!

 

Amanda de Moraes Estefan é advogada, no Rio de Janeiro, e sócia do escritório Mirza & Malan Advogados. Ela é neta do ex-prefeito de Trajano de Moraes, João de Moraes
Amanda de Moraes Estefan é advogada, no Rio de Janeiro, e sócia do escritório Mirza & Malan Advogados. Ela é neta do ex-prefeito de Trajano de Moraes, João de Moraes

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