“Ascensão Feminina”, por Júlio Carvalho

Mulheres no topo

O homem da caverna, através da força, dominava a mulher. Era a lei do mais forte. Com isso, criou-se uma sociedade machista, colocando a mulher sempre em segundo plano. Quando lemos a história da humanidade, os homens são sempre os grandes heróis, dificilmente surgindo uma heroína.

No Antigo Testamento, encontramos algumas mulheres que se destacam por sua inteligência e habilidade. No livro dos Juízes, surge Débora, mulher conselheira e estrategista, que dava audiência sob a palmeira de Débora; ela determinou que se formasse um exército com dez mil combatentes e enfrentasse o inimigo colocando-se sobre o monte Tabor. Ali estava o exército do general Sísara, que oprimia os israelitas a vinte anos. Débora acompanhou o exército de dez mil homens e assistiu à derrota dos opressores.

O general Sísara, derrotado, se refugiou em uma tenda de um amigo. Exausto, adormeceu debaixo de boas cobertas. Enquanto dormia, Jael, dona da tenda, lançando mão de um grande cravo e de um martelo, cravou o cravo nas têmporas do general, atravessando o seu crânio e o cravando no solo, causando-lhe a morte. É outra heroína do Antigo Testamento (Jz 4).

Outras mulheres se destacam no Antigo Testamento. Rute, viúva estrangeira, moabita, que por lealdade a sua sogra, vai para Israel, casa com um israelita e termina sendo a bisavó do rei Davi, construtor da grandeza do Reino de Israel.

Na genealogia de Jesus Cristo, Mateus cita apenas quatro mulheres, sendo uma delas Rute. Desse modo, a leal moabita aparece na história como uma heroína e bisavó do Salvador da humanidade.

Outra heroína do Antigo Testamento é Judite; havia ficado viúva a três anos e quatro meses. Era rica, todavia vivia recolhida em sua casa, vestida como viúva. Porém, estando sua cidade, Betúlia, sitiada pelo forte exército de Nabucodonosor, chefiado pelo general Holofernes, com ordem de a tudo destruir, resolveu vestir-se com suas mais ricas vestes e joias; acompanhada por uma empregada, dirigiu-se ao acampamento do inimigo, onde passou três dias em oração, conquistando a confiança de Holofernes.

Depois de um lauto banquete, em que ingerira muito vinho, o poderoso general adormeceu, ocasião em que Judite, com a espada do próprio militar, conseguiu decapitá-lo, colocando sua cabeça em uma bandeja, que foi conduzida por sua empregada e colocada sobre o muro da cidade. Quando seus comandados tomaram conhecimento do ocorrido, debandaram apavorados, enquanto a cidade era salva pela coragem e inteligência de uma mulher (Jd 8).

Outra mulher que aparece com destaque no Antigo Testamento é Ester, judia, vivendo exilada com o seu povo. Por sua beleza, consegue conquistar o coração do rei persa Assuero, chegando a rainha. Em dado momento, levado por um mau conselheiro, o rei assina um decreto determinando o extermínio do povo judeu. Todavia, Ester, oferecendo um banquete ao rei, consegue demovê-lo do desejo de extermínio dos judeus, terminando na forca o mau conselheiro Amã.

Outras mulheres ainda aparecem com destaque no Antigo Testamento: Sara, Agar, Rebeca, Raquel e Tamar. Todavia, o número é inferior àquele de homens criados por uma sociedade patriarcal.

No Novo Testamento, observamos que Jesus Cristo procura dar as mulheres uma posição um pouco mais de destaque. Em seu grupo de missionários, caminhando pela Palestina, aparecem “Maria, chamada Madalena, de quem saíram sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e muitas outras mulheres, que os ajudavam com seus bens” (Lc 8, 2-3).

Numa sociedade em que as mulheres e as crianças ficavam em um plano secundário, não sendo contados nem nos censos demográficos, Jesus procurou tratá-las em igualdade de condições: cura a sogra de Pedro, ressuscita o único filho da viúva de Naim, perdoa a mulher adúltera, ressuscita a filha de Jairo, cura a mulher com metrorragia, cura a mulher encurvada, mantêm diálogo com a samaritana no poço de Jacó, revelando que ele é o Messias.

Na ressurreição, Jesus se manifesta primeiro a uma mulher; Maria Madalena é a escolhida para levar a grande notícia aos apóstolos, que temerosos permaneciam dentro de casa.

E Maria? Mãe de Jesus, considerada a corredentora da humanidade. Durante 40 semanas, guardou Jesus no interior do seu útero, fornecendo-lhe nutrientes e oxigênio através da placenta, o amamentou depois do nascimento com o seu leite, ensinou-lhe os primeiros passos e as primeiras palavras. Sofreu na paixão do filho e viveu a alegria da ressurreição. Será que algum homem seria capaz de fazer tudo isso?

Na história do cristianismo, é incontável o número de mulheres que, por sua vida, por toda parte do mundo, foram canonizadas, aparecendo com destaque entre os santos do catolicismo.

Na história universal, aparecem mulheres que ocuparam os tronos, ampliando o domínio dos reinos e fazendo a grandeza de alguns povos. Na nossa história encontramos Maria Quitéria, Anita Garibaldi e outras anônimas que a história não revelou, sem citar os milhões que, no silêncio do lar, cuidam da família e dos filhos, preparando-os para as lutas em benefício da pátria.

Em 1961, quando fui diplomado médico pela Faculdade de Ciências Médicas (RJ), a turma tinha cerca de 120 alunos, apenas 6 mulheres. Hoje, quando recebo o convite de formandos em medicina, percebo que as mulheres representam mais de 50%. Fico feliz com a certeza de que a medicina será mais humanizada e sensível conforme o temperamento feminino.

Na política, a presença da mulher ainda é tímida. Já vimos a presença firme de Margaret Thatcher, que permaneceu como Primeira Ministra do Reino Unido durante 11 anos, conduzindo com acerto a política inglesa.

Na Alemanha, acompanhamos a presença firme de Angela Merkel, também como Primeira Ministra, durante 16 anos, dirigindo com inteligência a administração germânica.

No Brasil, a presença política feminina ainda é mínima, todavia, pouco a pouco, e com grande paciência, ela vai aumentando; vão aparecendo as senadoras, as deputadas e vereadoras, enquanto no poder executivo ainda esse número é menor.

Em Cantagalo, a Câmara Municipal tem, vez por outra, uma vereadora, o que não passa de 10%. É necessário um número maior de candidatas do sexo feminino, a fim de corrigir essa desigualdade.

Para o executivo, as mulheres estão mais animadas. Creio que, dessa vez, uma chegará à chefia do município de Cantagalo, que terá sua primeira prefeita.

Grande será a responsabilidade e enorme a cobrança. Será necessário coragem, firmeza e muita fé!

 

Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo
Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo

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