“Augusto Brandão Filho: um príncipe cantagalense”, por Celso Frauches

Augusto Brandão, Barão de Cantagalo

Augusto Brandão Filho é um cantagalense, médico, neurocirurgião, denominado pela Academia Nacional de Medicina como o “Príncipe da Cirurgia Brasileira”.

Em 1979, outro cantagalense dos melhores, Edmo Rodrigues Lutterbach, publicou vários artigos sobre essa personalidade ímpar da cirurgia brasileira. Nesse mesmo ano, ele reuniu esses artigos em um livro – Augusto Brandão Filho – Príncipe da Cirurgia Brasileira. Este texto tem por base esses artigos e mais a biografia desse ilustre cantagalense na Academina Nacional de Medicina (ANM), no Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC) e na Wikipédia, que podem ser acessadas por qualquer cidadão, além de outras informações esparsas em publicações médicas. Mas quem foi Augusto Brandão Filho?

"Augusto Brandão Filho: um príncipe cantagalense", por Celso Frauches
Augusto Brandão Filho quando ingressou para a Academia Nacional de Medicina

Augusto Brandão Filho nasceu em Cantagalo, em 19 de maio de 1881, filho de Augusto de Souza Brandão – médico, político e fazendeiro – e Leocádia Freire de Faria Salgado Brandão. Augusto de Souza Brandão foi agraciado com o título de Barão (2º) de Cantagalo, por Decreto de 24 de fevereiro de 1883, era filiado ao Partido Liberal e proprietário da Fazenda Sant’Anna, situada no 1º distrito (Cantagalo). Essa fazenda hoje está nas mãos de Renato Leite Monnerat Lutterbach. De um português para as mãos de descendentes suíços, que migraram de Nova Friburgo para Cantagalo.

Na edição de 23 de fevereiro findo, o JR noticiou que a Câmara Municipal de Cantagalo aprovou, na sessão do dia 16 de fevereiro de 2022, o projeto de Resolução nº 2/2022 de autoria do vereador Matheus Arruda (PP) que cria a Condecoração Barão de Cantagalo.

Matheus Arruda justifica que “A escolha do Barão de Cantagalo é devido à sua forte influência na produção agrícola do Município. Graças a ele e outros Barões, o Município teve relevância nacional, de modo que o centro de gravidade da produção fluminense se deslocou do setor ocidental da bacia do Paraíba para o setor oriental, encabeçado por Cantagalo”.

O nosso homenageado desta semana tem, portanto, raízes na agricultura e na medicina. Era filho e neto de um Barão com importância na sociedade e no setor agrícola em Cantagalo.

Augusto Brandão Filho foi médico neurocirurgião e um dos precursores da neurocirurgia em nosso país. Formou-se na Faculdade Nacional de Medicina, em 1903, com a tese Hérnia perinal posterior. Antes, em 1900, diplomou-se em Farmácia.

A partir de 1903, exerceu, sucessivamente, à docência em Clínica Ginecológica, por concurso, assistente interino, docente livre da Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1914, assistente efetivo, em 1919. Foi alçado à categoria de catedrático, o mais elevado cargo na carreira docente de então, em 1925.

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Antigo armazém da Fazenda Sant’Anna

Dirigiu, por muitos anos, a 17ª e a 23ª enfermarias do Hospital da Misericórdia do Rio de Janeiro, foco de atenção de cirurgiões de vários países. Chegou a ser considerado, por seus pares, como um dos melhores cirurgiões de nosso planeta. Todas as cirurgias ali praticadas foram catalogadas num arquivo modelarmente iniciado por Daniel D’Almeida, em 1903, continuado seguidamente por Álvaro Ramos, Augusto Brandão Filho e Xavier Lopes. Sob a orientação de Brandão Filho, esse tradicional centro médico cresceu e evoluiu, ofertando à comunidade médica novos métodos para as cirurgias, em especial, a anestesiologia.

Foi catedrático por mais de trinta anos. Serviu nobremente à Medicina além de meio século. Influiu significativa, direta ou indiretamente, na formação de inúmeros cirurgiões que trabalharam como professores ou chefes de serviço, espalhados por este país continental.

Seu ensino sempre foi objetivo e o mais demonstrativo possível, evitando as divagações da erudição doutrinária. Seguiu, na certa, o método proclamado pelo notável Fraure, professor francês de conceito internacional que afirmava: “Il n’y a pas de science plus objective que La chirurgie. Les discours n´aprennent rien, les livres peu de chose; Il faut voir” (Não há ciência mais objetiva que a Cirurgia. Discursos não ensinam nada, livros pouco; devemos ver.). Devemos ver, sentir para o fazer mais perfeito que o ser humano conseguir chegar.

Foi um dos fundadores do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e seu presidente ente 1929 e 1931, membro da Sociedade Internacional de Cirurgia, American College of Surgeons e outras instituições de renome na área da neurocirurgia.

 

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Sede da Fazenda Sant’Anna, onde nasceu Augusto Brandão Filho

 

Foi eleito Membro Titular da Academia Nacional de Medicina em 1922. Sua posse ocorreu em 1923. É o Patrono da Cadeira 27. É ainda Patrono da Cadeira 73 da Academia Brasileira de Medicina Militar.

O Dr. Brandão Filho foi um dos principais artífices dos planejamentos iniciais para a construção da Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, sendo representante docente no Conselho Universitário da Universidade do Brasil junto ao órgão encarregado de sua realização, mais tarde denominada Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Liderou a construção do Hospital das Clínicas, um dos seus grandes sonhos de Mestre da Medicina.

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

São de sua autoria vários trabalhos publicados, com destaque para “Sondas de demora ureterais” (1911), “Sobre uma questão de técnica do cateterismo dos ureteres” (1913), “Raquianagelsia geral” (1914), “Um caso de cálculo renal” (1915), “Flebectomia” (1916), “Estudo médico cirúrgico do fleimão perinéfrico na infância” (1918), “Quisto da hipófise; ventriculografia e intervenção cirúrgica por via frontal” (1924), “Tumores do encéfalo – Algumas observações comentadas” (1927), “Clínica cirúrgica” (1930).

Augusto Brandão Filho foi um dos mais hábeis cirurgiões de seu tempo, com fino espírito científico. Foi o primeiro brasileiro a ir além da cirurgia do trauma e tentar o tratamento cirúrgico dos tumores cerebrais. Outra proeza: o primeiro a realizar no Brasil a ventriculografia e a angiografia cerebral. Seu nome está entre os cirurgiões mais importantes da história da cirurgia no Brasil. Um cantagalense que foi muito além de nossas fronteiras, deixando marcas indeléveis e promissoras nos meios da neurocirurgia na primeira metade do século 20. Mas quase desconhecido em nossa Cantagalo. Mais um! Ele foi um gênio que percorreu os caminhos sublimes da ciência médica.

Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

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Um Comentário

  • Prezado Celso,
    Pesquiso sobre o maestro Presciliano José da Silva, que residiu em Cantagalo no século XIX. Foi o 1º maestro da Campesina Friburguense é membro da lija maçônica de Cantagalo. Casou-se com Emelie Sauerbronn que também residiu em Cantagalo. Procuro qualquer informação sobre sua trajetória enquanto viveu em Cantagalo. Se puder me ajudar com alguma informação fico agradecida. Ele compôs uma masurka (para piano) de nome Autora para Leucadia, citada neste artigo. Desde já agradeço a atenção. Obrigada!

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