“Boa Sorte: um lugar pra se viver”, por Celso Frauches

Boa Sorte – vista aérea

Boa Sorte foi promovido a 5º distrito do município de Cantagalo, RJ, em 2 de setembro de 1924. Anteriormente, pertencia ao distrito de Santa Rita do Rio Negro, mais tarde Euclidelândia.

Boa Sorte - 1920
Boa Sorte – 1920

Santa Rita do Rio Negro era, antes de 1924, o maior distrito de nosso município, um celeiro de produção de grãos e laticínios, ao Norte de Cantagalo, 203 m acima do nível do mar. Esse distrito é atravessado pelo Rio Negro, uma das fontes de ouro na garimpagem de Manoel Henriques, o Mão de Luva, fundador de Cantagalo, no século 18. Santa Rita do Rio Negro passou a Freguesia, nos termos do Decreto nº 272, de 9 de maio de 1892.

As fazendas históricas de Boa Sorte são conhecidas internacionalmente, construídas no século 19, com destaque para a Fazenda de Areias e São Clemente, esta com a sede totalmente restaurada por seu atual proprietário, Marcello Monnerat.

Capela Santo Antônio - Boa Sorte
Capela Santo Antônio – Boa Sorte

O Álbum das Fazendas de Cantagalo, de Sebastião A. B. Carvalho e Rosa Maria O. Werneck Rossi de Carvalho (No Friburgo, RJ: In Media, 2020), tem amplas informações sobre as fazendas históricas de Cantagalo. Nele, vê-se que as fazendas de Boa Sorte são em maior número, além do patrimônio arquitetônico ímpar em Cantagalo.

As outras fazendas localizadas no distrito de Boa Sorte são também históricas: Fazenda de Areias, seus proprietários foram o Barão de Nova Friburgo (1840), Conde de São Clemente, Baronesa de Rio Bonito, embaixador Antônio Clemente Pinto, Edgard Faro de Carvalho; Fazenda Bemposta, de Jairo Roberto Marques da Fonseca; Fazenda Boa Sorte, de José Maria Faria e Norma dos Santos Faria; Fazenda Cannaã, antes parte da Fazenda Itaoca, de propriedade de Liliane de Abreu dos Santos e Francisco Antônio Ismério dos Santos; Fazenda Itaoca, de Roberto Ribeiro Cantelmo; Fazenda Pouso Alegre, de Antônio Geraldo Moura Lima; Fazenda Santa Thereza, de Sebastião Faria; Fazenda Sant’Anna de Pouso Alegre, de João Carlos da Silveira Loureiro; Fazenda São Cristóvão, de Jairo Roberto Marques da Fonseca; Sítio Guarapiranga, do meu querido amigo Tarcísio Fonseca.

Boa Sorte - Estação da Leopoldina - 1920
Boa Sorte – Estação da Leopoldina – 1920

Boa Sorte, desde o século 19 até meados do século 20, foi servida pelo Ramal Férreo de Cantagalo, mais tarde, Linha de Cantagalo, quando passou para a Estrada de Ferro Leopoldina. A extinção desse ramal, mais à frente substituído pela rodovia, abalou a exportação da produção agropecuária de Boa Sorte e Euclidelândia.

Uma das versões para a origem do nome do distrito de Boa Sorte está ligada ao fato dele ter sido criado nas terras pertencentes à antiga Fazenda Boa Sorte. Essa, por sua vez, teve a origem de seu nome ligada ao ciclo da mineração do ouro que era abundante na região. O ouro de aluvião era explorado por Manoel Henriques, o Mão de Luva, nos “Sertões de Macacu” ou Cantagalo. O Rio Negro era dos mais abundantes para a garimpagem desse tipo de ouro. Mão de Luva, sempre que expedia uma turma para garimpar o ouro de aluvião, desejava-lhes “Boa Sorte”.

Mais tarde, o café e a construção da Estrada de Ferro Cantagalo motivaram o povoamento da região.

Boa Sorte - Chapéu do Imperador
Boa Sorte – Chapéu do Imperador

No último dia 26 de março, eu e minha esposa, Angela, estivemos em Boa Sorte, para conhecer o Museu Hemyr Gil Caetano, criado e ao abrigo da Almek Center, uma loja de eletrodomésticos, inigualável na região.

Guiados por Elba Mendonça, visitamos as dependências da loja e do museu. Elba descreveu todas as peças do museu, com algumas raridades. Há diversos instrumentos usados pelos fazendeiros da região, na tortura aos africanos por eles comprados em leilão, na então Província da Rio de Janeiro e Minas Gerais. Pudemos conhecer a história da família dos fundadores da loja, desde o início da trajetória dos empreendimentos que ajudam ao desenvolvimento econômico de Boa Sorte, com excelente contribuição para a preservação da memória do distrito. Tomamos ciência de que o Cel. Custódio Marques Ferreira, que doou terras para a vila e foi prefeito de Cantagalo, quando no exercício desse cargo, desmembrou-a do Distrito de Santa Rita do Rio Negro, em 2 de setembro de 1924. Fato que deu a Boa Sorte condições de progresso socioeconômico, colocando-o, em seguida ao 1º distrito, como um dos maiores produtores de leite do município, além de um rebanho bovino expressivo, para corte ou venda.

O prefeito Guga de Paula deu a Boa Sorte a sede da Administração Distrital, um novo colégio, praça reurbanizada e ruas calçadas, de paralelepípedos, seguindo o planejamento urbano próprio para a bucólica Boa Sorte.

Caminhos do Imperador, em Boa Sorte
Caminhos do Imperador, em Boa Sorte

A Almek tem uma história sempre ligada a Boa Sorte. Um de seus empreendimentos turísticos, o Caminhos do Imperador, interrompido em 2020 por causa da pandemia causada pelo vírus chinês, trouxe para Boa Sorte a atenção de turistas do Brasil e do Exterior. O projeto seguiu a rota que o Imperador D. Pedro II e a Família Imperial fizeram por várias vezes quando visitavam fazendas cafeeiras, em especial a Fazenda São Clemente, que tem um farto acervo que registra a passagem do Imperador e sua família por aquela propriedade, incluindo uma rica prataria importada, com o brasão real e talheres de prata com o mesmo registro. A vivência nessa rota era de um dia. Os turistas faziam esse mesmo percurso, com destaque para a Pedra Chapéu do Imperador, a Fazenda Santa Rita e uma reserva de quilombolas.

Espera-se que, depois da pandemia, que já concluiu o seu ciclo, o idealizador e realizador dessa jornada turístico-cultural, Mezak Gualberto, ao lado do irmão Alandark, volte a promover o Caminhos do Imperador, em nova fase, para a alegria dos turistas, que têm saudade do evento.

Constatamos que Boa Sorte é um recanto de paz, tranquilidade, bucólica, ideal para pessoas que querem fugir dos ensurdecedores barulhos das cidades grandes e ter uma vida plena. Há uma igreja tradicional, colégio estadual, escola municipal, a sensacional loja Almek Center e muito mais. É ver pra crer!

 

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

 

Ver anterior

Artesãs de Carmo se destacam no programa Domingão com Hulk, da TV Globo

Ver próximo

Através de emenda impositiva, vereadores garantem uma nova van para o transporte de pacientes em Cantagalo

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Populares

error: Conteúdo protegido !!