“Bom Jardim & Cantagalo: ligação histórico-geográfica”, por Celso Frauches

Chegamos a ser Vergel:
Flores e frutos sem fim…
Sempre foi nosso papel
Ser mesmo este Bom Jardim!

A cidade de Bom Jardim sempre me atraiu, em particular a rua central. Por ali circulavam os comboios da Estação de Ferro Leopoldina. Os trens sempre trazem uma visão romântica dos “bons tempos” em que neles viajamos para visitar parentes e namoradas. Apesar das horas de viagem e das fagulhas com que éramos premiados pela locomotiva soltando fumaça e fogo sobre nós. Quando morava em Niterói, a partir da metade dos anos 50 e início dos anos 60, vinha a Cantagalo para as tradicionais visitas e participava dos festejos típicos da cidade, como a Festa dos Carecas, de saudosa lembrança. Gostava dos poucos momentos em que ficávamos na gare e lojas locais.

Quando residi em Cantagalo, em particular, entre os anos 1959 e 1966, um dos períodos mais felizes da minha vida, participava ativamente, entre 1963/66, das atividades das equipes de futebol de Cantagalo, em torneios ou campeonatos organizados por Joel Naegele, como presidente da extinta Liga de Futebol de Cantagalo. Eu era torcedor do Flamenguinho, embora seja tricolor carioca. Ia a Bom Jardim sempre que havia jogos entre o time local e o Flamenguinho ou o Cantagalo E.C. Eram momentos de alegria, mesmo nas derrotas. A cidade me convidava à paz.

Maria FumaçaDurante três anos, morando em Brasília, fui colunista do jornal online A Verdade, comandado pelo amigo Sebastião Carvalho. Relembro agora alguns temas, que poderei desenvolver na vigência desta coluna, graças à bondade do amigo Célio Figueiredo.

O município de Bom Jardim tem suas origens em terras dos municípios de Cantagalo, mais tarde passou a pertencer ao município de Nova Friburgo. Antes, todavia, também o território do município de Nova Friburgo integrava a área política e geográfica de Cantagalo, os “Sertões de Macacu”. Nova Friburgo foi desmembrado de Cantagalo para abrigar os imigrantes suíços, ao final da segunda década do século 19, na Colônia Nova Friburgo.

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

Os suíços atraídos para essa aventura na América do Sul, não encontraram, nas áreas que lhes foram destinadas, ambiente favorável para desenvolverem suas atividades agropecuárias. Grande parte migrou para Cantagalo, em especial, para a região São Sebastião do Paraíba, com o cultivo de café. Posteriormente, “à procura de novas terras, irão participar da valorização de vários municípios dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo”, como assinala Martin Nicoulin na apresentação do livro Imigrantes – A saga do primeiro movimento migratório organizado rumo ao Brasil às portas da independência, de autoria do médico, escritor e pesquisador cantagalense Henrique Bon (Nova Friburgo, RJ: Imagem Virtual, 2004). Bom Jardim foi um dos destinos dessa migração dos colonos suíços.

Bom Jardim e Cantagalo foram altamente beneficiados com essa migração de suíços e, posteriormente, alemães que contribuíram significativamente para o desenvolvimento dessas regiões. A esses empreendedores do início do século 19 muito devem esses e outros municípios fluminenses e capixabas.

Bom Jardim tem sua história ligada à colonização suíça, a partir de 1819. Distante de Nova Friburgo poucos quilômetros, recebeu em seu solo imigrantes suíços insatisfeitos com as condições de vida na Colônia de Nova Friburgo. Os Ballonecker, Bercot, Bohrer, Brust, Emerich, Erthal, Heckert, Marchon, Marfurt, Miller, Monnerat, Shott, entre outros, e seus descendentes, ao lado de descendentes de imigrantes franceses, libaneses e portugueses, estão intimamente ligados à história e ao desenvolvimento do município de Bom Jardim.

A saga dos Gruériens, contada por Dulce Tardin Erthal
A saga dos Gruériens, contada por Dulce Tardin Erthal

Ao ler o livro da cantagalense Maria Dulce Tardin Erthal (ERTHAL, Dulce Tardin. Aventuras e desventuras de uma família gruérien – Os Tardin. Bom Jardim, RJ: 2ª ed. rev. e ampl.), fiquei sabendo das origens da família Tardin, muito querida em Cantagalo, desde o Cantão de Vaud, de onde também veio o patriarca de minha família – Jean Abram Frauche.

Com a sua alma de pesquisadora e de artista, no Conselho Municipal de Cultura ou na Academia Bonjardinense de Ciências, Letras e Artes ou em outras atividades, Dulce Tardin Erthal tem sua vida umbilicalmente ligada a Bom Jardim, onde construiu uma família com o seu esposo, Celso Tardin Erthal, também descendente de suíços e com extraordinária folha de serviços prestados a Bom Jardim e a sua gente, juntamente com seus filhos, Raimundo e Everardo.

A saga dos Gruériens, contada por Dulce Tardin Erthal, oriundos da região de Gruyère, e de tantos outros bravos suíços em busca do eldorado brasileiro, radicados em Nova Friburgo, descreve “aventuras e desventuras” em “um dos mais dramáticos movimentos migratórios dos tempos modernos”.

A saga de outros migrantes suíços a Bom Jardim ainda será contada. Voltarei ao assunto em breve.

Cantinho da poeta Amélia Thomaz
A trova
Se a saudade me atormenta
E o crisol da dor me prova,
Meu coração se lamenta
Nas rimas de minha trova.

(Extraído do livro Alaúde (Cantagalo, RJ: Ed. Autor, 1954, p. 16)

Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

 

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