Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Mata idêntica à encontrada por Mão de Luva no vale onde está situada a cidade de Cantagalo. Tela de Rugendas
Cantagalo foi uma visão de Mão de Luva: muito ouro nos rios, verde intenso nas matas e um manto azul a coroar tudo, iluminado, de dia pela luz do sol, e à noite por miríades de estrelas faiscando…
Segundo pode se depreender das pesquisas de Sebastião Carvalho e Rodrigo de Oliveira, Mão de Luva, esgotadas as minas auríferas da região de Guarapiranga, hoje Piranga, nas Minas Gerais, migrou com os seus irmãos, outros garimpeiros, escravos e libertos, para o então desconhecido “sertões de índios bravos”, mais tarde Sertões de Macacu e Novas Minas de Cantagalo.
Saindo de Guarapiranga/MG, atravessou os rios Pomba e Paraíba do Sul, este no povoado de Porto do Cunha, e veio abrindo trilhas pela mata densa. Ao chegar a determinado ponto, encontrou dois rios e uma entrada para o vale, por onde corria um riacho, com pequeno espaço entre aos morros, na entrada.
Resolveu acessar o vale, abrindo picadas nas margens do citado riacho, mais tarde conhecido por “Mão de Luva”. Era o lugar ideal para construir um povoado, tendo em vista a fartura de madeira, de sapé, de água e livre dos aventureiros que passassem por perto, tendo em vista o difícil acesso. Ali, ele foi como Moisés: viu a Terra Prometida e tudo que viria quando ali entrassem e nela trabalhassem, vivessem, lutassem. Será que Mão de Luva também viu o invisível? Ali seria a Cantagalo do futuro…
Esse local, a partir de 1786, passou a ser denominado Novas Minas de Cantagalo, reconhecido pelo Reino Unido, Portugal, Brasil e Açores como distrito do município de Santo Antônio de Sá. Mais tarde, sucessivamente, vila São Pedro de Cantagalo e Cantagalo.
Mão de Luva e seus companheiros de garimpagem exploraram ouro de aluvião, praticamente em todos os rios e riachos da região serrana fluminense.
O rio Dois Rios é formado pela confluência do Rio Negro com o Rio Grande, junto à divisa dos municípios de São Fidélis, Itaocara e São Sebastião do Alto, e deságua no rio Paraíba do Sul, sendo um de seus principais afluentes pela margem direita.
A área de atuação do Comitê Rio Dois Rios corresponde ao território da Região Hidrográfica Rio Dois Rios (RH-Rio Dois Rios ou RH-VII), que se situa ao longo da região central fluminense até a região norte. Essa Região Hidrográfica corresponde às bacias dos rios Negro, Dois Rios e do Córrego do Tanque, bem como à bacia da margem direita do Médio Inferior do rio Paraíba do Sul, cujos rios principais são o Bengalas, Negro, Grande e Dois Rios, com foz no município de São Fidélis. Outros cursos d’água relevantes dessa Região: Ribeirão das Areias e o Rio do Colégio. Dela fazem parte os municípios de Bom Jardim, Cantagalo, Cordeiro, Duas Barras, Itaocara, Macuco, São Sebastião do Alto, integralmente e, parcialmente: Carmo, Nova Friburgo, Santa Maria Madalena, São Fidélis e Trajano de Moraes¹.
O mapa de atuação do Comitê Rio Dois Rios² nos dá uma visão do trajeto dos rios explorados por Manuel Henriques e seus companheiros de garimpo. Esse mapa mostra, claramente, os caminhos de Mão de Luva após estar fixado no local onde está a cidade de Cantagalo, percorrendo os rios citados, do atual município de Nova Friburgo ao de São Fidélis.
Para os que ainda tratam o garimpeiro Manuel Henriques como um bandoleiro, assaltante, como a Rede Globo, que adulterou a figura do fundador de Cantagalo, e os documentos pesquisados por Sebastião Carvalho e Rodrigo Oliveira, tenho uma entrevista de Oliveira, à jornalista e produtora de TV, Janaína Botelho³, na qual ele faz um perfil do Mão de Luva. Oliveira considera o garimpeiro um líder nato, inteligente, com extraordinária tenacidade, capacidade de realização, de relacionamento pacífico, por exemplo, com o governador das Minas Gerais, Luiz da Cunha Menezes, com os índios da região, os comerciantes de Porto do Cunha e localidades próximas, onde ele e seus liderados adquiriam produtos para o consumo dos moradores do povoado. Ele conseguiu formar uma grande rede de poder, comparado a uma espécie de prefeito dos “sertões dos índios bravos” ou Sertões de Macacu, como era mais conhecida a região dominada por ele. Quando o povoado foi destruído, em 1786, havia cerca de duzentas moradias, ocupadas pelos mineradores, as esposas, filhos e agregados.
Convém esclarecer que o uso de armas por Mão de Luva e seus colegas de garimpo era necessário, porque ele administrava uma área devoluta, sem dono registrado nos órgãos oficiais do Império, sujeita ao ataque de ladrões e aventureiros. Como, por exemplo, acontece hoje, com os grandes empresários, bancos, etc. Estes não usam armas, mas têm uma rede de proteção “armada até os dentes”.
Para o turismo, os Caminhos de Mão de Luva permitem uma gama de projetos, ainda inexplorados, entre Ipiranga (MG) e os municípios da região serrana, incluindo São Fidélis.
¹ Disponível em: http://www.inea.rj.gov.br/Portal/Agendas/GESTAODEAGUAS/InstrumentosdeGestodeRecHid/PlanodeRecursosHidricos/DoisRiosAgendaAzul/index.htm. Acesso em: 2 jan. 2023.
² Disponível em: https://www.cbhriodoisrios.org.br/area-atuacao.php. Acesso em: 2 jan. 2023.
³ Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=20Xj1l3APX4. Acesso em: 4 jan. 2021.