Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Acorda. Faz o café. Veste a roupa para o trabalho. A casa está desarrumada. O tempo corre, é preciso chegar cedo e começar logo a agenda de trabalho.
O bom é não pensar muito. Cansa demais. A música ajuda a distrair a caminho da oficina. O WhatsApp, a todo vapor, dá a sensação de produtividade. Nas pausas, o feed interminável do Instagram: produza, sorria, seja otimista, repita um mantra. Está chovendo? Agradeça, é bênção. Cocô de passarinho? Dizem que é sorte, agradeça mais uma vez.
A torrada matinal com creme de abacate foi esquecida. Precisamos ser saudáveis, aí está a felicidade. E agora?
Na agenda lotada, é preciso encaixar o rótulo de fitness. Agachamento, corrida, spinning. Bem que o dia poderia ter 48 horas. Ainda é preciso sentar à mesa com a família para jantar, todos sorrindo.
Fotos para o Instagram da alegria compartilhada! Não ficou boa, tiremos outra… e outra… e outra. Não importa, o filtro ajudará.
O corpo alerta para a necessidade de descanso. À cama! Porém, a mente não colabora. Lá vem novamente o ciclo de pensamentos futuristas sobre o dia seguinte, a semana seguinte, o mês seguinte. No entanto, o seguinte nunca chega, sempre sucedido pelo próximo momento.
Vivemos a ditadura da produtividade. Da felicidade. Do otimismo.
Como se está? Ah, muitíssimo bem. Estão todos sempre bem.
Aliás, você sabia que o Brasil, no tema Ansiedade, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é um dos países mais ansiosos do mundo. Uma grande parcela sofre com a depressão. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou que 72% dos brasileiros padecem por doenças relacionadas ao sono, entre elas, a insônia.
Onde estão todos, que, rotineiramente, respondem “Estou bem“? Os 10 passos para uma vida feliz não deram certos. Os gurus falharam.
O filósofo Byung-Chul Han popularizou o conceito da sociedade do cansaço, que permeia a vida diária de muitas pessoas. A sociedade contemporânea sofre com a constante pressão de serem as pessoas produtivas, eficientes e bem-sucedidas, resultando em um estado de exaustão e esgotamento.
Embora auxilie em muitos aspectos, a tecnologia moderna também cria a necessidade de estar-se, a todo momento, online, conectado e atualizado. Aumenta-se, e muito, a pressão por uma boa performance no trabalho e a busca incessante de reconhecimento e sucesso.
É possível parar? Qual foi a última vez que contemplamos ao redor? O tempo corre, é preciso ter sucesso. Apesar de tão almejado, será que sabemos o que significa o sucesso, terminologia tão individual?
Para alguns, a vida boa pode ser em uma casa, em frente à praia. Para outros, a possibilidade de viajar pelo mundo.
Há aqueles que encontram a realização no trabalho. Em uma recente peça teatral, “A Voz do Silêncio”, Helena Blavatsky ensinou: “Muitos falavam que eu perdia a vida trabalhando. Porém, estavam enganados. É no meu trabalho que eu a encontro”.
Determinadas mulheres sonham ser mães. Outras, nem tanto. Alguns casamentos não possuem tanta pompa. Há aqueles que parecem um grande réveillon.
A vida do campo e a vida em grandes cidades são distintas. Qual delas está correta? Sair da roça para o mundo ou da metrópole para o interior?
Em meio a um turbilhão de influências internas, a individualidade do ser humano se dissolve. Do que se gosta mesmo?
Talvez a humanidade nunca tenha tido tanta necessidade de olhar para dentro de si. Relegar a bússola do Instagram e usar mais o compasso do coração. Em qual lugar nos sentimos realmente bem? O que é sucesso?
Um Comentário
Mais uma vez Amanda nos presenteia com a sensibilidade de seus pensamentos! Parabéns !! Lindo texto!!