Cantagalense, que mora no Canadá há seis anos, conta a experiência de morar fora do Brasil

Numa entrevista exclusiva para o JORNAL DA REGIÃO, a cantagalense Belquíria Campanati Oliveira, que mora no Canadá há seis anos, conta sua experiência de morar fora do país. Ela conta sua experiência e compara as diferenças entre o Brasil e o Canadá. Só para ter uma ideia, a neve começou no dia 24 de dezembro no Canadá e a temperatura caiu mais que o normal. No dia 26 de dezembro, chegou a 15 graus negativos. Belquíria dá algumas dicas para as pessoas que pretende mudar para outros países.

 

JORNAL DA REGIÃO – Quando e porque decidiu mudar para o Canadá?

Belquíria Campanati – Decidi vir pro Canadá em outubro de 2015 e vim em Janeiro de 2016. Amo mudanças, descobrir novos lugares e novas pessoas. Morar fora era um sonho, busquei desde muito nova morar fora de Cantagalo, morar fora do Rio, morar fora da Região Sudeste e depois morar fora do país. Acredito que foi um caminho natural a partir das escolhas que fui fazendo na vida. Também a oportunidade/necessidade de aprender uma nova língua foi um dos maiores motivadores. Depois que cheguei aqui, descobri que aprender a língua é um pequeno pedacinho de tudo que realmente aprendemos: novas culturas, novas leis, novas diferenças, novo clima, novas comidas, novas faces, novas paixões.

 

JORNAL DA REGIÃO – Há quanto tempo mora aí? No Brasil, você morou por quantos anos?

Belquíria Campanati – Moro em Vancouver, no lado oeste do Canadá, há 6 anos. Morei antes em vários lugares no Brasil, até os 50 anos.

 

JORNAL DA REGIÃO – Me fale sobre esta questão da neve? Como é sair de um país quente e ir para outro que tem neve no momento?

Belquíria Campanati – Vim para o lado oeste e só aqui descobri que Vancouver tem o melhor clima do Canadá. As temperaturas variam entre -5 e 25 graus. A neve, nesse lado do país, só cai por poucos dias, entre Dezembro e Janeiro. Esse ano esta sendo atípico. A neve começou no dia 24/12 e a temperatura caiu mais que o normal (-15° C em 26/12).

Quando chegamos aqui, vindos do Brasil, nos dois primeiros anos, o frio e a neve são pura magia, tudo é lindo e o encantamento com o diferente não deixa a gente se incomodar com as dificuldades. Depois disso, a maioria dos brasileiros e outros latinos reclamam de ter que usar tanta roupa, de levar tombo na rua, de ter que trocar os pneus do carro para neve, de ter que limpar neve na calcada. Este não e o meu caso. Continuo encantada. O fato de termos 4 estações do ano muito bem definidas, com muitas flores na Primavera, praia e lagos cor de turquesa no verão, folhas laranjas no outono e neve no inverno, faz parecer que vivemos em um lugar novo ha cada 3 meses. Isso me encanta!

 

JORNAL DA REGIÃO – Soubemos que recentemente esteve no Brasil a passeio? Veio visitar seus parentes?

Belquíria Campanati – Depois que vim pra cá, estive de volta em Cantagalo em 2017, em 2019 e em Novembro de 2021. Sempre com o maior e principal objetivo de ver minha mãe, D. Ereny, que é a base de tudo e responsável por tudo que sou e conquistei. Recarregar minhas energias com o amor dela e das minhas irmãs Blanche e Brandaly e meus irmãos, sobrinhos, primos e amigos. Tinha planejado a ida em 2020, mas a Pandemia não deixou. Um fator que dificulta a ida com mais frequência é que o meu filho também não mora no Brasil, assim preciso alternar as ferias (que no Canadá são bem menores que no Brasil) entre ver o filho, em algum lugar do mundo, e ver a família no Brasil.

 

JORNAL DA REGIÃO – Fale um pouco de seus parentes na região? Você nasceu aonde, em qual cidade da região?

Belquíria Campanati – Eu sou de São Sebastiao do Paraíba, 4º Distrito de Cantagalo, morei lá até os 6 anos, depois morei em Cantagalo até os 19, quando saí pra fazer faculdade.

Papai é o “Seu Juarez Mineiro”, que já se foi, era agropecuarista famoso do Paraíba. Minha mãe Ereny Campanati é costureira e bordadeira e mora atrás do Asilo em Cantagalo. Tenho 6 irmãos e hoje 4 deles moram na região: Brandaly, Blanche, Herbeth e Luiz. No Rio, moram o Ercoles e o Everton.

Tenho incontáveis sobrinhos e sobrinhos-netos e primos por parte de mãe e de pai, em Cantagalo e Região.

 

JORNAL DA REGIÃO – Comparando Brasil e Canadá, onde é melhor morar?

Belquíria Campanati – Eleitos por órgãos reconhecidos internacionalmente, o Canadá e também Vancouver, estão no topo da lista dos melhores lugares no mundo pra se viver. Isso responde a maioria das dúvidas quando se compara países. Mas “qualidade de vida” pode ter um significado muito pessoal: falando da minha visão, eu só tenho boas experiências aqui. O Brasil tem muitas coisas boas, mas às vezes uma coisa ruim faz todo o resto perder o valor. Uma pena!

Sou brasileira, mas não amo o Brasil, eu amo os brasileiros que me cercaram enquanto estive ai e que me amam independente de onde eu viva.

Eu também não amo o Canadá, mas gosto muito, muito, de viver no Canadá, porque a maioria dos itens que compõem meu conceito de “qualidade de vida”, eu tenho aqui. E essa qualidade de vida não vem de graça, ela me é proporcionada pelos impostos que pago, que são bem altos. Mas pago feliz, de ver o retorno no momento que coloco o pé na rua, no metrô, no ônibus, na policia, no hospital, na saúde publica, na escola, nos asilos, etc.

Também pago caro com a saudade da casa da mamãe, da comida dela, do pastel, do pé-de-moleque.

 

JORNAL DA REGIÃO – É verdade que no Canadá tem muito emprego?

Belquíria Campanati – É verdade, tem muito emprego e falta muita gente, falta médico, falta engenheiro, falta babá, falta cozinheiro, falta mão de obra. Mas mesmo assim o país mantém um processo rígido para receber estrangeiros, dando preferência sempre para os falantes de inglês e francês e os melhores qualificados, nos processos de imigração.

 

JORNAL DA REGIÃO – Sobre a questão política, como é no Canadá? Igual ao Brasil? Qual sua avaliação dos políticos brasileiros e canadenses?

Belquíria Campanati – Na politica, os dois países parecem dois mundos diferentes. No Canadá, o sistema é parlamentarista, governado atualmente pelo Partido Liberal. Temos 2 grandes partidos, os Conservadores e os Liberais, ambos “Partidos de centro-esquerda”, se compararmos com as visões esquerda/direita que temos no Brasil hoje. Nenhum deles diverge radicalmente nos pontos principais como Educação, Saúde, Segurança, que aqui são todas públicas e universais, para todos os cidadãos. Os estados (províncias) e os municípios são mais autônomos e independentes que no Brasil e a administração é mais local.

A corrupção politica existe, mas num nível que parece minúsculo se compararmos com o Brasil. E percebo que não discutimos politica quando no dia a dia as coisas funcionam, os serviços públicos existem e são eficientes.

O país tem muitas regras e leis, como no Brasil, mas aqui elas são seguidas. E se você não seguir, paga caro por isso. Não tem “jeitinho”!

 

JORNAL DA REGIÃO – Qual é o conselho ou dica você daria para as pessoas que pretendem mudar para outro país?

Belquíria Campanati – Dica 1: VÁ! Mesmo com medo, VÁ! Como explorador, não como turista. Mesmo que seja por 1 semana, 1 mês ou 1 ano. A experiência de sair do Brasil te transforma em outra pessoa. Abre sua cabeça para um mundo novo, muito diferente daquele que só vemos aí.

Fomos limitados pela língua a vivermos na nossa bolha. Precisamos ver o mundo, até para entendermos o que podemos fazer melhor pra nós mesmos.

Dica 2: Fale inglês e leia/assista conteúdos de outros países. Tem tudo grátis na internet. Isso mudará você.

 

JORNAL DA REGIÃO – Como estão sendo as festividades de fim de ano no Canadá? É igual ao Brasil?

Belquíria Campanati – As festas no Canadá são celebradas de formas diferentes de acordo com sua origem ou sua religião, afinal o Canadá e um país essencialmente de Imigrantes.

Nós brasileiros, os latinos, os italianos, filipinos e africanos fazemos festa com muita comida e música.

Os canadenses de origem inglesa e asiáticos são mais quietos e celebram em pequenos grupos de amigos.

Além do Natal, celebra-se o ano novo Chinês, o Ramadan dos Muçulmanos, o Nouruz (Ano Novo Persa) e alguns outros que nem aprendi ainda.

 

JORNAL DA REGIÃO – A comida no Canadá é muito cara? Quanto custa um quilo de arroz e de feijão neste país? É mais barato que no Brasil?

Belquíria Campanati – A comida aqui é mais barata que no Brasil e a qualidade é melhor para produtos industrializados ou pouco perecíveis. As frutas e verduras do Brasil são melhores e mais saborosas por causa do clima e da terra. Hoje 1 kg de arroz custa CAD$ 1,65 = R$ 7,34 e 1 kg de feijão custa CAD$ 2,80 = R$ 12,50 (não é um alimento comum aqui).

Não sei quanto custa no Brasil, mas para ter como referência, o salário mínimo aqui é CAD$ 2.000,00, o que permite a todos comer bem.

O que é muito caro aqui na cidade onde vivo é aluguel. Gastamos entre 30% e 40% do salário com moradia.

 

JORNAL DA REGIÃO – Como está a condução da Pandemia no Canadá?

Belquíria Campanati O Canadá, por ser um país com grandes reservas financeiras, foi um dos primeiros países a assinar contratos e comprar TODAS as marcas de vacinas.

Assim que foram liberados os testes, a Pfizer e Moderna foram as primeiras a serem aplicadas em massa. A AstraZeneca foi distribuída com restrições.

As regras sanitárias no meu estado e município foram impostas muito cedo e o controle foi bem mais tranquilo que na maioria dos outros estados e países.

Ainda estamos tendo casos recentemente com a ômicron, mas sem aumento de mortes e internações.

Não existe política ou consulta pública quando se trata de saúde. Quem define é o Ministério da Saúde de acordo com a decisão de especialistas de nível Prêmio Nobel.

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