“Cantagalo: celebração de datas históricas”, por Celso Frauches

A solenidade de inauguração do Marco do Centenário da Cidade de Cantagalo. Do lado direito do Marco, o governador Miguel Couto Filho. Do lado do dr. Júlio Santos, o deputado federal Miguel Couto Filho. Do lado esquerdo, o dr. Júlio Veríssimo faz o discurso oficial, tendo, do seu lado direito, Dalvan Lima e, do lado esquerdo, Milton Loureiro, repórteres, respectivamente, do Governo Fluminense e do Grande Jornal Fluminense, transmitido pela rádio Tamoio, na parte da manhã. (Acervo Instituto Mão de Luva).

A solenidade de inauguração do Marco do Centenário da Cidade de Cantagalo. Do lado direito do Marco, o governador Miguel Couto Filho. Do lado do dr. Júlio Santos, o deputado federal Miguel Couto Filho. Do lado esquerdo, o dr. Júlio Veríssimo faz o discurso oficial, tendo, do seu lado direito, Dalvan Lima e, do lado esquerdo, Milton Loureiro, repórteres, respectivamente, do Governo Fluminense e do Grande Jornal Fluminense, transmitido pela rádio Tamoio, na parte da manhã. (Acervo Instituto Mão de Luva).

Foto de capa: A solenidade de inauguração do Marco do Centenário da Cidade de Cantagalo. Do lado direito do Marco, o governador Miguel Couto Filho. Do lado do dr. Júlio Santos, o deputado federal Miguel Couto Filho. Do lado esquerdo, o dr. Júlio Veríssimo faz o discurso oficial, tendo, do seu lado direito, Dalvan Lima e, do lado esquerdo, Milton Loureiro, repórteres, respectivamente, do Governo Fluminense e do Grande Jornal Fluminense, transmitido pela rádio Tamoio, na parte da manhã. (Acervo Instituto Mão de Luva).

 

Em 2 de outubro de 1957, a Prefeitura, a Câmara Municipal e o Grêmio dos Amigos de Cantagalo (GAC), com sede em Niterói, então capital do antigo Estado do Rio de Janeiro, comemoraram, festivamente, com a presença do governador Miguel Couto Filho, secretários e assessores do governo estadual, do prefeito Henrique Luiz Frauches e seus auxiliares diretos, o centenário da cidade de Cantagalo.

A secretária da Prefeitura era a professora Maria de Lourdes Dietrich Gonçalves.

Esse evento ímpar era ou não para ser comemorado com toda pompa possível? A Prefeitura pouco gastou, a maioria das despesas correu por conta do GAC e do governo estadual, sob a coordenação do cantagalense Lizst Sá Vieira, do gabinete do governador.

Sem cobrar nada, o artista plástico cantagalense, Honório Peçanha, que conheci em uma visita que lhe fiz, no então distrito de Macuco, confeccionou o Marco do Centenário, erguido na praça Miguel Santos, recentemente reformada, ao lado da Prefeitura. Uma cena memorável.

 

Maquete do Marco do Centenário da cidade de Cantagalo, do artista plástico cantagalense, Honório Peçanha.
Maquete do Marco do Centenário da cidade de Cantagalo, do artista plástico cantagalense, Honório Peçanha.

 

Não ignorávamos o fato de o distrito de Novas Minas de Cantagalo ter sido criado em 1806. Muito menos que o município de São Pedro de Cantagallo tinha sido criado em 9 de março 1814, para onde migraram colonos suíços da Colônia Nova Friburgo pelas condições urbanas, na sede e no distrito de São Sebastião do Paraíba. A colônia de Nova Friburgo foi organizada por D. João VI, em homenagem aos alemães oriundos do cantão alemão de Freiburg, Suíça.

Nova Friburgo foi o primeiro torrão saído do município de São Pedro de Cantagalo, em 1818.

No ano em que Cantagalo comemorou o seu centenário como cidade, o município contava 142 anos de existência. E essa data não foi ignorada, como consta das publicações distribuídas durante o evento.

Passaram-se os anos e, em 1963, Henrique Frauches retorna ao cargo de prefeito. No ano seguinte, 1964, o município deveria comemorar o sesquicentenário (150 anos).

 

Festa comemorativa do centenário da cidade de Cantagalo. O prefeito Henrique Frauches coroa a Rainha do Centenário, Jaíra Gomes; as princesas: à esquerda, Elisa Ainda dos Reis e, à direita, Marisa Vollú. Foi o ato de encerramento dos festejos do dia 2 de outubro de 1957. (Acervo Instituto Mão de Luva)
Festa comemorativa do centenário da cidade de Cantagalo. O prefeito Henrique Frauches coroa a Rainha do Centenário, Jaíra Gomes; as princesas: à esquerda, Elisa Ainda dos Reis e, à direita, Marisa Vollú. Foi o ato de encerramento dos festejos do dia 2 de outubro de 1957. (Acervo Instituto Mão de Luva)

 

Os preparativos começaram, mas o Brasil estava envolto em uma revolta cívico-militar, liderada pelo então governador das Minas Gerais, Magalhães Pinto, banqueiro, da UDN, apoiado pelos governadores do estado de São Paulo, Ademar de Barros, do Partido Republicano Progressista (PRP), que se transformou no Partido Social Progressista (PSP). Recebeu apoio entusiasta do jornalista Carlos Lacerda, dono da Tribuna da Imprensa e líder político da extrema-direita, saído da extrema-esquerda.

E da grande imprensa – o complexo Globo, com TVs, rádios, jornais e revistas; o Estadão, tradicional diário paulista; e outros jornais de menor circulação.

Todos apoiaram a derrubada do presidente João Goulart, o popular Jango, do PTB. Ele não era esquerdista, era apenas um populista, estancieiro, detentor de grandes propriedades rurais nos pampas gaúchos e uruguaios. Um capitalista vitorioso.

O governador do Estado do Rio de Janeiro era Badger Silveira (PTB), irmão do saudoso líder trabalhista Roberto Silveira, morto em acidente da aeronave que iniciara o seu transporte da residência de verão – Petrópolis – para o Palácio do Catete. Badger não apoiou essa revolta. Por isso, foi cassado. Em seu lugar assumiu o general Paulo Torres, nascido em Cantagalo, assim como o seu irmão, senador Acúrcio Torres.

Não havia tempo nem ambiente para comemorações.

Essa é uma explicação e, se quiserem, uma justificativa de quem participou efetivamente das comemorações do centenário da cidade. Não sou palpiteiro. Sou jornalista e estou contribuindo para reescrever diversos momentos de nossa história que foram distorcidos ou não baseados em documentos oficiais.

O caso Mão de Luva é um deles. Tenho absoluta certeza de que o garimpeiro Manuel Henriques, o Mão de Luva, é o fundador de Cantagalo, ante os documentos oficiais existentes e arquivados na Biblioteca Nacional e no Arquivo Público do Estado de Minas Gerais, além da minuciosa releitura da literatura existente sobre a história de Cantagalo e, particularmente, de Manuel Henriques.

Há uma estória de que teria sido o desembargador intendente geral do ouro Manuel Pinto da Cunha e Souza o fundador de Cantagalo. Não. Ele era apenas um coletor de impostos, designado pelo vice-rei que governava a capitania do Rio de Janeiro para essa finalidade como servidor público, e administrador da distribuição das “datas” ou sesmarias, que se daria a partir de 1787. E gozou abundantemente desse regalo. Portugal queria somente arrecadar o chamado “quintos dos infernos”. Mais nada. Mas, com a distribuição das sesmarias, vieram as grandes propriedades rurais, pois não havia mais ouro, e daí a era do café.

 

Fac-símile do decreto original que elevou a vila de São Pedro de Cantagalo à categoria de cidade de Cantagalo. (Acervo Instituto Mão de Luva).
Fac-símile do decreto original que elevou a vila de São Pedro de Cantagalo à categoria de cidade de Cantagalo. (Acervo Instituto Mão de Luva).

 

Estamos em tempos de uma radicalização totalmente fora da realidade, estúpida, para dizer o mínimo. Se critico o governo Bolsonaro, sou tachado de lulista ou petista. Se critico o atual governo, sou bolsonarista. Antes que me perguntem, eu tenho um lado. Sou um homem de direita; era de esquerda até os 29 anos de idade. Amizades foram destruídas de maneira estúpida, mas eu conservo todos os meus amigos. Ser adversário político é uma coisa; ser inimigo é outra. Sou um homem de direita, mas reconheço, por exemplo, o desastre da educação básica no governo bolsonarista, além de outras falhas lamentáveis.

Como presidente do Instituto Mão de Luva, não tenho lado. Sou imparcial.

Cantagalo não é uma nação. É um pequeno município, quase ignorado pelos governos.

O prefeito Guga de Paula, com as suas limitações, como qualquer ser humano, procura realizar obras que estão sendo inauguradas ou em fase de, como a restauração do Coreto, a reforma da sede da Câmara Municipal, da Biblioteca Municipal Acácio Ferreira Dias, da gare da Leopoldina em Euclidelândia, a construção do Centro Cultural Amélia Thomaz, a reforma de diversas escolas municipais, a reconstrução de postos dedicados à Saúde dos munícipes e o asfaltamento de dezenas de ruas nas vilas, na cidade e em seus bairros.

Apesar de ações negativas, como, por exemplo, no relacionamento humano, ele vai deixar seu nome na história, ao encerrar o seu ciclo de governança: dezesseis anos à frente dos destinos de Cantagalo. Ele tem história para contar. Mas as datas informadas sobre a história de Cantagalo estão todas completamente erradas no saite da Prefeitura. Idem as da Câmara Municipal. É um desleixo com a cultura.

Para finalizar: onde está o marco do bicentenário do município de Cantagalo? Palavras? Os ventos levam. Folhetos? O tempo e as traças corroem. O mesmo com bandeirinhas e copos. Onde está o busto de Manuel Henriques, o fundador de Cantagalo? Foi uma decepção saber que o Mão de Luva não era da decadente nobreza portuguesa? Mas ele também não era um bandoleiro, um salteador, um reles ladrão com idealizou um novelista da Globo. Era um brasileiro, nascido em Ouro Branco (MG), onde foi batizado na Igreja Católica e onde se casou, em 1775.

Um garimpeiro de sucesso, um desbravador, um empreendedor, que se aventurou pelos sertões de índios bravios e construiu, com seus irmãos, um enteado e companheiros de garimpagem, um verdadeiro império, conhecido hoje como região serrana fluminense, sem Teresópolis e Petrópolis, cidades imperiais.

Não podemos esquecer dos cerca de vinte escravos que, durante o dia, sob escaldante luz solar, garimpavam o ouro que Manuel Henriques analisava e escolhia. A história da escravidão em Cantagalo ainda merece ser escrita. Estou pesquisando. E as anônimas esposas e filhos, onde foram parar?

Nada é perfeito. Nós não somos perfeitos. A resiliência, porém, dá-nos condições de superar obstáculos, com a mente flexível e a facilidade em se adaptar às mudanças, cada vez mais vertiginosas, radicais, nesta era digital.

Este artigo é um desabafo. Agora estou de bem comigo mesmo. Halleluyah!

 

Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.
Celso Frauches é escritor, jornalista, historiador, pesquisador e diretor-presidente do Instituto Mão de Luva.

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Um Comentário

  • É oportuníssima a intervenção do professor Sr.Celso Frauches sobre as estórias e história do nosso município de Cantagalo-rj, existem deformações que foram introduzidas ao longo de algumas décadas, as quais precisam ser corrigidas, é de suma importância nos ater a originalidade de toda a documentação encontrada até o presente e continuarmos a pesquisar sobre novos fatos que possam aprimorar cada vez mais a rica história do nosso importantíssimo município de Cantagalo-rj,

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