“Cantagalo & suas datas históricas – 2”, por Celso Frauches

Em 7 de outubro de 2022, publiquei, neste JR, artigo sobre as datas históricas de Cantagalo, com fundamento nas pesquisas de Sebastião A. B. de Carvalho, que resultou no livro A odisseia de Mão de Luva na região serrana fluminense, e de Rodrigo Leonardo de Souza Oliveira para a dissertação de mestrado em História – “Mão de Luva” e “Montanha”: Bandoleiros e salteadores nos caminhos de Minas Gerais no século XVIII (Matas Gerais da Mantiqueira: 1755–1786 e de troca de mensagens entre este escriba e o referido Oliveira.

As datas que seguem foram extraídas dos documentos históricos pelos pesquisadores acima enunciados ou mediante análise crítica dessas investigações.

1697 – o governador da capitania do Rio de Janeiro, Artur de Sá, por Decreto de 5 de agosto de 1697, criou a Vila de Santo Antônio de Sá, antiga freguesia de Santo Antônio de Cassarébu, com um extenso território, desde a região de Itaboraí até São Fidélis.

 

Aldeia de índios bravios, situada no "Districto de Cantagallo". Fonte: Biblioteca Nacional.
Tribo indígena dos “Certões dos índios bravos” retratada por Jean Baptista Debret, em seu histórico livro VIAGEM PITORESCA E HISTÓRICA AO BRASIL (Belo Horizonte: Itatiaia, 2014).

 

1740 – possível ano de nascimento de Manuel Henriques, segundo depoimento da genitora dele, registrado em documento analisado por Oliveira; todavia, o pesquisador levanta dúvidas sobre essa informação, mas creio que o nascimento deve ter sido em torno de 1740.

1750 – começo da decaída dos garimpos de ouro nas terras da Minas Gerais, na região da vila de Guarapiranga.

1760 – início da ocupação de uma área de terras, situada nos “Certões de índios bravos”, por Manuel Henriques, o Mão de Luva, possivelmente com cerca de vinte anos de idade, e seus parceiros de garimpagem do ouro de aluvião.

 

Mapa dos "Certões de índios bravios", mais tarde Novas Minas de Cantagallo.
Mapa da região fluminense conhecida como “Certões de índios bravos”, onde seria institucionalizado o município de São Pedro de Cantagalo, mais tarde simplesmente Cantagalo.

 

1763 – o governador da Província do Rio de Janeiro instaura a “Devassa Geral do Extravio de Ouro nas Novas Minas de Cantagallo”; o deslocamento do eixo de poder da Bahia para o Rio de Janeiro, que se tornou a capital do vice-reinado do Brasil nesse ano, fato devido, em parte, às transformações trazidas pela atividade mineradora na região.

1765 – povoado conhecido por Mão de Luva ou Novas Minas de Cantagallo.

1767 – Mapa dos “Certões ocupado por Índios Bravos” elaborado por Manoel Vieyra Leão, que integra as “Cartas topográficas da Capitania do Rio de Janeiro”, mandadas tirar pelo Conde da Cunha, “Capitam General e Vice Rey do Estado do Brazil no anno de 1767”, onde, a partir de 1814, seria criada a vila de São Pedro de Cantagalo. Nos mapas seguintes, aparecem como “Sertões das Cachoeiras de Macacu ou de Cantagallo”, “Novas Minas dos Sertões de Macacu ou de Cantagallo” e “Cantagallo”, usados indistintamente entre 1780 e 1814.

1775 – casamento de Manuel Henriques, filho de Maria da Silva e de Manuel Henriques Malho, em Ouro Branco, com Maria de Souza.

1786 – prisão de Manuel Henriques, o Mão de Luva; início da distribuição de sesmarias na região então conhecida como Sertões de Macacu ou Cantagalo, mediante edital; início da construção de uma pequena capela, mais tarde Igreja do Santíssimo Sacramento, reconhecida como freguesia do Santíssimo Sacramento por D. Maria I – Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança), rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, conhecida como A Piedosa e A Louca -, a primeira freguesia em toda a região Centro-Norte fluminense.

 

Rainha D. Maria I. Foto: Reprodução da internet.
Dona Maria I, “A Louca”, que governou o Reino Unido Portugal, Brazil e Algarves, em parte do período em que Manuel Henriques, o Mão de Luva, garimpava ouro de aluvião nos Certões de Índios Bravos, ou Sertões de Macacu e, enfim, Sertões de Cantagalo, e governava seu povoado instalado onde hoje é a cidade de Cantagalo.

 

1787 – Manoel Pinto da Cunha e Souza, acompanhado de militares, um pároco e agentes públicos, instala-se no antigo local do povoado Mão de Luva; edifica a casa de Registro de Ouro e algumas construções administrativas; inicia-se a distribuição das sesmarias e, em seguida, a capela dedicada a São Pedro de Cantagallo; cinquenta anos depois, deu-se o começo das obras da Igreja Matriz de Cantagalo, elevada a Santuário Diocesano do Santíssimo Sacramento, em 4 de junho de 2015.

1806 – criação do Distrito de Novas Minas de Cantagallo pelo alvará de 9 de outubro de 1806, integrado ao Município de Santo Antônio de Sá, na Província do Rio de Janeiro e o reconhecimento como Freguesia do Santíssimo Sacramento.

1814 – o distrito de Novas Minas de Cantagallo é elevado à condição de vila ou município, sob a denominação de São Pedro de Cantagallo, em 9 de março de 1814; suas terras confrontavam com o Rio Paraíba do Sul, ao norte de Minas Gerais, e os municípios fluminenses de Macacu, Magé, Macaé e Campos dos Goytacazes, o que demonstra a importância de Cantagalo no Império.

1815 – instalação do município de São Pedro de Cantagallo e ano de criação da Câmara Municipal de Cantagalo. Nomeação do primeiro Intendente, que era o presidente da Câmara Municipal, uma espécie de prefeito.

1857 – elevação da vila de São Pedro de Cantagallo à condição de cidade, com a denominação de Cantagallo, pelo Decreto nº 965, de 2 de outubro de 1857, do presidente da Província do Rio de Janeiro; é nomeado Intendente o vereador e presidente Câmara, alferes Manoel Vieira de Souza; a sede da nova matriz teve a sua construção iniciada em 1867.

2023 – Cantagalo está, ante a documentação referenciada, completando 263 (1760/2023) anos de fundação efetiva, a partir da chegada de Manuel Henriques, o Mão de Luva, ao local onde mais tarde ficou localizada a cidade de Cantagalo. Por essas e outras histórias documentadas, Manuel Henriques é considerado do fundador de Cantagalo.

 

Mão de Luva na concepção do designer gráfico Júlio César.
Mão de Luva na concepção do designer gráfico Júlio César.

 

Em As Minas do sertão de Macacu (RIHGB, RJ, 326, Pg. 34; AN. Códice 68, Volume 03, p. 113), publicação acolhida por Oliveira em sua dissertação de mestrado, há uma carta do pároco de Maricá, Pe.Vicente Ferreira de Noronha, na qual ele informa ao vice-rei Luís de Vasconcelos e Souza, governador da Província do Rio de Janeiro, o conteúdo do depoimento do réu José Gomes, no processo da Inquisição, aqui resumido: “Pelo que já expusemos da Entrada de Macacu para as ditas Minas, chegando ao lugar chamado das Três Cruzes, se acha uma pedra de amolar à mão esquerda, e nesse mesmo lugar acha-se a picada, que entra para Minas Gerais; vai-se por ela sair a uma Aldeia, e perto desta fica o Rio Paraíba, viagem de dois dias; passando este a outra banda segue-se a picada, que vai sair à Igreja Nova, lugar da residência de Manoel Henriques, Mão de Luva, do Xopotó, aonde tem a sua família”. (Negritos no original).

O assunto é complexo. A equipe do Instituto Mão de Luva continua pesquisando. E informando aos leitores do Jornal da Região. Nosso trabalho é garimpar, em meio a pedras e cascalhos, que embotam e escondem o brilho do que é precioso, o ouro da verdade histórica. Mas ela vai aparecendo aos poucos. O pesquisador, como o garimpeiro, tem paciência. Cantagalo merece!

[1] Guia do Santuário. Cantagalo, Pastoral da Comunicação, 4 jun. 2020.

 

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

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