“Cantagalo & suas datas históricas”, por Celso Frauches

A história de Cantagalo permite-nos ver que, na verdade, nossa cidade tem uma existência real bem anterior aos registros legais.

Em 5 de agosto de 1697, o governador da capitania do Rio de Janeiro, Artur de Sá, criou a Vila de Santo Antônio de Sá, antiga freguesia de Santo Antônio de Cassarébu, com um extenso território. Tudo isso antes de Manuel Henriques, o Mão de Luva, aparecer em nosso cenário histórico.

Segundo o professor e pesquisador Rodrigo Leonardo de Sousa Oliveira, em sua dissertação de mestrado[1], a crise aurífera das Minas Gerais, em meados de 1700, fez com que “donos” de garimpos e garimpeiros buscassem outras regiões para continuarem as suas atividades.

1760 pode ser considerada a data em que Manuel Henriques, conhecido por Mão de Luva, seus irmãos e outros companheiros, apoiados em escravos e libertos, migraram para os “Certões de índios bravios”. Rodrigo registra: “[…] nesse meio rural, lavradores, padres, comerciantes e funcionários do governo de Minas se uniram a Manuel Henriques, o “Mão de Luva”, construíram um poderoso bando armado ligado ao contrabando que tanto “incomodou” as autoridades mineiras quanto as do Rio”. Para essa data não existe registro oficial. Este surgiu somente em 1763.

 

Mapa dos "Certões de índios bravios", mais tarde Novas Minas de Cantagallo.
Mapa dos “Certões de índios bravios”, mais tarde Novas Minas de Cantagallo.

 

Em 21 de maio de 1763, um morador em Cachoeiras do Rio Macacu, distrito da vila de Santo Antônio de Sá, escrevia às autoridades fluminenses, pedindo autorização para explorar uma área conhecida como de “Certões de índios bravios”.  É um indício de que Mão de Luva já ocupava essa região. Em 1763, iniciava-se a “Devassa Geral do Extravio de Ouro nas Novas Minas de Cantagallo”.

No local onde hoje fica a cidade de Cantagalo, Mão de Luva liderou a construção de um povoado que, em 1784, tinha cerca de duzentas casas, e era conhecido por “Novas Minas de Cantagalo”. Foi quando Mão de Luva e seus companheiros foram presos e levados para a cidade do Rio de Janeiro para responderem a processo judicial. A partir 1784, a região que era ocupada por Manuel Henriques foi dividida em sesmarias, com a exigência de que fosse construída uma igreja católica onde existira o povoado.

 

Ruínas da vila de Santo Antônio de Sá - fachada principal do antigo Convento de São Boaventura. Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
Ruínas da vila de Santo Antônio de Sá – fachada principal do antigo Convento de São Boaventura. Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

 

Em 1786, surge uma pequena capela de pau a pique, conservada por meio século. Em 1806, o príncipe regente, D. João, a reconheceu como freguesia do Santíssimo Sacramento. A sede da nova matriz teve a sua construção iniciada em 1867[2].

Registros não oficiais indicam que, em 1806, foi criado legalmente o distrito de Novas Minas de Cantagalo.

Em 9 de março de 1814, o distrito de Novas Minas de Cantagalo foi elevado à condição de vila ou município, sob a denominação de São Pedro de Cantagalo. Suas terras confrontavam com o Rio Paraíba do Sul, ao norte de Minas Gerais, e os municípios fluminenses de Macacu, Magé, Macaé e Campos dos Goytacazes. Essa área é uma das demonstrações da importância de Cantagalo no Império. Hoje, abriga os municípios de Nova Friburgo, Carmo, Sumidouro, Duas Barras, Cordeiro, Macuco, Bom Jardim, Santa Maria Madalena, Trajano de Moraes, São Sebastião do Alto[3]. A primeira Câmara Municipal de Cantagalo foi inaugurada em 1815, em descampado situado em frente à velha igreja.

Em 2 de outubro de 1857, a vila de São Pedro de Cantagalo foi elevada à condição de cidade, com a denominação de “Cantagallo”, pelo Decreto nº 965/1857, do presidente da Província do Rio de Janeiro.

 

Índio guerreiro. Gravura de Debret.
Índio guerreiro. Gravura de Debret.

 

Resumindo:

1760 – início da ocupação de uma área de terras, situada nos “Certões de índios bravios”, povoado conhecido por Novas Minas de Cantagalo, a partir de 1765.

1786 – construção de uma pequena capela, mais tarde Igreja do Santíssimo Sacramento, reconhecida, em 1786, pelo príncipe regente, D. João, como freguesia do Santíssimo Sacramento.

1806 – criação do Distrito de Novas Minas de Cantagalo.

9 de março de 1814 – o distrito de Novas Minas de Cantagalo é elevado à condição de vila ou município, sob a denominação de São Pedro de Cantagalo.

1815 – ano de criação da Câmara Municipal de Cantagalo, sob a presidência do vereador João Batista Laper, intendente do município de Cantagalo.

2 de outubro de 1857 – elevação da vila de São Pedro de Cantagalo à condição de cidade, com a denominação de Cantagalo, pelo Decreto nº 965/1857, do presidente da Província do Rio de Janeiro.

Em 2022, Cantagalo está, ante a documentação referenciada, completando 260 anos de fundação efetiva.

Vamos garimpando a história e descobrindo nosso ouro: CANTAGALO!

 

[1] Disponível em: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/2927. Acesso em 6 mar. 2018.

[2] Guia do Santuário. Cantagalo, Pastoral da Comunicação, 4 jun. 2020.

[3]. Disponível em https://www.scielo.br/j/anaismp/a/JT9cwmM7SGsT7RrngVbn9ck/?lang=pt. Acesso em: 1º out. 2022.

 

Celso Frauches
Celso Frauches

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