Carioca é a mais jovem doutora do Brasil

Daphne Schneider Cukierman defendeu o doutorado em Química aos 26 anos, seis meses e 10 dias

A química da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Daphne Schneider Cukierman entra para o RankBrasil pelo recorde de mais jovem doutora do Brasil. Nascida em 15 de agosto de 1994, a carioca defendeu sua tese em 25 de fevereiro de 2021, aos 26 anos, seis meses e 10 dias.

De acordo com a recordista, além da dificuldade intrínseca do amadurecimento que um doutorado exige de qualquer candidato, ser tão jovem também traz outro obstáculo: “Pela pouca idade, tem sido difícil ser vista como uma pesquisadora pronta para entrar no mercado de trabalho”.

Daphne comenta que para concluir o programa precisou abrir mão de muitas coisas, entre elas, de um salário digno durante muitos anos, além de ter adiado projetos pessoais como a maternidade jovem, que estava inicialmente em seus planos. “A pós-graduação acaba sendo um ambiente de muita cobrança e ansiedade, então também levei um tempo para encontrar o meu equilíbrio”.

Carioca é a mais jovem doutora do Brasil
A recordista acredita que 2020 foi um ano crucial para demonstrar o quanto um país necessita de seus pesquisadores para o progresso

Ela conta que apesar de sempre ter tido o apoio da família e dos amigos mais próximos, um doutorado exige certo grau de entrega, de comprometimento, que muitas vezes quem está de fora não consegue entender ou aceitar. “Entretanto, eu não me arrependo de nenhuma das escolhas que fiz ao longo da minha trajetória, das noites viradas no laboratório e das saídas canceladas em prol dos experimentos”, destaca.

A química afirma que é uma honra deter esse recorde oficializado pelo RankBrasil, por se tratar de um reconhecimento a toda a dedicação e empenho que colocou em sua formação. “Foi algo inesperado, que veio como um prêmio adicional a todo o esforço e paixão investidos em me aperfeiçoar como profissional. É muito bom contar com uma entidade que reconhece e enfatiza a relevância das conquistas brasileiras”.

Combatendo doenças neurodegenerativas

A tese de Daphne se baseou no preparo, avaliação e aperfeiçoamento de novos compostos com potencial atividade contra doenças neurodegenerativas, em especial a doença de Parkinson. “O aumento da expectativa de vida dos brasileiros, apesar de seu lado positivo, traz novos desafios para as políticas de saúde pública à medida que doenças relacionadas ao envelhecimento passam a prevalecer”, diz.

Conforme ela, apesar de haver tratamentos disponíveis para certas doenças neurodegenerativas que ajudam na melhora da qualidade de vida dos pacientes, estes são apenas paliativos. “Novos fármacos que possam ao menos retardar o aparecimento de certos sintomas já seriam extremamente bem-vindos na clínica médica”.

Experiência internacional

Daphne é bacharel em Química pela PUC-Rio. Ela fez a passagem direta para o doutorado na mesma instituição, no início de 2017, sem cursar mestrado, o que foi aceito pelo Programa de Pós-Graduação. “Isso foi possível graças ao meu desempenho acadêmico e científico durante a graduação”, comenta.

Segundo ela, o doutorado foi realizado em tempo regular, de quatro anos. Dentro deste período, durante 10 meses a química fez um estágio no exterior, no Laboratório de Neurodegeneração Experimental, da Faculdade de Medicina da Universidade Georg-August, em Göttingen, Alemanha. O estágio aconteceu através do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior, financiado pela da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

A carioca finalizou o doutorado com nove artigos publicados em revistas indexadas e é co-inventora de um pedido de patente nacional, depositado junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) ), o qual recentemente foi também protegido internacionalmente através do Patent CooperationTreaty (PCT). Daphne ainda atuou no Laboratório Max Planck de Biologia Estrutural, Química e Biofísica Molecular de Rosario, na Argentina.

A importância da ciência para o progresso

A recordista acredita que 2020 foi um ano crucial para demonstrar o quanto um país necessita de seus pesquisadores para o progresso. “O que não ficou claro até agora em alguns países é que a ciência depende dos seus mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos”.

O investimento em ciência, educação e saúde é o alicerce do desenvolvimento de qualquer país e o baixo financiamento à pesquisa no Brasil constitui um impedimento para o nosso crescimento econômico e social. A pesquisa, o ensino e a inovação são a base do futuro de um povo”, finaliza.

Fotos: Arquivo recordista

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