“Carlos Cezar”, por Júlio Carvalho

Última 5ª feira do ano de 2024, vou ao jardim apanhar os jornais do dia 26
de dezembro. Como sempre encontro O Globo e o Jornal da Região devidamente
protegidos contra a chuva, envolvidos em uma capa de plástico, amarrada em um das
extremidades a fim de que não penetre nenhuma gota d’agua. Ao abrir o invólucro de
plástico percebi que havia uma página impressa. Era o Carlos Cezar despedindo-se dos
assinantes dos dois jornais.

Quanta coisa interessante naquela simples página de papel. De imediato
foi como se um filme passasse por minha mente. Lembrei-me dos quase trinta anos
em que trabalhei como médico no Posto de Saúde de Cordeiro, chefiado pelo saudoso
colega Dr. Marco Aurélio Vahia de Abreu, onde havia uma frequência enorme de
pacientes, numa época em que aquela cidade era bem menor e todos se conheciam.

Entre os frequentadores do posto de Saúde havia uma senhora muito
educada que cuidava carinhosamente da sua prole, queria sempre um vermífugo e
uma vitamina para seus filhos, seu nome Zilda Ferreira da Silva. Infelizmente, faleceu
precocemente, vítima de uma complicação da gestação, quando um dos seus meninos
tinha apenas 10 anos, seu nome Carlos Cezar Ferreira da Silva.

Muitos anos depois, encontro o Carlos Cezar na responsável e difícil função
de distribuir diariamente O Globo e, às quintas feiras, o Jornal da Região, em Cantagalo
e em Cordeiro. Pontualmente, a cada manhã, com chuva ou com sol, o jornal era
deixado na residência de cada assinante.

É importante assinalar que toda madrugada o Carlos Cezar apanhava os
jornais em Nova Friburgo, para onde se deslocava na sua moto ou no seu carro. Na sua
carta de despedida escreveu: “sempre fazendo minhas orações”. E Deus o protegeu
nesses 28 anos de árdua tarefa.

Resolvi fazer um cálculo. De Cantagalo à Nova Friburgo são 50 Km, logo ida
e volta 100 Km. em um ano Carlos Cezar viajou 36.400 Km. e, em 28 anos,
1.019.200.000 Km. É preciso ter muita fibra para cumprir essa tarefa com entusiasmo e
precisão.

Terminado esse trabalho nas primeiras horas de cada dia, Carlos Cezar
partia para a Secretaria Municipal de Obras, em Cantagalo, onde é zeloso funcionário e
onde continuará exercendo suas funções.

Quando, casualmente, passava pelo Carlos Cezar em alguma rua de
Cantagalo ele, sorrindo, me dizia; “Dr. Júlio, toda 5ª feira, depois do trabalho, quando
chego em casa, abro uma cervejinha e leio o seu artigo”. Espero meu amigo que isso
continue ocorrendo por muito tempo, pois você é merecedor!

Depois da despedida Carlos Cezar deixou para os leitores uma poesia com
o título; “Um Sorriso”. Terminando, ele escreveu: “Sorria Jesus te ama a cada minuto
de sua vida”.

Meu amigo Carlos Cezar, além de todas as vantagens do sorriso que você
escreveu, ainda existe outra de ordem anatômica; quando você sorri usa um número
menor de músculos faciais do que quando você está carrancudo, portanto, o sorriso
ainda tem um aspecto econômico para seus músculos faciais.

A carta de despedida do jornaleiro Carlos Cezar não me surpreendeu. Não
poderia ser diferente a atitude do filho da educada Sra. Zilda Ferreira da Silva e do
Suboficial da gloriosa polícia militar do Estado do Rio de Janeiro, Sr. Fidelis Machado da
Silva.

Carlos Cezar que nosso Deus o proteja e a sua família hoje e sempre!
Júlio Carvalho.

Carlos Cézar

 

Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo
Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo

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