“Carlos Pereira: uma vida plena de sons e amor”, por Celso Frauches

Sentado, o maestro Carlos Gomes Pereira. Em pé, uma das mais completas formações da banda da Sociedade Musical XV de Novembro.

Há muito desejo escrever sobre Carlos Gomes Pereira, o Carlinhos Pereira ou “Carlinhos da Banda” para parentes, amigos e fãs, como eu.

As retretas da Sociedade Musical 15 de Novembro, sob a competente batuta de Carlinhos Pereira, eu não as perdia nunca, enquanto vivi em Cantagalo. Era uma delícia ouvir os dobrados e marchas de Joaquim Naegele, Carlinhos Pereira e outros compositores. Nas procissões, a banda interpretava canções de cunho religioso. Ofertava aos católicos condições para a prece e os demais atos próprios desse ritual católico.

Nas festividades cívicas e festa como a “dos Carecas”, Carlinho Pereira estava sempre presente, à frente da SM 15 de Novembro.

Da esquerda à direita: Carlos Pereira Gomes, esposa, Maria da Conceição (Dona Iuiú), as filhas Rosane e Maria Lina (Lili), os netos José Cláudio e José Mauro (falta Juliana na foto) e o genro querido, José Edmundo.
Da esquerda à direita: Carlos Pereira Gomes, esposa, Maria da Conceição (Dona Iuiú), as filhas Rosane e Maria Lina (Lili), os netos José Cláudio e José Mauro (falta Juliana na foto) e o genro querido, José Edmundo. (clique para ampliar)

Há alguns dias, encontrei-me com o amigo José Edmundo e sua esposa, Maria Alina, filha do saudoso maestro. Ela me prometeu e cumpriu: entregar ao Instituto Mão de Luva, recebido pelo nosso diretor executivo, Sérgio Luís Araújo de Souza, o acervo disponível sobre esse cantagalense ilustre, homenageado pela Câmara Municipal de Cantagalo, em 1982, com o título de “Grande Destaque Cantagalense”, mediante proposta do vereador Lecir Noronha, aprovada por unanimidade, sob a presidência do vereador Carlos Fernando Gomes, o meu amigo Dondoca.

Carlos Gomes Pereira nasceu nesta cidade, em 31 de janeiro de 1907, filho de Leopoldina de Aragão Pereira e de Antônio Gomes Pereira. Casou-se com Maria da Conceição Muzy Pereira, em 22 de dezembro de 1938, na vila de São Sebastião do Paraíba, minha terra natal. Dessa união nasceram o filho Cláudio, já falecido, e as filhas Maria Alina e Rosane.

Carlos Gomes Pereira entre amigos: ao seu lado direito, Antônio Ramos Braga, e à sua esquerda, Walter Soutelino e Fausto Azevedo, em comemoração no Lar de Meimei. (clique para ampliar)
Carlos Gomes Pereira entre amigos: ao seu lado direito, Antônio Ramos Braga, e à sua esquerda, Walter Soutelino e Fausto Azevedo, em comemoração no Lar de Meimei. (clique para ampliar)

Fez estudos de música com o professor Manoel Dias de Paiva. Sua atividade como compositor e regente de banda teve início em Santa Rita da Floresta, nosso 2º distrito. Ali iniciou a regência com a banda “Flor de Maio” em 1929 até o ano seguinte. Em 1931, passou a reger, em nossa cidade, a Sociedade Musical 15 de Novembro. Nessa atividade permaneceu o resto de sua vida, com pequeno intervalo.

Conheci também o Carlinhos Pereira espírita, trabalhador e presidente da Sociedade Espírita Jesus Escola, fundada em 1932, que funciona até hoje, na Rua Nilo Peçanha, mais conhecida como “a rua do Pinto e Palma”. Nessa entidade, realizou várias iniciativas voltadas para as pessoas mais vulneráveis.

Exerceu, ainda, o cargo de Oficial de Justiça da Comarca de Cantagalo até 1977, quando se aposentou.

Ele nos deixou em 2 de julho de 1986, para a tristeza de seus entes queridos, amigos, fãs e de todos os que o conheceram e outros que estiveram ao seu lado na banda ou na casa espírita que dirigia.

A foto é antiga e bastante escura, mas o Carlos Gomes Pereira é o maestro, de branco, numa apresentação da Banda XV de Novembro.
A foto é antiga e bastante escura, mas o Carlos Gomes Pereira é o maestro, de branco, numa apresentação da Banda XV de Novembro. (clique para ampliar)

Compositor e regente, legou-nos dobrados, fantasias, valsas e canções. Vamos a essas composições: Dobrados – Dr. Joaquim de Souza Carvalho Jr., Cel. Agenor Barcelos Feio, Paraibano, Cláudio Antônio, Manoel Corbal, Deputado Walter Vieitas, Cidade de Itaocara, Marechal Paulo Francisco Torres, Francisco Antônio de Oliveira e José Edmundo de Souza Lima, seu genro e grande amigo, esposo de Maria Alina, amigos queridos -; Fantasias: Paisagem Húngara e Escala Musical; Valsas: Teu Sorriso, Magaly, Madame Elvira Corbal e Boa Noite Mamãe; e as canções Uma Flor e uma Canção e Festa na Tribo. O dobrado Paraíbano é uma homenagem aos nascidos no distrito de São Sebastião do Paraíba, como eu e esposa dele, conhecida por Dona Iuiú. “Seo” Corbal e esposa, dona Elvira, foram grandes apoiadores da 15 de Novembro.

Os seus músicos da “15 de Novembro”, entre eles um dos discípulos mais fiéis, o músico e maestro Celso Guimarães, registram que o maestro Carlos Pereira teve inúmeras obras não catalogadas, entre arranjos e composições como “galopes para circos”, “marchas para procissões” e outras composições. Registram que os ensinamentos musicais recebidos do maestro foram “impecáveis”! Esse pronunciamento, guardado com muito carinho por sua filha Maria Alina, é de 2007, quando a 15 de Novembro fez um show, na Praça João XXIII, com as mais célebres composições do maestro do bem, do amor, da caridade, da paz, com a sua voz mansa e arrebatadora.

Entre as composições musicais de Carlinho Pereira, Maria Alina guarda, com muito carinho, a marcha-rancho “Moreninha do Havaí”, letra da poeta Amélia Thomaz e música dele, cujo estribilho transcrevo a seguir:

Moreninha do Havaí,
Moreninha do Havaí.
Desde que te conheci
Não posso viver sem ti.

Recortes do Jornal da Região, que falavam do Carlos Gomes Pereira
Recortes do Jornal da Região, que falavam do Carlos Gomes Pereira (clique para ampliar)

O Jornal da Região, fundado e dirigido pelo amigo Célio Figueiredo, em sua edição de 16 a 31 de maio de 1990, pág. 5, sob o título Ilustres Filhos da Terra de Mão de Luva, traz a biografia de Carlos Gomes Pereira (1907/1986), em uma justa homenagem a esse compositor e maestro. O texto traz o aspecto humanitário do regente, “criatura de rara sensibilidade, humildade e amor ao próximo” e mais: “sempre serviu aos necessitados” e “a estes dedicou seu amor, sua preocupação e sua vida”. Na edição de 31 de dezembro de 1986, por ocasião do falecimento de Carlinhos Pereira ou “Carlinhos da Banda”, o Jornal da Região registrava esse triste evento para a família, amigos e todos os que o admiravam como ser humano, compositor e maestro.

A história da vida e obra de Carlos Gomes Pereira não cabe neste espaço, como outras personalidades que aqui abordei. Todavia, esse registro é para realçar a perda e a falta que está fazendo para reerguer a banda Sociedade Musical 15 de Novembro, com a participação do Poder Público e da sociedade cantagalense.

Quero, como milhares de cantagalenses, voltar a assistir as retretas dessa banda, assim como sua presença nas festas cívicas, sociais e religiosas, agora sob a direção de seu discípulo querido, Celso Guimarães. Vamos apoiar o retorno pleno de nossa banda e da escola de música para a formação de nova geração de músicos.

Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

Celso Frauches
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.

 

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