Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Arlequim está chorando
Pelo amor da Colombina
No meio da multidão.
(Zé Kéti – Máscara Negra)
Arlequins, Pierrôs e Colombinas fazem parte dos carnavais do século passado, bem mais românticos e cheios de fantasia.
Mas o carnaval das antigas em Cantagalo tem história. Quem nos conta é a amiga Eny Baptista, com um acervo de prosa, versos e imagens, reunidos em 1980.
Eu mesmo já participei dos festejos momescos entre 1948 e 1954, no bloco Paz & Amor, organizado pela professora Maria de Lourdes Dietrich Gonçalves. Lembro-me de uma das mais emblemáticas fantasias: Super-Homem. Eu era magro, esquelético; todos diziam que era o Super-Homem depois da espanhola (gripe). Mais tarde, entre 1963 e 1980, morando em Niterói, trazia a esposa, Lêla, e as filhas Leilany e Janina para desfilarem na Escola de Samba Vermelho e Branco. Eu e o filho Ariel assistíamos ao desfile da janela do Cantagalo Turismo Hotel. Mas vamos à história, contada no alentado acervo preservado por Eny.
Em 1910, há a primeira manifestação dos festejos carnavalescos em Cantagalo. Surgem as sociedades carnavalescas “Caturra” e “Tenentes do Inferno”. São festejos infernais, mas em Cantagalo, ligado às famílias. Os coreógrafos eram Hildebrando Dantas e Ricardo de Lauro. A rivalidade entre as suas corporações perdurou por cerca de duas décadas. Da “Caturra” desfilaram como coreógrafos Júlio Salgado, Leopoldo Goulart, Antônio Penna, Ricardo de Lauro e Alberto Thomaz Júnior. A “Tenentes do Inferno” teve como seus principais coreógrafos Ricardo de Lauro, que para esta sociedade migrou em 1926, e Mário Barreto. Eram personalidades importantes de nossa história em vários setores socioeconômicos.
Participam dos festejos, em 1912, os cordões “Avança” e “Treme Terra”, além dos ranchos “Estrela do Oriente”, “Flor da China”, “Paus D’água” e “Tesouras”. Entre 1931 e 1933, surgiram os cordões “O Sol”, mais tarde “As Tirolesas” e “A Lua”. Esses cordões trouxeram sua contribuição para o desenvolvimento dos carnavais em Cantagalo, que eram animadíssimos.
O primeiro bloco aparece em 1941. Depois os “blocos de sujo”, como eram conhecidos. Ao longo dos anos deles participaram os foliões de carteirinha: Alberto Nacif (Betão), Eurides Aluízio, Pedro Ivo, Manoel e João Lima Reis, José Carlos Lage, Leleco, Leomar Richa, Mário Figueira, Nacib Mansur, Norbert Wermelinger e Paulo César Figueira. Quase todos meus conhecidos e amigos. O destaque vai para o José Quererá, do bloco “Eu Só”, um isolado e festejado carnavalesco dos bons tempos dos carnavais familiares. Ele brincava sozinho pelas ruas e salões e se divertia e nos divertia muito.
Depois vieram os blocos “dos Solteiros” e “Casados”. No “Bloco dos Casados”, encontramos a música tema, letra e música do maestro Carlos Gomes Pereira nestes versos iniciais:
No paraíso, o pai Adão,
Não resistiu à solidão,
Pediu então uma companheira,
E fez da vida uma brincadeira.
Entre 1940 e 1975, era curioso ver o “Boi Pintadinho” desfilar, com uma característica própria, tendo como personagem principal um boi, feito de bambu e coberto de pano, montado pelo moleque Zeca. Ausente por uns tempos, ressurge em 1958, por iniciativa de Maria Jacinta da Silva, a porta estandarte. A popular Tuta.
O bloco “Paz e Amor” foi criado, em 1941, por Isolina Calábria e Maria de Lourdes Dietrich Gonçalves, a “Dona Lurdes”, tendo esta à frente de sua organização e desfile. Era composto de crianças e adolescentes, desfilava nas tardes de carnaval. Durou até 1970. Volta aos palcos do carnaval em 1998. Os desfiles do “Paz e Amor” eram alegres, com acompanhamento dos pais, amigos e parentes dos seus integrantes.
Lembro-me de um desfile memorável do “Paz & Amor”. O enredo era sobre princesa e príncipe. O príncipe era Cleiver, filho do dr. Gusmão, e a princesa era Telminha, que vinha carregada numa liteira. Muito bonito e romântico.
Dois blocos de sujo se destacaram, enquanto sobreviveram: “Os que bebem não vieram”, criado pelo Dr. René Azevedo e Márcio Japour, e “As que bebem estão chegando”. Este, em 1993, desfilou com a liderança de Cláudia de Paula Souza, Andreia Terezinha Ramos Reis, Marília de Lima Reis, Rosane Mendes de Oliveira, Roseni Mendes de Oliveira e Fátima de Souza Kropf.
Depois vieram as escolas de samba. Um dia falaremos delas.
Cordões e ranchos são manifestações carnavalescas que a modernidade e as escolas de samba conseguiram ofuscar e, mais tarde, eliminar. Eram mostras de um carnaval com arte rústica, às vezes folclóricas.
Bem, esse foi nosso Carnaval das Antigas, para matar as saudades de quem viveu e mostrar aos jovens de hoje toda a riqueza dessa festa que mudou radicalmente nestes novos tempos. Melhorou? Piorou? Não vamos discutir isso. “Não me leva a mal. Hoje é carnaval”.
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.