“Cel. Marcelino de Paula: uma vida dedicada a Cantagalo”, por Celso Frauches

O Coronel Marcelino de Paula recebendo em sua residência em Cantagalo, o comandante Ernani do Amaral Peixoto (Foto: Álbum de Família)

Corria o segundo semestre de 1947. Estava para completar onze anos em 27 de outubro. Havia concluído o curso primário, hoje, anos iniciais do ensino fundamental, na Escola do Porto do Tuta, com a professora Neli Rodrigues Moreira da Costa, minha querida tia, casada com tio Acyr, irmão de minha mãe Telva.

Precisava mudar para a cidade de Cantagalo, sede do município, a fim de cursar o ginasial, hoje anos finais do ensino fundamental e o ensino médio.

Solenidade de formatura no Colégio Euclides de Cunha, no Palacete do Gavião, em 1925.
Solenidade de formatura no Colégio Euclides de Cunha, no Palacete do Gavião, em 1925.

Tio Joaquim – Joaquim Ferreira da Costa, irmão de minha mãe, era vereador do Partido Social Democrático (PSD), liderado pelo Cel. Marcelino de Paula. Indicou o meu pai ao Coronel Marcelino para ocupar a Secretaria da Prefeitura, a partir da posse do novo prefeito, Joaquim da Costa Sobrinho, em setembro de 1947. O Coronel aceitou a indicação e meu pai assumiu a Secretaria da Prefeitura de Cantagalo nesse mesmo mês. Costa Sobrinho governou um ano. Foi substituído interinamente pelo Dr. Walter Vieitas (1948). O Coronel Marcelino assumiu a prefeitura em 1949, deixando o cargo de prefeito em 1950. Edmundo Macedo Soares e Silva era governador (1947/1950) do antigo Estado do Rio de Janeiro – Capital Niterói – e o presidente da República Eurico Gaspar Dutra (1947-1950).

Foto histórica. Da esquerda para direita: Prefeito Lacordaire Figueiredo Vilela, Governador Amaral Peixoto, Cel. Marcelino de Paula e Deputado Walter Vieitas.
Foto histórica. Da esquerda para direita: Prefeito Lacordaire Figueiredo Vilela, Governador Amaral Peixoto, Cel. Marcelino de Paula e Deputado Walter Vieitas.

Quando mudamos para a cidade, o Coronel Marcelino recebeu meu pai, minha mãe e eu, filho único. Conheci, na adolescência dos meus onze anos, o verdadeiro Coronel Marcelino, temido por muitos. Gentil, cavalheiro, atencioso, educado. Essa admiração durou para sempre, mesmo quando fomos adversários nas eleições de 1962, com a eleição de Henrique a prefeito de Cantagalo, liderando uma coligação do PRP (Partido de Representação Popular, União Democrática Nacional (UDN), PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). Mas o vice-prefeito eleito foi do PSD, Licínio José Gonçalves, genro do Coronel Marcelino.

O coronel Marcelino de Paula foi peça importante na projeção de meu pai, na política. Deu-lhe a primeira oportunidade, como secretário da Prefeitura, e a segunda, quando aceitou sua candidatura a prefeito, para substituir o prefeito Lacordaire Villela. O aval do coronel Marcelino era indispensável para qualquer pretensão política, nos quadros do PSD, naquela época.

Grandes lideranças políticas reunidas em Cantagalo, com o Coronel Marcelino de Paula, que foi prefeito do município por dois mandatos e suplente de senador (Foto: Álbum de Família)

Era amigo do comandante Amaral Peixoto (Ernani do Amaral Peixoto), líder do PSD no Estado do Rio de Janeiro, genro de Getúlio Vargas e governador do Estado, logo após a queda da ditadura, em 1945. O Comandante, como era chamado o governador Amaral Peixoto, tinha respeito e admiração pela liderança do coronel Marcelino.

Quando mudamos para Cantagalo, em 1947, o coronel Marcelino já não tinha o mesmo vigor, pois amargava alguma deficiência física, que limitava os seus movimentos, mas que não influíam em seu raciocínio e em sua atividade mental. Era uma raposa política, um homem de rara sensibilidade para o trato com a vida político-partidária.

Dos seus filhos, o Nelson de Paula foi o único que ingressou na política, sendo vereador e vice-prefeito. Não herdou a habilidade política do pai, mas foi um homem público honesto, íntegro e respeitado, mantendo viva a presença política de seu pai, até o PSD ser extinto, pela ditadura militar de 64. Nelson de Paula foi o meu primeiro mestre em finanças, ao lado de seu sócio, Mário Bon , genro do Coronel, um ser humano dos mais generosos que conheci.

O Coronel Marcelino não era apenas importante na política, mas na vida social e econômica de Cantagalo.
Exerceu o cargo de vereador e de prefeito, por dois mandatos: 1927/1929 e 1949/1950. Chegou a ser eleito suplente de senador.

Celso Frauches
Celso Frauches

Como prefeito posso lembrar de algumas realizações: a) conseguiu atrair para a sede do município e das vilas dos distritos, a implantação de grupos escolares. O Grupo Escolar Lameira de Andrade deveria ter instalações que pudessem abrigar uma faculdade. À escola de São Sebastião do Paraíba o governador Amaral Peixoto deu o nome de Cel. Manoel Marcelino de Paula; b) conseguiu manter a agência do Banco do Brasil, que estava prestes a ser transferida para outro município; pleiteou e conseguiu a instalação de uma agência dos Correios; na sede de nosso município promoveu várias obras, como abertura e calçamento a paralelepípedos de diversas vias públicas, a conservação e manutenção das estradas vicinais; doou uma área de terras para a construção da cadeia de Cantagalo. O seu lado humanitário pode ser identificado com a doação, em chácara de sua propriedade, de uma área para a construção de hospital.

Este artigo tem por objetivo celebrar um dos mais importantes homens públicos de Cantagalo, não pretende ser uma biografia. Esta deverá ser promovida pelo Instituto Mão de Luva, ao lado de outras personalidades, em futuro próximo.

O Coronel Marcelino de Paula nasceu em 10 de abril de 1.880, na Fazenda da Cachoeira Alta, no distrito de São Sebastião do Paraíba, e faleceu em 26 de junho de 1962, em sua residência em nossa cidade.

Cantinho da poeta Amélia Thomaz
Alvorada
Apenas surge a alvorada,
E a luz as montanhas touca,
O canto da madrugada
Põe teu nome em minha boca.
(Extraído do livro Alaúde (Cantagalo, RJ: Ed. Autor, 1954, p. 6))

Celso Frauches é professor, escritor, pesquisador, ex-secretário Municipal de Cantagalo e consultor Especialista em Legislação

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