“Censo de 2022”, por Dr Júlio Carvalho

Cada censo publicado pelo IBGE é um verdadeiro retrato do Brasil, que mostra a realidade de um país cheio de desigualdades sociais, que necessitam ser corrigidas para que possamos nos tornar de fato uma democracia com justiça social.

A estimativa era de que a nossa população estivesse em 210 milhões de brasileiros. Todavia, o censo publicado no dia 27 de outubro de 2023 mostrou que ainda somos 203 milhões, distribuídos pelas cinco regiões do país, a saber: Sudeste – 85,1 milhões; Nordeste – 56,1 milhões; Sul – 29,0 milhões; Norte – 17,3 milhões; e Centro-Oeste – 15,2 milhões.

O censo mostrou que o Brasil é um país de população predominantemente urbana, com 87% dos brasileiros habitando em cidades; enquanto o estado de São Paulo abriga cerca de 22% dos brasileiros. O Brasil ocupa o 7º lugar entre os países mais populosos do mundo.

O último censo mostrou um país de população envelhecida com 50% dos brasileiros acima de 35 anos de idade. Desse contingente, 22,1 milhões passaram dos 65 anos (10,83%), enquanto 4,6 milhões superaram os 80 anos e 37.814 pessoas chegaram ao centenário de vida. Ótima notícia para mim que já estou com 88 anos; infelizmente, o futuro não nos pertence.

O Brasil não está preparado para cuidar dessa população envelhecida, que exigirá uma série de cuidados especiais. No Rio de Janeiro, por exemplo, a colônia alemã possui um hotel para idosos, onde a pessoa pode residir em prédio coletivo ou em apartamentos separados, com assistência médica, odontológica e de assistentes sociais, com programação de passeios de ônibus a diversos pontos da cidade.

Com essa população de idosos crescendo, torna-se necessário maior número de cuidadores devidamente preparados; o mesmo acontecendo com geriatras, oncologistas, neurologistas, cardiologistas e hospitais, a fim de cuidar das patologias mais comuns na terceira e quarta idades. Tudo isso representa maiores gastos para a saúde pública.

Grande número desses idosos, em bom estado de saúde, deveria ser aproveitado como produtores de trabalhos lucrativos, como acontece no Japão, utilizando-se a experiência e conhecimento dos mesmos.

O envelhecimento da população, também, é uma sobrecarga para a Previdência Social, com aumento do número de aposentadorias e pensões que terão que ser pagas.

As regiões Sul e Sudeste são as que apresentam maior número de pessoas idosas. Dez das cidades com maior percentual de idosos na população estão localizadas no Rio Grande do Sul. Será influência do clima ou das condições de vida dos gaúchos?

Outro aspecto demonstrado pelo Censo 2022 é o baixo percentual da população jovem, de 1 a 14 anos, com 40,1 milhão (20%) de pessoas. Diversos fatores determinaram a diminuição da natalidade: uso de anticoncepcionais, epidemias de zika e chikungunya, pandemia de Covid, serviços externos das mulheres e desejo de famílias menores. A fecundidade das mulheres brasileiras, que era de 2 filhos por mulher, diminuiu para 1,6 filho por mulher.

As dez cidades brasileiras com maior percentual de população jovem encontram-se na Região Amazônica.

A diminuição da natalidade acaba por favorecer o envelhecimento da população; esse fenômeno já ocorreu na Alemanha, onde o governo precisou realizar campanhas estimulando a natalidade.

Um dado altamente positivo encontrado no censo de 2022 é o bônus demográfico, quando a maior parte da população se encontra entre 15 e 64 anos; no Brasil, atualmente, 69,3% da população se encontra nessa faixa etária, constituindo a força máxima do trabalho, capaz de elevar o produto interno bruto (PIB). Todos os países que se enriqueceram foi quando o bônus demográfico ocorreu na população, sendo necessária a educação profissionalizante dos jovens, com o preparo de bons técnicos em todos os ramos da atividade industrial.

Parece que estamos entrando nesse período, pois, enquanto em dezembro de 2022, o desemprego era de 11% da população ativa, atualmente se encontra em 7%. Ao mesmo tempo, a inflação encontra-se sob controle, os juros em queda, o consumo das famílias aumentando e as reservas cambiais elevadíssimas.

Nos censos anteriores, havia sempre um equilíbrio entre o número de homens e de mulheres na população; em 2022, o número de mulheres é superior, chegando a 104.548.325, o que representa 51,5% da população; isto significa que para cada 100 mulheres existem 94,6 homens na população. A cidade com maior percentual feminino da população é Santos, com 54,68% de mulheres em ter seus habitantes; por outro lado, também, é a cidade mais envelhecida na sua população, com um quarto de seus habitantes acima de 60 anos.

As estatísticas mostram que existe um equilíbrio entre o número de nascimento de meninos e meninas, todavia, a partir da adolescência, o número de mortes é maior na população masculina, principalmente por causas violentas: acidentes do trabalho, acidentes de trânsito, ferimentos por arma de fogo, alcoolismo e agressões. Por outro lado, as mulheres são mais cautelosas e se cuidam mais, basta analisar os relatórios dos serviços médicos. A população feminina tem a vida média superior em sete anos que a população masculina.

No momento em que a população feminina é a maioria e as mulheres passaram a predominar nas faculdades, ocupando cargos importantes na sociedade, deveriam, também, penetrar na vida política do país, aumentando a representação nos legislativos; chegando, ao mesmo tempo, aos executivos. Creio que teríamos decisões mais humanas em benefício do povo sofrido do Brasil, uma vez que o espírito feminino é mais sensível aos sofrimentos. Quem sabe, talvez, algum dia chegaremos lá.