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Chapot Prevost à época da cirurgia (1900)
Desde que me entendo por gente grande, a personalidade do médico e cirurgião cantagalense Chapot Prevost me fascina. Quando cursava o Colégio Euclides da Cunha, ouvi pela primeira vez uma referência a ele e sua proeza. Os termos “xifópagas”, “siamesas”, até então, eram para mim palavras estranhas.
Crescidinho, tive acesso à sua biografia, registrada pela Academia Nacional de Medicina, da qual era patrono da Cadeira 85. Em seguida, na Academia Médica Fluminense, mais tarde Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro, após a fusão RJ-Guanabara, tornou-se patrono da Cadeira 60. É o meu herói na cirurgia médica. Como é bom ter heróis em quem se inspirar!
A escritora e pesquisadora Janaína Botelho, na edição de 14 de junho de 2018, escreveu excelente artigo no jornal A Voz da Serra, de Nova Friburgo, sob o título Chapot-Prévost e o caso das meninas toracoxifópagas.
O Dr. Eduardo Chapot Prevost foi o primeiro cirurgião a realizar, no planeta Terra, cirurgia de separação de gêmeos xifópagos ou siameses, que nascem unidos um ao outro por alguma parte do corpo. Um pioneirismo de fazer inveja a qualquer cirurgião da época.
O dr. Chapot Prevost realizou, em 30 de maio de 1900, na Casa de Saúde São Sebastião do Rio de Janeiro, uma intervenção operatória que constituiu um marco na evolução da cirurgia mundial: a separação das meninas toracoxifópagas Maria e Rosalina Pinheiro Davel, de 7 anos de idade. De acordo com as informações coletadas na Academia Nacional de Medicina, o cirurgião cantagalense realizou o seu ato numa mesa cirúrgica com duas peças, por ele desenhada especialmente para essa operação, “preparando pinças hemostáticas especiais e criando um processo próprio de hemostasia hepática”. Treze cirurgiões de grande vulto formaram a equipe médica encabeçada pelo Dr. Chapot-Prévost, dentre eles Paulino Werneck, Ernani Pinto, Álvaro Rodrigues, Dias de Barros, Azevedo Monteiro e Chardinal D’Arpenans. Nessa ocasião, usou, pela primeira vez, a máscara que hoje é de uso universal. O Dr. Chapot-Prévost “fez o mais rígido preparo e cuidado asséptico, que incluía desde a apurada imunização da sala, até banhos de lisol do cirurgião e seus auxiliares”.
Segundo a Academia Nacional de Medicina, o Dr. Chapot Prevost foi pioneiro nos seguintes atos cirúrgicos:
- “primeira cirurgia toraco-xifópaga;
- primeira vez que se secciona dois fígados com êxito de hemostasia perfeita para ambos;
- primeiro corte e sutura de dois pericárdios;
- primeira abertura de cavidade serosa com secção de fígado”.
É ainda considerado o “iniciador da pesquisa médica no Brasil” e o “precursor da iniciação cientifica em nosso país”. E um dos melhores histologistas da época, reconhecido por nomes famosos como o histologista alemão Ernst Hans Ludwig Krause (1859/1942).
O método Prevost é registrado em obra científica publicada na França: “transfixação do fígado através da parede costal, servindo-se para esse fim, de uma agulha trocater curva, conduzindo no seu interior um fio de seda trançado, que deveria comprimir o fígado contra as falsas costelas a fim de não dilacerá-lo“.
O Eduardo Chapot Prevost nasceu em Cantagalo, em 25 de junho de 1864, filho de Louis Chapot-Prévost, cirurgião dentista, de nacionalidade francesa, e de D. Louisa Lend Chapot-Prévost, de nacionalidade belga. Era casado com Laura Caminhoá. Tiveram um único filho, falecido precocemente em 19 de outubro de 1907.
Estudou no Colégio Pedro II, realizou o curso de Medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1880, e doutorou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1885, defendendo a tese intitulada “Formas clínicas do puerperismo infeccioso e seu tratamento”.
Na área acadêmica, foi professor de Anatomia na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1886, e de Histologia, em 1888. Conquistou a então cátedra de Histologia, em 1890, com a tese “Pesquisas histológicas sobre a inervação das vias biliares extra-hepáticas”.
Segundo registra a Academia Nacional de Medicina, participou de diversas comissões, entre elas a que foi a Berlim estudar o processo proposto pelo doutor Robert Koch para a cura da tuberculose, em 1890; a que foi identificar uma suposta epidemia de cólera no Vale do Paraíba, em 1894; e outra, presidida por Domingos Freire, para debelar a febre amarela, em 1899. Ainda em 1899, chefiou a comissão da Diretoria Geral de Saúde Pública que foi a Santos investigar e combater um surto de peste bubônica, da qual fez parte Oswaldo Cruz. Dessa empreitada, nasceriam o Instituto Soroterápico Federal, no Rio de Janeiro, e o Instituto Soroterápico do Estado de São Paulo.
Registre-se que o sucesso da cirurgia toracoxifópagas das irmãs Rosalina e Maria ultrapassou as fronteiras do Brasil e o Dr. Chapot-Prévost escreveu vários artigos sobre o caso e passou a participar de conferências pelo mundo. Em 1901, partiu para a Europa, desta vez a fim de aperfeiçoar seus estudos no Instituto Pasteur. Levou consigo a esposa e Rosalina, que conheceu, assim, inúmeros países do Velho Continente.
Maria faleceu cinco dias após a cirurgia, vítima de infecção generalizada, sem qualquer ligação com a sua cirurgia. Rosalina, adotado por Chapot Prevost, viveu até os 85 anos, tendo seis filhos e netos.
Sua biografia inserida nos anais da Academia Nacional de Medicina informa ainda que o Dr. Chapot-Prévost escreveu diversos trabalhos, destacando-se: “Pesquisas Histológicas” (1890), “A bouba e a sífilis” (1892), “Nota sobre uma simplificação na confecção das placas de àgar-àgar” (1894), “O carbúnculo no matadouro” (1900), “Novo xifópago vivo” (1901), “Xifo-tóracopago operado” (1902), “Cirurgie des teratopages” (1901), e “Novo teratópago brasileiro vivo” (1905).
Em Cantagalo, sua terra natal, o Dr. Eduardo Chapot Prevost é apenas o nome de uma rua, em uma das entradas da cidade. Nada mais. Nenhuma clínica, hospital, postos de assistência médica, etc., leva o seu nome.
Relembro uma frase que guardo na minha fraca memória, dita por Alves Mota, na Academia de Medicina do Estado do Rio de Janeiro: “Na vertigem dos dias que vivemos, verificamos o desconhecimento cada vez maior do passado, mesmo recente, por parte das novas gerações, e o injusto olvido, em que isso deixa mergulhados brasileiros que nos legaram tanto do presente e, através de lutas e trabalhos, formularam soluções para muitos de nossos males”.
Outro cantagalense, Euclides da Cunha, é esquecido pela Funarj e por intelectuais da nossa região. Chapot Prevost é o superesquecido de todos nós…
Mas, no Estado do Amazonas e em Londrina, Paraná… Mas esse é tema para o próximo artigo.
Crédito das fotos: http://www.famososquepartiram.com/2017/04/eduardo-chapot-prevost.html
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.
Um Comentário
A minha curiosidade sobre Chapot Previsto é que morei na Ilha do Governador na rua Chapot Previsto,155.Grande brasileiro.