“Ciência e Fé”, por Dr Júlio Carvalho

Existiu um cidadão, benfeitor da humanidade, de origem francesa, nascido na cidade de Lyon em 1873, que era médico, cientista e pesquisador. Por outro lado, era positivista, materialista e agnóstico. Seu nome era Alexis Carrel.

Passou parte de sua vida nos Estados Unidos da América do Norte dedicando-se a pesquisas que permitiram manter vivos determinados órgãos retirados do corpo, técnica que, mais tarde, possibilitou as cirurgias de transplantes de órgãos (rins, fígado, coração, etc.), cirurgias que salvaram milhares ou milhões de vidas em diversos países do mundo.

Dr Alexis Carrel
Dr Alexis Carrel

Outro estudo importante realizado por Dr. Alexis Carrel foi a criação de uma técnica que permitiu a sutura de feridas arteriais, o que facilitou o progresso das cirurgias cardiovasculares. Com esses dois trabalhos científicos, Dr. Carrel recebeu o Prêmio Nobel em 1912.

Mais tarde, esse médico e cientista, retornou à França, mantendo sua clínica em Paris, onde era considerado um dos lumiares da arte de Hipócrates.

Certo dia, uma de suas pacientes, acometida de tuberculose peritoneal, na época em que a tuberculose não tinha tratamento, estava em estado gravíssimo, quando a família solicitou que Dr. Carrel acompanhasse a paciente até Lourdes, em viagem de trem, único meio de transporte que havia para aquela cidade.

Dr. Alexis discordou, dizendo que era uma loucura, que a paciente já estava em fase final da doença e que morreria na viagem.

A família contra argumentou, falando que era o último desejo da paciente e que eles iriam levá-la de qualquer modo. Diante desses argumentos familiares e levado pelo dever profissional e humano, o Dr. Carrel resolveu acompanhar sua paciente; sempre com o pensamento de que seria uma viagem infrutífera.

Chegando a Lourdes, Dr. Carrel via tudo que ocorria como fanatismo; em nada acreditando: cânticos, terços, bênçãos, imagens, medalhas, missas, etc.

Diariamente examinava sua paciente com o pensamento de que era caso perdido. Depois de alguns dias, sua apurada percepção médica notou pequenas melhoras na jovem, que, todavia, continuava grave. Pensou que deveriam ser influências psicológicas!

Retornando à capital francesa, na viagem de trem, em cada exame clínico realizado percebia novos sinais de recuperação da sua paciente. Em Paris, continuando atendendo a mulher, notou dia a dia, a recuperação da saúde até a cura da tuberculose peritoneal.

Nossa Senhora de Lourdes e Santa Bernadette
Nossa Senhora de Lourdes e Santa Bernadette

Muito impressionado, não encontrando explicações científicas para a cura, Dr. Carrel atribuiu o acontecimento a um milagre, ao poder de Deus, convertendo-se ao catolicismo. Aquele médico famoso, autor de múltiplos trabalhos científicos, ganhador de um Prêmio Nobel, se curvava à evidência da existência de Deus, e, a partir daquele momento, nos deixou duas obras maravilhosas: Milagres de Lourdes, em que narra com muito mais detalhes a cura de sua paciente; o outro, O Poder da Oração, também tem tradução para o português, realizada pela médica Dra. Odette Nora de Azevedo Antunes.

O livro O Poder da Oração motivou belíssimo artigo de outro médico, o Prof. Carlos da Silva Lacaz, que o recebeu da Dra. Odette Nora de Azevedo Antunes, tradutora do original em francês para o português. Não posso reproduzi-lo integralmente nesse espaço, no entanto, mostrarei apenas um pequeno trecho: “O cristianismo trouxe Deus ao alcance do homem. Deu-lhe um rosto e a oração tornou-se fácil e sua técnica de execução ainda mais simples. É preciso apenas um esforço afetivo, semelhante à conversa de uma criança com seu pai. Não é necessário ser eloquente para ser atendido”.

Já para o Dr. Alexis Carrel: “A oração representa a força do homem para comungar com um ser invisível, criador de tudo quanto existe, suprema sabedoria, através de um estado místico em que a consciência se absorve com Deus”.

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

No calendário da Igreja Católica, o dia 11 de fevereiro é reservado à Nossa Sra. de Lourdes, exatamente por ser o dia da primeira aparição de uma mulher vestida de branco, com uma faixa azul na cintura e um rosário na mão, na gruta de Massabielle, a uma menina camponesa, paupérrima e analfabeta, de nome Bernadete Soubirous, no ano de 1858. É, também, o Dia dos Enfermos, em virtude das curas ocorridas em Lourdes, que até hoje não encontraram uma explicação dentro da medicina.

Numa das aparições, Bernadette perguntou à mulher vestida de branco quem era ela, recebendo como resposta: “Eu sou a Imaculada Conceição”. Dogma criado pelo Papa Pio IX quatro anos antes, que uma camponesa analfabeta do interior da França não poderia conhecer.

Bernadette relatou 18 aparições da Imaculada Conceição; sofreu muito, foi inquerida por autoridades civis e eclesiásticas, foi considerada doente mental, sendo portadora de asma crônica, que dificultava sua respiração.

Dr. Carlos da Silva Lacaz
Dr. Carlos da Silva Lacaz

Aos 22 anos, resolveu entrar para o convento das Irmãs de Caridade de Nevers, onde permaneceu até os 35 anos, quando faleceu com tuberculose pulmonar. Neste local recebeu instrução, dedicando-se à enfermagem.

Foi sepultada no próprio convento; 30 anos depois (1909) seu corpo foi exumado, mostrando-se intacto, sem qualquer sinal de putrefação própria da morte. Foi examinado por médicos e sepultado uma segunda vez. Dez anos depois, em nova exumação, a situação era a mesma, o corpo continuava em perfeita conservação. Foi, então, colocado em uma urna de cristal e levado para a Igreja de Saint Gildart, em Nevers, podendo ser visto por aqueles que visitam o local.

Em 08/12/1933, ocorreu a canonização como Santa Bernadette Soubirous, pelo Papa Pio XI, sendo a padroeira dos enfermos.

Quem puder ler algum livro sobre Nossa Sra. de Lourdes e Santa Bernadette Soubirous deverá fazê-lo, pois terá oportunidade de conhecer uma lindíssima história ocorrida na humanidade.

Não sei se os caríssimos leitores perceberam que no artigo citei três médicos (Dr. Alexis Carrel, Dr. Carlos Lacaz e Dra. Odette Nora de Azevedo Antunes). Isto serve para demonstrar que os médicos, embora ligados à ciência, também têm suas crenças e sua fé, embora nem sempre demonstrem.

Como escreveu o apostolo Paulo: “Isto acontece, porque olhamos as coisas invisíveis e não as visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno” (2 Cor 4,18).

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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