“Como identificar e enfrentar seus sabotadores internos”, por Jalme Pereira

Era só uma apresentação… mas quase desisti. Naquela manhã, bastava apresentar meu projeto para a liderança da empresa — um trabalho que eu conhecia de ponta a ponta, no qual havia investido semanas. Mas, nos minutos que antecediam a apresentação, uma voz começou a sussurrar: “Você vai errar”, “Vão te achar medíocre”, “Melhor deixar para outra hora”.

Era familiar. Essa voz já tinha me impedido de pedir aumento, de me posicionar em reuniões, de celebrar conquistas com autenticidade. Não era o meu chefe. Não eram meus colegas. Era eu mesmo. Era o meu sabotador interno — um crítico implacável, sempre pronto para colocar obstáculos entre mim e o meu crescimento.

Aquela voz, silenciosa e poderosa, é mais comum do que imaginamos. E pode estar operando nos bastidores da sua vida profissional neste exato momento.

O problema de não identificar os sabotadores internos

Muitas pessoas vivem sem perceber que estão sendo boicotadas por dentro. Acham que têm “baixa autoestima”, “falta de foco” ou são apenas “perfeccionistas”. Mas, na verdade, estão sendo minadas por padrões mentais invisíveis que travam o progresso, destroem a autoconfiança e sabotam relacionamentos. Esses sabotadores alimentam a autocrítica excessiva, o medo da rejeição, a necessidade de agradar, o perfeccionismo paralisante e o impulso de controlar tudo — só para citar alguns exemplos.

Sinais de que você está se sabotando sem perceber:

  • Vive evitando desafios, por medo de falhar ou de parecer incompetente.
  • Reage com irritação ou culpa em situações de pressão.
  • Adia decisões, esperando o momento “perfeito”.
  • Desiste cedo, mesmo tendo potencial.
  • Vive cansada emocionalmente, tentando agradar a todos ou sendo dura demais consigo mesma.

Segundo pesquisas, cerca de 80% das pessoas têm ao menos um sabotador dominante que interfere significativamente no seu desempenho profissional e na felicidade pessoal.

Por que é tão difícil perceber que estamos nos sabotando?

A grande armadilha dos sabotadores é que eles se disfarçam de aliados. O perfeccionismo, por exemplo, se apresenta como busca por excelência. A necessidade de controle, como organização. A autocrítica, como um impulso para melhorar. E assim vamos alimentando os sabotadores achando que são virtudes. Além disso, como esses padrões foram formados lá atrás, muitas vezes na infância, eles parecem parte da nossa personalidade. Mas não são. São apenas condicionamentos mentais que podem — e devem — ser ressignificados.

Passo a passo para identificar e enfrentar seus sabotadores internos

A boa notícia é que é possível calar essas vozes internas negativas e fortalecer um “eu observador” mais compassivo e estratégico. A chave está em usar a inteligência emocional para reconhecer, nomear e neutralizar esses sabotadores.

  1. Reconheça os sinais do sabotador: Observe pensamentos automáticos como: “Eu não sou bom o suficiente”, “Se não for perfeito, não vale a pena”, “Preciso agradar para ser aceito” e anote essas frases dando nome aos sabotadores (exemplo: O Crítico, O Controlador, O Inseguro).
  2. Identifique quando ele aparece: Note em quais situações esse padrão surge: reuniões? conversas com liderança? momentos de exposição?
  3. Questione a voz: Pergunte: Essa voz está me protegendo ou me limitando? Há alguma prova real de que isso vai acontecer?
  4. Responda com uma nova voz interna: Crie afirmações mais saudáveis, como: “Eu não preciso ser perfeito para ser valorizado”, “Posso aprender com essa experiência, mesmo que não seja um sucesso imediato”, “Tenho valor mesmo quando erro”.
  5. Treine o seu “músculo emocional”: Meditação, escrita emocional, pausas conscientes e conversas com pessoas confiáveis ajudam a desacelerar os impulsos e criar espaço entre o estímulo e a resposta.

O sabotador na prática… Carlos sempre evitava conflitos e aceitava tarefas demais por medo de decepcionar os outros. Sentia-se sobrecarregado, mas não conseguia recusar a demanda e nem propor maneiras diferentes de realizá-la. Ao nomear esse padrão como o sabotador “Bonzinho” e refletir sobre a origem desse comportamento, começou a estabelecer limites — e descobriu que, ao se posicionar, ganhou ainda mais respeito da equipe.

Como sua vida muda quando você enfrenta seus sabotadores

Quando você reconhece e enfrenta seus sabotadores: Passa a confiar mais em si mesmo, sente-se mais leve, com menos culpa e menos autojulgamento, tem mais clareza para tomar decisões, desenvolve relacionamentos mais saudáveis e autênticos e entra em um ciclo de crescimento e bem-estar contínuo.

Você não precisa mais viver em guerra consigo mesmo. Aprender a identificar e enfrentar seus sabotadores internos é uma das formas mais poderosas de aplicar a inteligência emocional no dia a dia — e transformar a forma como você trabalha, se relaciona e se enxerga. Que tal começar hoje mesmo a escutar menos os sabotadores e mais a sua verdadeira essência? Ela está aí, pronta para brilhar — só precisa de espaço.

Jalme Pereira é músico, palestrante, desenhista e trabalha na Universidade Veiga de Almeida (UVA)
Jalme Pereira é músico, palestrante, desenhista e trabalha na Universidade Veiga de Almeida (UVA)

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