Letícia era assistente administrativa em uma empresa de médio porte. Nunca teve um cargo de chefia, mas era a pessoa que todos procuravam quando surgia um problema. Ela mantinha a calma mesmo nos momentos de maior pressão, escutava os colegas com empatia, aceitava críticas sem se fechar e sabia se comunicar de forma clara e respeitosa. Durante uma reestruturação na empresa, foi convidada para participar das reuniões estratégicas representando seu setor. Um dos diretores explicou: “Ela não lidera no papel, mas lidera pela postura”. Letícia é o retrato de alguém que desenvolveu a inteligência emocional e, com isso, passou a exercer influência sem nunca ter precisado levantar a voz ou dar uma ordem.
A inteligência emocional, mais do que uma competência de gestores, é uma habilidade essencial para qualquer profissional que deseja se destacar, colaborar com eficácia e, de certa forma, também liderar — mesmo sem ter uma equipe formalmente sob sua responsabilidade.
A ausência da inteligência emocional no ambiente profissional
Infelizmente, nem todos conseguem isso. Muitos profissionais enfrentam dificuldades justamente por não saberem usar a IE no dia a dia. A ausência dessa habilidade faz com que pequenas discordâncias virem grandes conflitos, que feedbacks sejam encarados como ataques pessoais, que colegas se afastem por não saberem como dialogar ou cooperar. O profissional tecnicamente competente, mas emocionalmente reativo, pode ser visto como difícil de lidar o que, muitas vezes, pode comprometer uma evolução na carreira.
Estudos com mais de um milhão de profissionais revelam que pessoas com alta inteligência emocional são responsáveis por 58% do sucesso em qualquer tipo de trabalho e que 90% dos profissionais com alto desempenho têm também um alto nível de inteligência emocional, o que mostra que IE não é apenas um diferencial, é um fator determinante para o sucesso.
As consequências de não desenvolver a inteligência emocional no trabalho
Gente talentosa deixa de ser ouvida porque se comunica de forma agressiva ou passiva. Pessoas competentes se desgastam emocionalmente por não conseguirem lidar com frustrações ou por se sentirem constantemente mal interpretadas. Equipes se desintegram quando um ou mais membros não conseguem gerenciar suas próprias emoções e passam a reagir impulsivamente diante das pressões cotidianas.
Por que é tão difícil lidar com as emoções no trabalho?
Em primeiro lugar, muitos de nós fomos ensinados desde cedo que “emoção e trabalho não combinam”, como se fosse necessário anular os sentimentos para sermos profissionais. Outros simplesmente nunca aprenderam a reconhecer e nomear as próprias emoções, muito menos a regulá-las. Soma-se a isso ambientes tóxicos, onde demonstrar empatia ou vulnerabilidade pode ser visto como sinal de fraqueza. E, assim, temos o cenário perfeito para a ineficiência relacional.
Passo a passo para Você Ser Ouvido, Respeitado e Lembrado
E todos podem desenvolvê-la. O primeiro passo é a consciência: perceber que o modo como sentimos influencia diretamente o modo como agimos e nos relacionamos.
1. Observe antes de reagir: Quando algo te incomodar, respire, ouça com atenção e reflita antes de responder. Evite julgamentos precipitados ou interrupções.
2. Comunique com responsabilidade: Falar de sentimentos com maturidade é diferente de fazer drama — e pode abrir portas para diálogos mais saudáveis. Prefira usar frases que comecem com “eu sinto”, em vez de “você fez”.
3. Dê e receba feedbacks com equilíbrio: Quem desenvolve a inteligência emocional sabe que críticas construtivas são oportunidades de crescimento e aprende a recebê-las sem se vitimizar.
4. Pratique a colaboração silenciosa: Nem sempre você precisará ter respostas prontas. Muitas vezes, ouvir com atenção e se mostrar disponível já é um ato poderoso de colaboração.
5.Tenha empatia nas decisões Antes de agir, pergunte-se: “Como essa decisão impacta emocionalmente minha equipe?”. Ao tomar uma decisão ou fazer alguma mudança de rota e direção explique o porquê e procure ouvir o como a pessoa se sente sobre a situação.
Reconhecimento e influência positiva
Pessoas que aplicam a inteligência emocional no trabalho — mesmo sem cargo de liderança — tornam-se referências. São mais respeitadas, mais procuradas, mais admiradas. Trabalham com menos estresse, constroem relações genuínas e acabam se tornando, naturalmente, fontes de influência positiva:
- Um estagiário que, mesmo novo, propõe uma pausa para reorganizar ideias no meio de um conflito acalorado. Mostra maturidade emocional e senso de grupo.
- Após receber um e-mail ríspido, uma analista escolhe conversar pessoalmente com o colega para esclarecer, em vez de responder impulsivamente. Evita ruídos e fortalece a parceria.
- Um gestor recebe queixas sobre um funcionário. Em vez de repreendê-lo imediatamente, o chama para uma conversa franca e empática, e descobre que ele passa por um problema familiar sério. A decisão é mais humana e assertiva.
Escolha liderar a si mesmo todos os dias
Portanto, não espere um crachá de chefe para a ser ouvido, respeitado ou lembrado. Tudo começa com a forma como você se posiciona, colabora e influencia as pessoas. E a inteligência emocional é o ponto de partida. Escolha, na sua próxima conversa ou desafio para agir com mais consciência, empatia e equilíbrio. Você pode não comandar uma equipe, mas pode comandar suas emoções — e isso já é liderar. A IE não é um dom — é uma escolha, uma prática diária. E ela pode transformar completamente sua vida profissional.