“Como você se sentiria se fizessem isto?”, por Amanda de Moraes

Mulher interrompida em reunião (manterrupting)

Mulher interrompida em reunião (manterrupting)

O termo “man” significa homem. “Interrupting” quer dizer interrupção. A expressão manterrupting foi criada para demonstrar os episódios nos quais mulheres são constantemente interrompidas em suas falas.

Pode parecer banal uma interrupção em um diálogo, mas não é. Alguns dirão: “Ah, mas que besteira, agora qualquer coisa é machismo… não se pode mais nem conversar”. No entanto, a vida também acontece nos detalhes; nos momentos corriqueiros; nas entrelinhas. Em sutilezas, aliás, é possível demonstrar padrões de comportamento.

Na Universidade de George Washington (EUA), um estudo, capitaneado por Adrienne Hancock, pesquisadora de comunicação e gênero, em 2014, constatou que mulheres, em conversas, são duas vezes mais interrompidas do que os homens.

Outro estudo, realizado na Universidade Pritzker, com a análise das transcrições de debates orais na Suprema Corte Americana, verificou que mulheres lá também são mais interrompidas do que os homens em geral, não somente por seus pares.

Há informação, publicada pela mídia, de que o Conselho Nacional de Justiça instaurou procedimento administrativo disciplinar para apurar atitudes de determinado magistrado. Entre elas estão: interrupções grosseiras e desnecessárias da fala de colegas em uma sessão.

A Ministra Carmem Lúcia, após ser interrompida pelos demais ministros inúmeras vezes, em sessão do Supremo Tribunal Federal, disse: “Mesmo que suprimam, eu faço valer o meu direito de falar e de votar. Nós mulheres não temos cerimônia”.

Algumas condutas podem parecer banais. Porém, ao colocarmos uma lente de aumento, elas dizem muito sobre a sociedade. O machismo atual está cercado de subentendidos, que o encobrem. Quando os papéis são visíveis, grosseiros aos olhos, o diagnóstico é fácil. O reverso exige um olhar mais atento e humano.

E quaisquer atitudes desumanas, machistas e preconceituosas, que impregnam a nossa cultura, apontam – precisamos mudar. Aliás, toda maldade e toda injustiça são a superfície de algo muito mais profundo.

Sob outra visão: ao longo da história, os homens foram protagonistas das narrativas. Dúvida: será que as mulheres não tinham bagagem intelectual para debater sobre fatos? Nenhuma mulher tocava instrumento musical ou compunha, a ponto de ser reconhecida na música clássica? Na literatura, o tema suscita inquietação: quais são as escritoras, mulheres, clássicas? Existe uma grande diferença entre ser silenciosa e ser silenciada.

Por fim, um convite ao pensamento: existe excesso ao se pensar em respeito? Por exemplo: se alguém for bastante educado e gentil com uma filha, sobrinha ou neta sua? Imagine só se elas tiverem a feliz oportunidade de conviverem com pessoas que as deixam falar? Farão muito pelo mundo, disso estou certa. Sabe por quê? Porque quando uma mulher pode dizer, quando ela pode contribuir, é fato: ali avançamos um pouco contra o machismo, e ela terá a oportunidade justa de pertencimento.

 

Amanda de Moraes Estefan é advogada, no Rio de Janeiro, e sócia do escritório Mirza & Malan Advogados. Ela é neta do ex-prefeito de Trajano de Moraes, João de Moraes
Amanda de Moraes Estefan é advogada, no Rio de Janeiro, e sócia do escritório Mirza & Malan Advogados. Ela é neta do ex-prefeito de Trajano de Moraes, João de Moraes

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