Condomínio Empresarial: uma necessidade

*RICARDO LENGRUBER LOBOSCO 

ANTÔNIO CARLOS CELLES CORDEIRO

A instalação de um condomínio empresarial no terceiro distrito de Nova Friburgo (Campo do Coelho, Conquista) atende a uma demanda que o município reclama há tempos. Não há quem não perceba, no próprio bolso, o empobrecimento experimentado pela cidade nas últimas décadas.

O município, desde o início do século XX, revelou uma vocação industrial pujante, que o fez polo de toda a região e forjou um patamar socioeconômico consideravelmente positivo. Diferente das cidades do entorno, que abraçaram a agricultura como atividade principal, Friburgo sobressaía-se por sua inovação industrial.

Nova Friburgo tem, hoje, 1,4 mil empresas industriais responsáveis por empregar 22 mil trabalhadores, que respondem por 42% da mão de obra com carteira assinada no município. É um dos maiores índices de penetração do emprego do setor, só perdendo para Porto Real (Sul fluminense), que, na verdade, é um Distrito Industrial que se emancipou.

Apesar disso, indústrias como Arp, Filó, Ypu, Haga, Sinimbu, Iwega, Eletro Mecânica, Teachers, entre outras tantas, ofereceram à cidade um desenvolvimento econômico importante. A crise que as assolou (enfraquecendo-as ou fazendo-as migrar para outras cidades) exige, hoje, que o município encontre outras formas de arranjo econômico que garanta à população emprego de qualidade e renda digna.

As ideias que forjam a criação de um distrito empresarial seguem nessa direção: estimular economicamente o município, deslocar parte do centro econômico para uma região menos adensada populacionalmente e, sobretudo, com características topográficas mais amigáveis à logística.

Além disso, em 2011, na tragédia climática, além de vidas, tivemos graves perdas em centenas de empresas que afetaram a geração de emprego e renda em nossa cidade. Uma das demandas surgidas do setor produtivo foi a da criação de um Distrito Industrial/Empresarial que pudesse ser ofertado, inclusive às empresas em áreas de risco, para que se relocalizassem e continuassem sua atividade produtiva.

Não se trata de uma aspiração de “poucas pessoas”. É, ao contrário, uma demanda de grupos representativos e devidamente instituídos, como Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de janeiro), Acianf (Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Nova Friburgo), Codenf (Conselho de Desenvolvimento de Nova Friburgo) e também dos setores atacadista e de transporte. São demandas de todo o setor produtivo e que estão sendo amplamente debatidas desde 2011.

É verdade que a região do terceiro distrito é um polo agrícola destacado no cenário estadual, mas considerar que a implantação de um distrito empresarial fará sucumbir as atividades do campo é equivocada. Do ponto de vista dos novos arranjos econômicos, a pluralidade de atividades é benéfica. O tempo das atividades únicas (monocultura, monopólios, etc.) já passou. O razoável é que as atividades profissionais de todas as espécies dividam espaços comuns e fixem a população em suas localidades.

Dizer que o distrito empresarial estimulará êxodo rural parece errado. O êxodo rural já é uma realidade. O brilhante trabalho realizado pela Escola Rei Alberto I (Ibelga), com a pedagogia da alternância, esbarra exatamente nesse problema: o elevado número de jovens que não deseja manter a atividade econômica dos pais e avós; anseia por ir para a cidade trabalhar em outros ramos.

O terceiro distrito não é uma região pequena. De Conquista a São Lourenço, para se ter uma ideia, são mais de 20 km. No local escolhido para o polo empresarial, à beira da rodovia, não existe, salvo engano, expressivas áreas de lavoura. O que há, independente da criação do condomínio empresarial, são indústrias de confecções, construção pesada, queijaria, além da Ceasa (Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro) e outras atividades comercias. A região já está em crescimento; o que se precisa, isso sim, é de planejamento (para que ocorra desenvolvimento com sustentabilidade).

A instalação de um distrito empresarial, além de fomentar a atividade econômica formal, pagadora de impostos e geradora de emprego e renda, poderá, também, incentivar a regularização das pequenas propriedades rurais, de modo a colaborarem no recolhimento de tributos inerentes às suas atividades e, acima de tudo, oferecer à família do produtor rural outras opções de trabalho, estudo e perspectiva de vida; que não os faça desejar sair de sua terra rumo ao Centro já repleto de gente e sem muito mais opções de trabalho.

Aliás, o referido condomínio poderá incorporar empresas que agreguem valor à agricultura, em atividades de processamento e beneficiamento de frutas, legumes e verduras.

O imperativo, nesse momento, é que haja um esforço legislativo, com bases técnicas bem fundamentadas, para que as empresas sediadas no novo condomínio sejam reguladas por princípios adequados às características da região; é importante que haja direcionamento das atividades empresariais (não exclusivamente industriais) que impactem minimamente o ambiente, bem como que ocorra fiscalização séria nesse campo. Aliás, essa é uma necessidade inclusive para a agricultura, sobretudo quando praticada sem as orientações técnicas competentes. Não é de hoje o apelo social e de mercado por vegetais produzidos em lavouras orgânicas, por exemplo.

Em resumo, o distrito empresarial deve estimular a economia, aumentar o PIB (Produto Interno Bruto) local, gerar emprego e renda; deve, ainda, responder às vocações da região, especialmente em atividades cuja pegada ecológica seja a mais sustentável possível; não pode fugir de um pacote legislativo que, sem prejuízo do estímulo econômico, preserve às características locais, especialmente de modo a agregar valor às atividades já desenvolvidas na região; e, por fim, deve incrementar o setor educacional, favorecendo a oferta de escola pública de qualidade, com oferta, inclusive, de cursos técnicos e profissionalizantes, atividades de inovação tecnológica e inteligência.

O fato é que Nova Friburgo precisa se desenvolver. Ou seja, precisa de um planejamento de longo prazo que estimule a economia e a faça responsável com as questões de ordem ambiental. A crise que passamos é oportunidade de planejamento de soluções criativas mais pragmáticas e menos criticistas. Quantos aos interesses reais do terceiro distrito, certamente serão plenamente contemplados, sobretudo porque há organizações locais comprometidas com a questão, além dos representantes eleitos da região: além do prefeito e do presidente da Câmara, expressiva bancada de vereadores.

Por fim, vale lembrar: nossa maior indústria, a Stam, já tem filial em Bom Jardim. A Haga, uma de nossas pioneiras, também tem filial no município vizinho. Vamos assistir passivamente a esse movimento? Não podemos e não devemos. Insanidade, nesse cenário, é deixar o pouco que ainda temos se perder!

*Ricardo Lengruber Lobosco e Antônio Carlos Celles Cordeiro – Codenf (Conselho de Desenvolvimento de Nova Friburgo).

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