“Controlando as emoções: o poder de escrever o que sente”, por Jalme Pereira
Em uma noite chuvosa, Ana se sentou no sofá, cercada por um turbilhão de pensamentos. Há meses, sentia-se sobrecarregada e sem controle sobre suas emoções. Era como se uma tempestade interna não desse trégua.
Ana era o tipo de pessoa que sempre colocava as necessidades dos outros à frente das suas. Mãe de dois filhos, trabalhava em tempo integral e ainda cuidava da casa e dos pais idosos. Ana parecia ter tudo sob controle, mas, por dentro, sentia-se um caos. Nesta noite, depois de um dia difícil no trabalho, ela desabou. Sentia um nó na garganta e lágrimas começaram a cair. Não era só o cansaço físico, mas uma sensação constante de que estava falhando em tudo. Sua mente estava cheia de pensamentos confusos e ela não sabia como colocá-los em ordem.
Ao desabafar com uma amiga no dia seguinte, ouviu uma sugestão inesperada: “Por que você não experimenta escrever sobre o que sente? Vai ajudar a entender o que está acontecendo.” Ana riu, achando a ideia boba. “Mal tenho tempo para respirar, imagina escrever.” Porém, com desconfiança, naquela mesma noite, enquanto seus filhos dormiam, pegou um caderno antigo e começou a escrever, sem muitas pretensões. “Hoje estou cansada. Irritada. Triste.” Foi só isso no primeiro dia. No segundo, sentiu vontade de detalhar mais: “Meu chefe me interrompeu de novo na reunião e fiquei com tanta raiva que mal consegui me concentrar no resto do dia.”
Com o passar das semanas, Ana percebeu algo incrível: ao escrever, ela conseguia organizar seus pensamentos e identificar padrões. Descobriu que grande parte da sua frustração vinha de situações que poderia controlar, enquanto outras precisavam apenas de aceitação. Aos poucos, aquele hábito simples tornou-se essencial para sua rotina.
O que acontece quando você não registra e nem reflete sobre suas emoções?
Muitas pessoas vivem em um estado de confusão emocional, sem saber identificar o que realmente sentem ou por quê. Esse desconhecimento pode levar a reações impulsivas, conflitos desnecessários e até a problemas mais graves, como ansiedade e depressão. Sem um espaço para processar e refletir sobre suas emoções, elas acumulam tensão. Segundo estudo global da Organização Mundial da Saúde, o estresse crônico afeta 1 em cada 5 pessoas, muitas vezes causado pela falta de autoconsciência emocional. Sem um registro consistente dos seus estados emocionais, fica fácil cair na armadilha de ignorar os sinais do corpo e da mente.
As dificuldades enfrentadas por quem ignora suas emoções
Pessoas que não registram suas emoções frequentemente, nem sempre conseguem entender por que se sentem irritadas ou tristes e, assim, costumam agir sem pensar nas consequências gerando arrependimentos. Mal-entendidos se tornam comuns, por não saber como lidar com os altos e baixos do dia a dia. Por exemplo, imagine alguém que enfrenta irritação constante no trabalho, mas nunca parou para refletir sobre isso. Pode ser que a raiz do problema esteja em uma tarefa que não gosta ou na maneira como se comunica com colegas. Sem um registro, esses padrões passam despercebidos.
Por que evitar registrar emoções é tão comum?
Apesar dos benefícios, muitas pessoas evitam registrar suas emoções porque acreditam que terão que destinar horas diárias nestas atividades, o que não é verdade. Outras porque acham que colocar sentimentos no papel pode ser intimidante e, assim têm medo de confrontar seus próprios sentimentos. Muitos porque não sabem por onde começar ou como registrar e subestimam o impacto positivo que essa prática pode trazer, assim desenvolvem o hábito de ignorar as emoções, “engolindo” os sentimentos. Uma pesquisa da American Psychological Association revelou que apenas 10% dos adultos praticam atividades regulares de autocuidado emocional, incluindo a escrita reflexiva.
Passos práticos para começar a registrar e refletir sobre suas emoções
- Escolha o meio: Pode ser um caderno, aplicativo no celular ou até mesmo um bloco de notas digital. O importante é ser prático e acessível.
- Defina um momento para realizar tal registro: Reserve alguns minutos, seja pela manhã ou antes de dormir. Regularidade é essencial.
- Crie um ambiente tranquilo: Escolha um local silencioso onde possa se concentrar.
- Use perguntas-guia: Comece respondendo perguntas como: O que me deixou feliz hoje? O que me incomodou? Que situação ativou emoções negativas? Como reagi a essas emoções? O que poderia ter feito de diferente?
- Registre o contexto: Descreva brevemente o que aconteceu, quem estava envolvido e como você se sentiu.
- Adote uma escala de emoções: Crie uma escala de 1 a 10 para avaliar como se sentiu. Isso ajuda a identificar padrões com o tempo. Exemplo: “Hoje me senti ansioso, nível 7. A reunião foi difícil porque senti que não me preparei o suficiente.”
- Escreva sem julgamentos: Não precisa ser perfeito ou bonito. Seja honesto com você mesmo e não julgue seus sentimentos; permita-se ser autêntico.
- Inclua soluções, aprendizados e seja grato: Termine com algo que você pode mudar ou aprender. Exemplo: “Percebi que fico mais irritado quando durmo pouco. Vou priorizar 8 horas de sono” e agradeça por algo positivo ocorrido no dia.
Os benefícios transformadores de registrar suas emoções
Imagine ter um espaço seguro onde você possa desabafar, refletir, crescer emocionalmente e passar a reagir com calma em situações de estresse, identificando o que realmente incomoda e vivendo de forma mais leve e equilibrada. Não se trata apenas de um registro, mas um convite ao autoconhecimento. Um guia que ajudará você a transformar desafios em aprendizados e emoções intensas em equilíbrio. Não espere que suas emoções “gritem” para buscar ajuda. Comece hoje mesmo e dê o primeiro passo. Não precisa ser perfeito, apenas verdadeiro. Ao longo do tempo, você verá que o simples ato de escrever pode ser libertador e transformador.
NOTA DO AUTOR: Jornada da Inteligência Emocional
Este é o quinto artigo de uma série dedicada ao desenvolvimento da inteligência emocional. Iniciamos a jornada explorando “A Inteligência Emocional como Chave para o Sucesso Profissional” e seguimos com “Os Impactos da Falta de Inteligência Emocional na Vida Pessoal e Profissional”. Dentro do capítulo sobre Autoconhecimento, já abordamos os temas “Como Reconhecer e Nomear Suas Emoções” e “Como Identificar e Lidar com os Gatilhos Emocionais”.
Nesta edição, damos mais um passo com o tema “Controlando As Emoções: O Poder de Escrever o Que Sente”. Essa prática vai além de ser uma ferramenta de autoconhecimento: ela estabelece uma base sólida para o desenvolvimento de outras competências emocionais, como o autocontrole, que será o próximo capítulo da nossa série. Continue acompanhando e descubra como transformar suas emoções em aliadas para o sucesso pessoal e profissional!