“Coragem e fé”, por Julio Carvalho

Pela segunda vez os eleitores norte-americanos conduziram o Sr. Donald Trump a presidência dos Estados Unidos da América. Antes da posse ele já demonstrou que, dessa vez, além da arrogância e prepotência agirá com espírito de conquistador territorial, declarando que o Canadá (9.985.610 KM²) deveria tornar-se mais um estado americano, que o canal do Panamá deveria retornar a administração norte-americana e que a Groelândia (2.166.086 Km²), que pertence à Dinamarca, por questão de segurança, poderia se tornar dos Estados Unidos, não afastando a possibilidade da conquista armada.

Além disso, anunciou a extradição dos estrangeiros em situação irregular na nação americana e que não admitiria o registro como norte-americanos das crianças nascidas de pais estrangeiros, direito que é assegurado pela constituição dos Estados Unidos.

Tomando posse, imediatamente, iniciou a extradição dos latinos americanos. Presos pela polícia local, foram embarcados em aviões, com as mãos algemadas e os pés acorrentados, como se fossem perigosos marginais; como ocorreu com nossos patrícios mineiros largados em Manaus; que depois, liberados das algemas e correntes, foram levados para Belo Horizonte em avião da nossa FAB. Humilhante!

Retirou os Estados Unidos do acordo de Paris e da Organização Mundial da Saúde, o que dificultará o combate de várias doenças endêmicas em países pobres da África e outras regiões do mundo.

Taxou em 25% os produtos oriundos do México, Canadá e China; declarando que se esses países tomarem a mesma medida em relação aos produtos norte-americanos, ele passará a taxação para o dobro (50%). 

Com quase noventa anos de idade, lembro-me que Adolfo Hitler, ao chegar ao poder na Alemanha, anexou a Áustria alegando que se tratava da mesma raça; depois, invadiu e massacrou a Polônia, invadiu a França, a Tchecoslováquia e outros países, levando o mundo à 2ª Guerra Mundial, que sacrificou 50 milhões de seres humanos; a grande maioria de civis, idosos, mulheres e crianças, que não participaram diretamente das batalhas mas sucumbiram debaixo de pesados bombardeios ou nos campos de concentração nazistas. 

Perseguiu e executou, também, judeus, ciganos e homossexuais; mandando esterilizar cirurgicamente doentes mentais, pessoas com deformidades físicas que poderiam ser transmitidas geneticamente e outros seres considerados indesejáveis. Práticas que eram realizadas pelos fanáticos médicos nazistas, contrariando normas éticas da medicina. Como os criminosos são punidos, ao término da guerra, esses também pagaram com penas pesadíssimas.

Será apenas uma semelhança?

Voltando aos norte-americanos, nas festividades da posse presidencial, houve uma cerimônia inter-religiosa na Catedral Nacional de Washington  em que ocorreu o imprevisível. 

A Bispa Episcopal da capital norte-americana, Mariann Edgar Budde, de 65 anos, ao falar durante a cerimônia, por cerca de 15 minutos, assim se expressou: “Deixe eu fazer um apelo final, senhor presidente. Milhões depositaram sua confiança em você. E como você disse à nação ontem, você sentiu a mão providencial de um Deus amoroso. Em nome do nosso Deus, peço-lhe que tenha misericórdia das pessoas em nosso país que estão assustadas agora.

Há crianças gays, lésbicas e transgênicas em famílias democráticas, republicanas e independentes, algumas que temem por suas vidas.

As pessoas que colhem nossas safras e limpam nossos prédios de escritórios; que trabalham em granjas avícolas e frigoríficos; que lavam louça depois que comemos em restaurantes e trabalham nos turnos noturnos em hospitais, elas podem não ser cidadãs ou ter a documentação adequada. Mas a grande maioria dos imigrantes não é criminosa. Elas pagam impostos e são boas vizinhas.

Peço que tenha misericórdia, senhor presidente, daqueles em nossas comunidades cujos filhos temem que seus pais sejam levados embora. E que ajude àqueles que estão fugindo de zonas de guerra e perseguição em suas próprias terras a encontrar compaixão e boas vindas aqui. Nosso Deus nos ensina que devemos ser misericordiosos com os estrangeiros, pois todos nós já fomos estrangeiros nessa terra.”

Terminada a cerimônia religiosa o presidente declarou que o ato fora desagradável e que a bispa deveria se retratar publicamente. O que não aconteceu.

A Bispa Mariann Budde é líder espiritual de 86 congregações episcopais e dez escolas episcopais no Distrito de Colúmbia e de quatro condados de Maryland, sendo a primeira mulher eleita para essa posição.

A bispa é autora de vários livros e declara que “Jesus convida todos que O seguem a lutar pela justiça e pela paz, e a respeitar a dignidade de cada ser humano.”

É preciso ter muita coragem e fé em Deus para falar assim, em público, com o presidente do país mais rico e mais forte do mundo.

O exemplo da Bispa Budde deveria ser seguido por todo cristão, pois Jesus se colocou sempre ao lado dos mais fracos e mais humilde como lemos nos seus Evangelhos.

          Júlio Carvalho.

 

Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo
Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo

 

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