“Corpus Christi”, por Dr Júlio Carvalho

Calcula-se que a humanidade usa o pão como alimento há cerca de 6.000 anos. De caçador, o homem passou a agricultor. Ao triturar os grãos de diversos cereais (trigo, cevada, aveia, etc.) passou a consumí-los como papas, sopas e pão. Os egípcios se alimentavam muito com o pão, antes preparado sobre pedras aquecidas, depois, criaram o forno. A importância do pão era tão grande que servia como pagamento de uma jornada de trabalho.

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

Em 250 a.C., o uso do pão chegou à Europa graças ao contato dos gregos com os egípcios, sendo difundido por todo velho continente, chegando as Américas por meio dos colonizadores.

Do mesmo modo que o pão, o vinho é utilizado pela humanidade desde as civilizações mais antigas, seguindo uma trajetória semelhante à do pão. Seu uso chegou à cidade de Roma através dos gregos. As legiões romanas, à medida que conquistavam novas regiões, plantavam as videiras, expandindo o uso do vinho por toda Europa.

Nas religiões, o pão e o vinho sempre ocuparam lugares de destaque. No antigo Egito, era comum oferecerem pão a Osíris e Iris, protetores da agricultura. No livro do Gênesis, Melquisedec, sacerdote e rei de Salém, abençoa Abrão e lhe oferece pão e vinho (Gn 14,18-19).

Os judeus, no templo, mantinham uma mesa de acácia, ornada com ouro, sobre a qual colocavam o pão da proposição para Deus. Davi, faminto, comeu desse pão sagrado dado pelo sacerdote Aimeleque.

Santa Ceia
Santa Ceia

Jesus Cristo, na Palestina, se declarou o pão da vida (Jo 6,35) e, em outra ocasião, comparou-se a uma videira (Jo 15,1). Exemplos que servem para mostrar a importância desses dois alimentos para a humanidade. Realmente, em toda parte do mundo, o pão é usado para mitigar a fome do homem, enquanto o vinho, usado com moderação, aquece o corpo e alegra o coração.

O mais importante em relação ao pão e ao vinho ainda estava por acontecer. Na quinta-feira que antecede a Sua Paixão, na Sua última ceia, Jesus Cristo reunido com seus apóstolos instituiu a Eucaristia, distribuindo o pão e o vinho entre eles. Celebrava, desse modo, a primeira missa na humanidade.

A partir daquele momento, diariamente, em todo o mundo, são celebradas missas e é distribuída a Eucaristia, cumprindo a profecia de Malaquias: “Do nascer ao pôr do sol, em todo lugar se sacrifica e se oferece ao meu nome uma oblação pura” (Ml 1,11).

Em cada missa, após a consagração do pão e do vinho, o celebrante diz: “Eis o mistério da nossa fé”. O pão e o vinho estão transubstanciados em Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus. A ciência não explica, mas a fé confirma!

Desde os primórdios da Igreja, a quinta-feira era o dia eucarístico e a Eucaristia o ponto central do catolicismo, mas era necessário uma manifestação pública em homenagem ao Corpo de Cristo. Assim, em 1264, o Papa Urbano IV instituiu a festa de Corpus Christi (Corpo de Cristo). Já em alguns países da Europa, ocorriam as comemorações religiosas em louvor à Eucaristia (Bélgica, Alemanha e Polônia).

Milagre Eucarístico de Bolsena / Crédito da imagem – Wikipédia (domínio público)
Milagre Eucarístico de Bolsena / Crédito da imagem – Wikipédia (domínio público)

No verão de 1264, um sacerdote da Boêmia, chamado Pedro de Praga, após audiência com o Papa Urbano IV, passando pela cidade italiana de Bolsena, foi celebrar uma missa. Ocorre que ele tinha dúvidas quanto a presença real de Jesus na Eucaristia. No momento da elevação, a hóstia que se encontrava em suas mãos transformou-se em carne, pingando sangue sobre o corporal do altar, milagre ocorrido na Igreja de Santa Cristina, onde está gravado em uma lápide: “De repente, naquela Hóstia, apareceu claramente uma Carne verdadeira banhada em Sangue, exceto a partezinha que estava entre os dedos do sacerdote; o que não ocorreu sem mistério, mas para que fosse mais evidente a todos que a Carne era realmente aquela Hóstia elevada acima do cálice pelas mãos do celebrante”.

O Papa Urbano IV, que se encontrava próximo, na cidade de Orvieto, após minucioso exame do ocorrido, em 11 de agosto de 1264, instituiu a Festa de Corpus Christi, em que a Eucaristia é levada às ruas em procissão, com as ruas ornamentadas em louvor ao Corpo de Cristo.

Tapetes de Corpus Christi
Tapetes de Corpus Christi

Em Minas Gerais, a população das cidades confeccionam belíssimos tapetes por onde passará a procissão do Corpo de Deus. O mesmo acontece por todo o Brasil. Em Cantagalo, as solenidades do Dia do Corpo de Cristo sempre foram realizadas com o máximo de carinho, amor e adoração uma vez que nossa paróquia tem por padroeiro não um santo, mas o Santíssimo Sacramento do Altar, o Corpo de Deus, criada em 09 de outubro de 1786.

Na reforma da igreja realizada entre 1950 e 1952, presidida pelo saudoso Padre Crescêncio Lanciotti, o prédio internamente ficou bastante descaracterizado com as modificações realizadas. Todavia, recebeu na parede posterior, acima do altar, nas paredes laterais e no teto oito telas belíssimas, verdadeiras obras de arte criadas pelos pinceis mágicos do pintor italiano Antônio Maria Nardi, o mesmo que pintou a catedral de Bolonha (Itália) e muitas igrejas do nosso Brasil. Todas as telas relacionadas com a Sagrada Eucaristia. Desde a colheita do trigo e das uvas, passando pelos milagres de Santo Antônio e de Santa Clara, pela instituição da Eucaristia, o sacrifício no Calvário, até a adoração do Cordeiro Divino e da Hóstia Santa pelos anjos de Deus.

Interior do Santuário do Santíssimo Sacramento, em Cantagalo
Interior do Santuário do Santíssimo Sacramento, em Cantagalo

Recentemente (2017-2018), quando a Paróquia do Santíssimo Sacramento de Cantagalo estava sob a direção do Padre Fábio da Cunha Felippe, as telas, pintadas há 66 anos, que se encontravam bastante danificadas, foram restauradas pelo artista plástico Weissmar L.R. de Jesus, membro da Academia Brasileira de Artes, trabalho extraordinário, que recuperou toda vivacidade e beleza das telas.

Em 04 de junho de 2015, Dia de Corpus Christi, a Igreja de Cantagalo foi elevada a Santuário do Santíssimo Sacramento, por decreto do então Bispo Diocesano de Nova Friburgo D. Edney Gouvêa Mattoso, sendo seu primeiro reitor o Padre Jeferson Fernandes Nóbrega. Apesar da alegria de todos os católicos, ela continua sendo, para mim, a Igreja de Cantagalo, onde ocorreram todos os atos religiosos marcantes da minha vida e da minha família!

Hoje e sempre adoremos Cristo no Santíssimo Sacramento do altar!

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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