“CPI do Hospital de Cantagalo – Parte 1”, por Júlio Carvalho

Hospital de Cantagalo

Corria o ano de 2021, o vírus desconhecido que surgira na China se expandira por todo o globo terrestre; Cantagalo não era exceção, a população era punida impiedosamente. As vítimas fatais da doença atingiam toda a comunidade, diariamente, morriam parentes, amigos, vizinhos e pessoas desconhecidas. Amanhã poderia ser o seu dia!

A ciência caminhava na escuridão, não se conhecia a fisiopatologia da doença, o aparelho respiratório era o mais atingido, embora outros órgãos também fossem danificados. Urgia a união de todos, poder público, indústria, comércio, rede bancária e instituições de saúde. O momento era de solidariedade total contra o terrível inimigo desconhecido que viera do velho oriente.

Em Cantagalo, todos os recursos recebidos pelo Poder Público para combater a virose eram repassados ao Hospital de Cantagalo, cuja diretoria se empenhava de corpo e alma, criando um setor próprio para receber os contaminados que permaneceriam isolados dos demais pacientes. Cuidados por equipes próprias constituídas em caráter de emergência, duplicando as despesas financeiras do hospital; além de equipamentos de proteção individual (EPI) para a equipe, era necessário a aquisição de respiradores, oxímetros, monitores e medicamentos de ação incerta contra a doença.

Nesse momento de luta, de luto, de tristeza, de incertezas e de união contra um inimigo desconhecido, surge em nossa querida terra, de surpresa, na Câmara Municipal de Cantagalo, a CPI da Covid, formada por elementos eleitos para representar o nosso povo, falar e agir como povo. Acontecia o inesperado!

Cabia à Comissão da CPI “dentro do prazo legal, acompanhar, interrogar, investigar e, ao final, dar parecer sobre suspeição de desvio de conduta dos gestores Públicos no enfrentamento a COVID-19 e a aplicação dos recursos específicos do COVID-19, oriundos do Governo Municipal, estadual e Federal do período de março de 2020 até a presente data”. (Conforme página 3 do Relatório Final da CPI).

Na mesma página 3 do relatório, encontramos:

Este relatório inicia-se pela descrição do indícios de irregularidades recebidas pelos vereadores dessa casa, como utilização de recursos Covid para fins diversos e consequente desvio de finalidade, transporte de vacinas em seringas, fura filas, intervenção do Chefe do executivo no Comitê de crise contra medidas adotadas pelo Comitê Covid, entre outras, cujos resultados trouxeram subsídios para o Relator e toda comissão”.

Na página 4 do referido Relatório da Comissão da CPI, encontramos:

“Na sequência, o relatório passa à análise dos fatos, detalhando a fórmula como foi utilizado os mais de R$. 7.351.075,82, recursos esses destinados ao Enfrentamento a COVID/19, tanto em âmbito da Secretaria Municipal de Saúde, como nos repasses a Casa de Caridade de Cantagalo o qual recebeu a quantia vultuosa para gastos com COVID/19 no montante de R$. 1.975.775,08, que foi fruto de oitiva dos responsáveis legais, análise documental e diligências, finalizando com a lista de responsáveis e os encaminhamentos dessa comissão”.

Ainda na página 4 do relatório, no capítulo 3 – Das dificuldades enfrentadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito, encontramos essa preciosidade:

Essa comissão, após início dos trabalhos, com os depoimentos dos envolvidos e convocados, passou por um período de dificuldades, em função das inverdades trazidas aos depoimentos da maioria dos depoentes ligados a Santa Casa de Caridade.

Como pode ser observado nos depoimentos dos membros da Diretoria, do Conselho deliberativo e do Conselho fiscal da Santa Casa de Caridade de Cantagalo, colacionado nesse relatório, praticamente ninguém sabia de nada, ou quando respondiam, os dados eram controversos com os documentos e prestação de contas de posse dessa Comissão.

Observamos que tentaram de todas as formas esconder os problemas ligados a administração e gerenciamento da Santa Casa de Caridade de Cantagalo, tentando demonstrar que a instituição filantrópica estava utilizando de modo correto os recursos Covid encaminhado aquela Instituição”.

Durante a CPI, alguns funcionários e membros da diretoria foram submetidos a interrogatórios que fugiam às suas atribuições no Hospital de Cantagalo, verdadeira humilhação.

Era importante descobrir culpados, quando o momento exigia união e solidariedade de todas as camadas sociais, dos mais poderosos aos mais humildes, em luta contra um inimigo que fazia vítimas fatais e enlutava toda a comunidade.

Na página 5, encontramos que perdemos 65 membros da comunidade cantagalense durante a pandemia. Realmente, foi um terrível acontecimento. Todavia, se não fosse a ação pronta e eficiente da direção do Hospital de Cantagalo, o número seria muito maior.

Na enfermaria de Covid, foram internados 197 pacientes, com média de internação de 7,3 dias. Com 11 óbitos (5,5%) e recuperação dos demais pacientes, 186 (94,5%).

No CTI, num período de seis meses, foram internados 291 pacientes com Covid, com a média de internação de 12,4 dias; ocorreram 68 óbitos (23,36%) e 223 recuperações (76,37%).

Nos hospitais conveniados com o SUS, o percentual de óbitos chegou a 50% nos pacientes com Covid. Portanto, os resultados do Hospital de Cantagalo foram bons, apesar das críticas.

Obs. Os trechos copiados do relatório da CPI estão na íntegra, inclusive a pontuação.

 

Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo
Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo

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