“De Santa Rita do Rio Negro a Euclidelândia”, por Celso Frauches

Igreja de Euclidelândia (Acervo do Instituto Mão de Luva)

Entre 1963 e 1966, estive em Cantagalo para colaborar com o prefeito Henrique Luiz Frauches. Exerci o cargo de secretário da Prefeitura. Nesse período, voltei a circular por Cantagalo e seus distritos. No dia 22 de maio não perdia as festas de Santa Rita, em Euclidelândia e Santa Rita da Floresta. O prefeito Henrique fazia aniversário nessa data e comemorava a data nas festas desses dois distritos, aonde ia com a Rural Willys, geralmente, acompanhado pelo padre Crescêncio e participava das procissões e demais atos religiosos em homenagem à Santa Rita, a padroeira desses distritos. Havia sempre partidas de futebol, o meu esporte preferido. As equipes de Floresta e Euclidelândia desenvolviam um bom futebol naquela época, participando do campeonato municipal promovido pela Liga Cantagalense de Futebol, presidida pelo meu querido amigo Joel Naegele.

Volto a Cantagalo em novembro de 2020, em plena pandemia do vírus chinês. Já não tenho condições de participar desses eventos. A idade não permite percorrer ruas acompanhando as procissões e, muito menos, participar das atividades esportivas. Mas revejo as vilas de Santa Rita da Floresta e Euclidelândia bem diferentes, positivamente, daquelas em que eu circulava nos idos da década de 60 do século passado.

O distrito de Santa Rita do Rio Negro foi criado pela Lei Imperial de 2.102, de 26 de dezembro de 1874. Pelo Decreto RJ n.º 641, de 15 de dezembro de 1938, passou para somente Rio Negro. Seu nome mudou para Euclidelândia pelo Decreto RJ n.º 1.056, de 31 de dezembro de 1943. Sua área cobria também o futuro distrito de Boa Sorte até 1887. Nesse ano, Boa Sorte foi desmembrado de Santa Rita do Rio Negro, criado pela Lei n.º 1.887, de 22 de novembro de 1924.

 

 

A Paróquia de Santa Rita do Rio Negro foi criada em 29 de maio de 1842. Passou à categoria de freguesia pelo Decreto n.º 272, de 9 de maio de 1892.

Euclidelândia é rica em minérios. Na época dos garimpos foi, seguramente, um dos locais apropriados para o garimpo do ouro, nas águas do Rio Negro, feito por Manuel Henriques, o Mão de Luva, e sua equipe. Sua nascente está situada no município de Duas Barras. É um dos principais afluentes do rio Dois Rios, que, por sua vez, é um dos maiores afluentes da margem direita do Rio Paraíba do Sul, que separa Cantagalo do Estado de Minas Gerais. Exatamente por essa riqueza, Mão de Luva é responsável pelo então nascente povoado. O povoado de Santa Rita do Rio Negro é o mais antigo do município de Cantagalo, ao lado da sede, Cantagalo, fundada pelo garimpeiro Manuel Henriques nos idos de 1760.

Ao final do século XX, Euclidelândia passou a ser o campo de exploração para a produção de cimento e cal, objeto de empresas de grande porte, como o Grupo Votorantim, Lafarge e Holcim. É 3.º maior Polo Cimenteiro no Brasil.

No dia 2 de outubro de 1968, foi lançada a pedra fundamental da primeira indústria de cimento na região: a Fábrica de Cimento Alvorada. A produção teve início em 1970.

Hoje apenas três grupos possuem fábricas em Euclidelândia: Votorantim, Cimento Nacional ou CCA e CSN – Cimentos Brasil S/A.

 

 

Euclidelândia é palco de, pelo menos, três grutas calcárias, identificadas, nas décadas de 60/70 do século passado, por pesquisadores do Centro de Estudos e Pesquisas Euclides da Cunha (CENPEC), um pequeno grupo de jovens interessados em estudar e pesquisar tudo sobre Cantagalo, liderado pelo jornalista, pesquisador e escritor Sebastião A. B. de Carvalho, falecido aos 82 anos, em 2020, na cidade de Nova Friburgo, onde residia com sua esposa, Rosa Maria O. Werneck Rossi de Carvalho. Estão catalogadas as grutas Pedra Santa, em área controlada pelo Grupo Votorantim, e Santo Antônio e Descoberto, na Fazenda Paracatu, de propriedade do casal Marúcia e João Gerk. Rosa, reconhecida como o HD de seu amado Sebastião, guarda a memória do encontro e das repetidas visitas a essas grutas, com a participação de Heloysio Teixeira e outros membros do CENPEC.

O distrito de Euclidelândia tem a Fazenda Sossego, preservada por sua proprietária atual, Lúcia Daflon, que faz parte do turismo rural da região. Seus proprietários anteriores: cel. Sebastião Monnerat Lutterbach, Joaquim Lino Martins, José Guedes Martins e Hermínia Martins Daflon. Nela, o turista pode saborear uma excelente comida caseira e caipira, comanda pela própria Lúcia.

 

 

A vila de Euclidelândia tem infraestrutura adequada ao turismo religioso e rural, ora em fase de planejamento pelo Sebrae, agência de Nova Friburgo.

O padre Rodolfo Rodrigues Leite, administrador da Paróquia Santa Rita do Rio Negro, em Euclidelândia, desenvolve esforços para manter o prédio da Igreja em condições ideais, com apoio dos católicos da comunidade. Trata-se de um jovem, ordenado em 15 de setembro de 2020, pelo Bispo Diocesano, Dom Luiz Antonio Lopes Ricci, da Diocese de Nova Friburgo.

A vila de Euclidelândia está aberta à visitação dos turistas, com as atrações ora identificadas. A respeito da casa onde nasceu Euclides da Cunha, que dá nome ao distrito, temos a informação de que essa casa histórica não foi preservada, estando sediada em uma das fazendas de exploração calcária.

Euclidelândia tem, pois, focos importantes que a destacam: na cultura, na religião, na economia, na educação, com novas portas que se abrem agora, com as grutas, o turismo religioso e o rural. São pontos vitais!