Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Na minha infância, as catequistas da igreja católica de Cantagalo eram as irmãs Da. Hercília e Da. Haydée, que residiam em uma casa no centro da cidade; já demolida para construção do edifício Solar dos Melros.
Da. Haydée era tristonha, enrolada sempre em um xale, fosse verão ou inverno, época em que usava este complemento da roupa para tapar as narinas, protegendo-se das baixas temperaturas.
Da. Hercília era mais nova, mais ligeira, mais alegre, com olhos azuis claros, falante, era quem ensinava o catecismo. A irmã mais velha só a acompanhava e nada falava.
Como os ensinamentos eram para crianças, tudo era ensinado de modo muito simples, semeando nos corações infantis a crença em Deus Pai, em Jesus, em Maria Santíssima, nos Sacramentos da Igreja Católica, etc. Era uma crença infantil, na época tinha 10 anos.
Em 1960, segui para o Rio de Janeiro com o objetivo de me preparar para as provas de ingresso em alguma faculdade de medicina. Era um adulto de 20 anos com uma crença infantil.
Matriculado no Curso São Salvador, foi um ano de loucura, só estudava, saindo de casa apenas para ir ao curso. Comecei a penetrar nos conhecimentos da Física, da Química e da Biologia, era um mundo maravilhoso, praticamente novo para mim; à medida que meus conhecimentos aumentavam, minha fé infantil adquirida com a catequista diminuía.
Na Física, todavia, existe uma lei que estabelece que a realização de qualquer trabalho exige uma fonte de energia geradora do trabalho. Certa madrugada de calor escaldante, exausto de estudar, debrucei-me na janela, passando a contemplar as montanhas da Tijuca recobertas de densa vegetação; depois, olhei para o céu limpo, com milhares e milhares de estrelas, todas em ordem, cintilantes, como um manto bordado com diamantes. Pensei, que maravilha! Se a Física afirma que a todo trabalho corresponde uma fonte de energia, qual a energia que criou tudo isso? Não poderia ter nascido do acaso. Fui dormir com aquela pergunta torturando minha mente. Na manhã seguinte, havia descoberto o meu Deus, a Energia Criadora de tudo que existe!
Seis anos depois, médico recém-formado, passando a Semana Santa em Cantagalo, conheci o padre jesuíta José Stein, gaúcho, da minha idade, que estava em Cantagalo para auxiliar o Pe. Crescêncio nas cerimônias religiosas. Mantivemos um longo papo e ele, em determinado momento, me perguntou:
– Como médico, você acredita em Deus?
Respondi-lhe: – Meu Deus não é o Deus barbado, como Deus Pai, pintado nas paredes das igrejas. O Deus em que eu acredito é a Energia Criadora de todo esse mundo maravilhoso que nos cerca.
Ele deu uma enorme gargalhada e disse para o Pe. Dionísio, outro jesuíta, mais velho que ele, sentado em outra cadeira:
– Descobri em Cantagalo um outro Tomás de Aquino.
Na minha ignorância religiosa, não entendi nada e pensei: devo ter falado alguma bobagem.
A partir daquele dia, resolvi saber quem era Tomás de Aquino e qual a semelhança existente, citada pelo Pe. José Stein.
Tomás de Aquino nasceu em 1225, na Itália, no castelo de Roccasecca, no reino de Nápoles. Era de família nobre, filho do conde de Landulfo d’Aquino, que o internou aos seis anos no mosteiro de Monte Cassino, esperando que um dia ele fosse monge e chegasse a abade daquele mosteiro.
Quando estava com 19 anos, Tomás fugiu de casa e ingressou na Ordem dos Dominicanos Mendicantes, fundada por São Domingos de Gusmão. Tornou-se um grande conhecedor de Teologia e Filosofia, estudando em Nápoles, Paris e Colônia. Era de pouco falar e dotado de grande inteligência, recebendo o apelido de “boi mudo”; todavia, Santo Alberto Magno, seu mestre, dizia: “Quando esse boi mugir, o mundo todo ouvirá o seu mugido”.
Foi professor na Universidade de Paris, falecendo aos 49 anos, quando se dirigia para o Concílio de Lião, a convite do Papa.
Até a época de Tomás de Aquino, a existência de Deus era uma questão de fé. Deus existia e ponto final; entretanto, Tomás de Aquino, que era seguidor da Filosofia de Aristóteles, demonstrou cientificamente que Deus existe, com a Teoria das Cinco Vias da Existência de Deus.
1ª Via – Motor inicial imóvel – Tudo que se move exige o movimento de um motor, nada se move do nada. Numa cadeia de movimentos, chegaremos ao motor inicial que principiou os movimentos. Esse motor inicial é DEUS.
2ª Via – Causa Inicial – Todo efeito é produzido por uma causa. A poeira de areia no deserto é produzida pelo vento; o ruído de um foguete é produzido pela explosão da pólvora. O universo em que vivemos, sistema solar (efeito), teve uma causa inicial, uma força que o gerou, a força inicial foi DEUS.
3ª Via – Ser Necessário e os seres possíveis – Todo ser vegetal ou animal tem a sua origem em outro ser da sua espécie. Todavia, retrocedendo de geração a geração, chegaremos ao ponto em que esses seres não existiam, chegaremos ao nada e o nada não produz coisa alguma, então o ser necessário criador de todos os seres existentes foi DEUS.
4ª Via – Ser Perfeito – No mundo, há graus de comparação em relação à perfeição dos seres; há pintores melhores e piores, que agradam e que desagradam nossos olhos; em todos os ramos existem os que se aproximam da perfeição e os imperfeitos. Para termos uma graduação, é necessário ter um parâmetro máximo da perfeição. Este máximo da perfeição é DEUS.
5ª Via – Inteligência Ordenadora – Existe uma ordem universal, que todos nós podemos facilmente observar. As quatro estações do ano, que aguardamos de acordo com a preferência de cada um; as estações lunares, o dia e a noite, a época de produção das frutas e das flores, a ordem em que são mantidos os planetas e as estrelas no universo. Ora, essa ordem não é obra do acaso, para ser mantida uma ordem é necessária uma inteligência ordenadora, indicada por São Tomás de Aquino como DEUS.
Não sei se ficou claro, espero que sim! Aumentando nossa fé.
Certa vez, no salão da Unimed Serranarj, em que trabalhavam quinze pessoas, um amigo, do setor administrativo, chegou perto da minha mesa e me perguntou:
– Doutor, se a teoria do boom (explosão) que gerou o universo for comprovada, como ficará Deus?
Eu lhe respondi, com outra pergunta:
– E qual foi a energia que gerou o boom (explosão)?
Para mim, DEUS existe. Ele será sempre a causa, a energia geradora do nosso universo!