“Dia dos Enfermos”, por Dr Júlio Carvalho

Santa Bernadette Soubirous

 

No Antigo Testamento (AT), a doença era considerada um castigo, uma punição divina, em virtude das falhas, dos pecados do ser humano, violando as leis de Deus. Os doentes não recebiam os cuidados necessários, enquanto os leprosos eram obrigados a abandonar a família, a comunidade a que pertenciam e a se isolarem em locais distantes, levando uma vida de sofrimentos e abandono. Quando alguém se aproximava, eram obrigados a gritar “impuros, impuros” para que as pessoas se afastassem. Esse temor pela lepra permaneceu através dos tempos, doença que, hoje, pode ser curada.

Acreditava-se na interferência divina na cura dos doentes (Ex.15.26 e Ex. 23.25 e II Rs. 5, 9-19). Acreditava-se, também, que Deus pudesse ressuscitar os mortos (I Rs 17, 17-22). Todavia, o Deus do Antigo Testamento era um Deus terrivelmente punitivo, que gerava enorme temor diante das falhas humanas, embora tenha retirado o povo judeu da escravidão no Egito, punido o faraó e levado o povo eleito à terra prometida, depois de superar todas as dificuldades no deserto (fome, sede, etc.) e derrotando diversos inimigos encontrados na terra prometida, que foi dividida entre as 12 tribos de Israel, depois da conquista.

No Novo Testamento, tudo se transforma. O Deus encarnado, Jesus Cristo, ensina a caridade, a reconciliação, o perdão, a solidariedade, a fraternidade, a misericórdia e, acima de tudo, o amor. Com A maiúsculo.

Nos Evangelhos, sentimos a preocupação de Jesus com os doentes; enviando seus 72 discípulos, 2 a 2, os recomendou: “Em qualquer cidade em que entrardes (…) curai os enfermos em que nela houver” (Lc 10, 8-9).

Na leitura dos quatro Evangelhos, encontramos uma sucessão de curas realizadas por Jesus Cristo, que sempre dizia, “tua fé se salvou!”. São curados leprosos (Lc 17, 12-14), epiléptico (Mt 17,18), paralítico (Jo 5, 8-9), o doente com a mão seca (Mt 12, 13), cegos (Jo 9, 6-7), infecções (Jo 4, 49-51), acentuado desvio da coluna (Lc 13, 11-13), hemorragia ginecológica (Mc 5, 25-34); ao ser preso, restituiu a orelha de Malco, cortada por Pedro. Provavelmente, outras curas deixaram de ser narradas pelos evangelistas.

 

São João Paulo II
São João Paulo II

 

A Igreja Católica Apostólica Romana, criada por Jesus Cristo, adotou esses cuidados com os doentes desde o seu início, surgindo pessoas santas que se dedicaram unicamente ao atendimento daqueles que sofrem. Com o tempo, surgiram os hospitais criados por ordens e organizações religiosas, as tradicionais Santas Casas, que se espalharam pelo mundo.

A partir de 1500, com a reforma protestante criada por Lutero, surgiram os hospitais evangélicos, luteranos e de outras denominações, baseados nos mesmos ensinamentos de Jesus Cristo.

Em Cantagalo, a Casa de Caridade foi criação das Lojas Maçônicas Confraternidade Beneficente e Ceres, numa demonstração de que os ensinamentos do Mestre chegaram até as associações filosóficas.

Em nossa cidade, quase ao mesmo tempo, o Apostolado da Oração, dentro dos mesmos princípios de amor ao próximo, criava o Asilo da Velhice Desamparada, visando amparar os velhos escravos, abandonados pelos seus senhores. Na década de 1950, com as importantes doações feitas pelo cantagalense Dr. Ary Pinheiro de Andrade Figueira, conceituado advogado no Rio de Janeiro, o asilo passou a se chamar Asilo Visconde de Pinheiro; em homenagem ao bisavô do grande benfeitor da instituição.

Até hoje encontramos ordens religiosas que se dedicam aos cuidados de hospitais, asilos e orfanatos exclusivamente; são homens e mulheres que entregam toda vida aos cuidados dos seus semelhantes.

No dia 11 de fevereiro de 1992, o Papa João Paulo II criou o Dia Mundial do Enfermo, com a finalidade de mostrar a necessidade de cuidados e carinho que todo doente necessita; essa data, no calendário litúrgico, é dedicada a Nossa Senhora de Lourdes.

Sei que muitos não acreditam em milagres; considera-se milagre toda cura que não encontra explicação dentro da medicina. A própria Igreja Católica é rigorosa no reconhecimento de curas milagrosas.

Na França, em Lourdes, uma mulher apareceu, numa gruta, para uma menina analfabeta chamada Bernadete, 18 vezes, em 1885, declarando ser a Imaculada Conceição. Foi construído um santuário, visitado anualmente por milhões de pessoas, alguns por religiosidade, outros por curiosidade.

Neste local são relatadas curas milagrosas. Para os leigos, são milhares de curas. Para a Igreja Católica são apenas 67. Por que essa discrepância?

 

Santuário de Nossa Senhora de Lourdes
Santuário de Nossa Senhora de Lourdes

 

A Igreja Católica criou um escritório para analisar os casos considerados milagrosos, formado por médicos de várias partes do mundo, de diversas religiões e incrédulos. Este escritório passa um pente fino em todos os casos analisados, de modo que, até agora, só 67 foram considerados curas milagrosas; que não encontraram explicações dentro da medicina. Foram eles:

  • Tuberculose pulmonar: 10 casos;
  • Tuberculose de outros órgãos: 11 casos;
  • Doenças neurológicas: 10 casos;
  • Cegueira: 4 casos;
  • Tumores malignos: 5 casos;
  • Doenças cardíacas: 3 casos;
  • Doenças da coluna: 4 casos;
  • Fístulas crônicas: 3 casos;
  • Doenças ósseas: 4 casos;
  • Outras doenças: 13 casos.
  • Total de casos: 67 casos.

A cura de uma peritonite tuberculosa, na época em que não havia medicamentos específicos, determinou a conversão do médico e cientista francês Dr. Alex Carrel.

Acredito que todos aqueles que se dedicam às atividades médicas e paramédicas não escolheram apenas uma profissão, antes dela têm uma missão importantíssima, cuidar com competência, dedicação total e muito amor do ser humano, criado a semelhança de Deus.

 

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.
Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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