“Dinda”, por Dr Júlio Carvalho

Carlos Teixeira Camacho - Dinda

Carlos Teixeira Camacho – Dinda

Jamais soube a origem do seu apelido, todavia tive a felicidade de privar da sua amizade durante mais de meio século e tê-lo com companheiro de luta em algumas situações importantes da minha vida.

Seu nome de registro era Carlos Teixeira Camacho, filho do casal João Camacho e Emília Teixeira Camacho. Era membro de uma irmandade de oito filhos. Todos criados dentro do espírito de amor ao próximo e solidariedade humana.

Desde jovem, dedicou-se à contabilidade, trabalhando, inicialmente, no escritório do conceituado contador Francisco Eugênio Vieira; verdadeira escola de contabilidade que funcionou em Cantagalo durante muitos anos.

Mais tarde, passou a trabalhar no Unibanco, onde soube conquistar mais amigos em virtude da amabilidade com que a todos atendia. Terminada sua atividade como bancário, passou a trabalhar como contador, mantendo seu escritório na própria residência, na rua Nilo Peçanha, até o final da sua vida.

No dia 20 de janeiro de 1974, o Conselho Deliberativo do Hospital de Cantagalo elegeu a nova Diretoria Executiva, assim constituída:

  • Provedor – Júlio Marcos de Souza Carvalho;
  • Vice – João Nicolau Guzzo;
  • Tesoureiro – Carlos Teixeira Camacho;
  • Secretário – Dalton Carvalho Robadey.

Fomos reeleitos algumas vezes, permanecendo na direção do Hospital de Cantagalo durante dez anos, Dinda e eu, uma vez que outros cargos foram substituídos por desistência de membros do primeiro grupo eleito.

Nesse período de dez anos, meu contato com Dinda passou a ser diário; as dificuldades financeiras eram enormes como em quase todas as instituições filantrópicas brasileiras. Nos dois últimos períodos, Dinda ocupou a secretaria e José Antônio W. Machado o cargo de tesoureiro.

Todos tínhamos menos de quarenta anos, mas tivemos a coragem e a ousadia de conseguir um empréstimo do Fundo de Assistência Social (F.A.S.) da Caixa Econômica Federal, graças aos esforços do Dr. Flavio Heleno Popp de Figueiredo e ao prestígio do Deputado Federal Leo Simões. Foram deixados construídos e mobiliados 1.200 m² do novo hospital, enquanto 600 m² já se encontravam em fase final de acabamento. Nesse período, o companheiro Dinda estava ao meu lado, sempre me incentivando nos momentos mais difíceis da jornada.

Em 1984, perdemos a eleição no Hospital de Cantagalo, todavia nossa amizade continuou até o final de sua vida.

Em julho de 2008, o Padre Marcelo Campos da Silva me convidou para coordenar as obras de restauração do prédio da Matriz da Paróquia do Santíssimo Sacramento, de Cantagalo; nessa ocasião, disse-lhe que só aceitaria se pudesse indicar um advogado e um contador, pois, como médico, não entendia de leis nem de contabilidade. Aceita a minha proposta, indiquei Dr. José Leopoldo R. Goulart e Dinda.

Foram quatro anos de intensa luta, levantando recursos para um trabalho gigantesco para recuperação de um prédio profundamente danificado. Nosso contato passou a ser diário, só tomando qualquer decisão depois de consultar Dinda sobre as finanças. Fez um trabalho perfeito, evitando sempre usar a expressão “Despesas Diversas“, gostava de especificar cada gasto realizado. Mensalmente, um balancete era afixado no quadro de avisos da igreja. O povo acreditou no trabalho da comissão de obras e colaborou generosamente. Depois de quatro anos, com tudo pronto, aplicou-se R$ 560.786,00 no exaustivo trabalho e foi passado para a conta da igreja um saldo de R$ 17.135,01. Trabalho perfeito do contador, o balanço dos quatro anos foi publicado no Jornal da Região e impresso em papel de ótima qualidade, distribuído a todos que colaboraram no trabalho de restauração.

Em 2011, Dinda foi convidado a ocupar o cargo de Provedor do H.C., num momento de crise e de desentendimentos internos. Aceitou o convite e, com seu jeito tranquilo, conseguiu pacificar a situação, permanecendo no cargo até a véspera do seu falecimento.

Durante muitos anos, Dinda foi membro ativo da Loja Maçônica Confraternidade Beneficente de Cantagalo, ocupando o cargo de Venerável em dois períodos, 1981 a 1985 e 1993 a 1995.

Afastando-se das atividades maçônicas, passou a frequentar os sacramentos da Igreja Católica, sendo, durante vários anos, juntamente com sua esposa, o coordenador da Pastoral da Família, atuando intensamente e realizando diversos eventos.

Colaborou, também, com o governo municipal, sendo diretor da Câmara Municipal de Cantagalo e, em outra ocasião, assessor da Secretaria de Saúde de Cantagalo.

Infelizmente, durante a pandemia de Covid, Dinda perdeu seu filho Anderson, o que lhe causou profunda tristeza. Daí para frente, percebi que o amigo, embora permanecesse firme no seu trabalho e fiel a Deus, sempre pronto a servir os que o procuravam, sem qualquer tipo de revolta, jamais apresentou a mesma alegria de outrora.

Além do seu tradicional bigode, Dinda possuía outras características marcantes: estava sempre de bom humor, procurando atender a todos que necessitavam dos seus trabalhos de modo afável, educado e carinhoso.

Dinda, durante muitos anos, preparou minha declaração do Imposto de Renda; ao terminar não queria me cobrar, mas eu não aceitava, pois esta era a sua profissão. Do mesmo modo, todos os meses ia a minha residência para entregar o recibo da nossa colaboradora doméstica e o eSocial. O mesmo acontecendo, em setembro de cada ano, com o Imposto Territorial Rural (ITR), tudo graciosamente.

Dinda e sua esposa, além dos três filhos, criaram o José Mário, dando-lhe muito carinho e educação.

Infelizmente, depois de cerca de dois meses de sofrimento, Dinda, no dia 18 último, faleceu vítima da mesma patologia que exterminou seu pai, meu saudoso compadre e amigo João Camacho.

Dinda deixa viúva a senhora Solange, duas filhas, genros e seis netos, que darão continuidade a sua vida e ao seu trabalho. A todos os meus votos de profundo pesar e que tenham a certeza da ressurreição da alma. Lembrando sempre do que escreveu São João: “Na casa de Pai há muitas moradas. Não fosse assim, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós” (Jo 14.2).

Neste ano, é o sexto amigo que perco, o que torna meu mundo cada vez menor. Todavia, entendo que é necessário deixar lugar para os mais novos, afinal estudos mostram que o planeta Terra não suportará mais do que 10 bilhões de habitantes.

Que Deus guarde as almas dos que partiram!

 

Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo
Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo

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