“Do Ferroviário F.C. ao Tribunal de Justiça”, por Dr Júlio Carvalho

Numa caixa em que minha mãe guardava vários retratos, encontrei uma antiga fotografia do Ferroviário F.C., agremiação esportiva que durante muitos anos representou o futebol de Cantagalo em competições regionais e estaduais.

O Ferroviário F.C. foi criado em 1936 por pessoas diretamente ligadas à Leopoldina Railway: Sr. José Marinho Falcão (agente da estação), Dr. Carvalho Júnior (médico dos ferroviários durante 38 anos), Sr. Miguel Caetano Mendes (funcionário da estação) e o Sr. Pinho (inspetor da Leopoldina).

O clube, embora da Leopoldina, permitia a participação de toda sociedade cantagalense. Na foto que encontrei, o time era formado por Vicente, Pedro Américo e José Vieira; Michel Calil, Lelinho Tardin e Clarindo Nicolau; Walter Olímpio, Silas, Antônio Penna, Sady Farah e Milton. Dessa equipe, somente três eram ferroviários, trabalhando na parte burocrática: Antônio Penna e os irmãos Silas e Milton Mendes de Oliveira.

Quando os jogos eram contra adversários mais fortes, a diretoria procurava buscar reforços. Eram chamados, em geral, Manoelzinho, de Boa Sorte, habilidoso centroavante, que durante a 2ª Guerra Mundial, estando servindo na artilharia no litoral pernambucano, jogou no Náutico. Lair M. de Oliveira, vigoroso zagueiro, que batia bem, na época em que não existiam cartões amarelo e vermelho, era lotado em Itaboraí. Algumas vezes, era chamado, também, Orlando Regazzi, maior atacante que nossa região já possuiu, que jogava no Cordeiro F.C.

Como a marcha do tempo é inclemente, todos os componentes da foto já partiram para a vida eterna; inclusive meu amigo de muitos anos Paulo Lysis Silva Mendes, que aparece como mascote do time. Analisando a fotografia, um fato despertou minha atenção, dois jovens componentes da defesa estudaram Direito, prestaram concurso público para Juiz de Direito e chegaram a Desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro: o zagueiro Pedro Américo e o lateral esquerdo Clarindo. Dificilmente isso pode acontecer!

Começando pelo zagueiro: Pedro Américo Rios Gonçalves nasceu em São Francisco de Paula, Trajano de Moraes, filho de Alexandrino Gonçalves de Souza e da Profa. Lyria Rios Gonçalves, que durante vários anos foi Diretora do Grupo Escolar Lameira de Andrade.

Bem jovem, Pedro Américo veio para Cantagalo a fim de estudar no Colégio Euclides da Cunha; radicou-se totalmente a nossa terra, sendo considerado um cantagalense. Ainda muito jovem, enamorou-se da carioca Mary, filha dos cantagalenses Dr. Ary Pinheiro de Andrade Figueira e da Sra. Mara Rita Pinheiro de Andrade Figueira. Anos mais tarde se casaram, resultando do matrimônio um único filho, que recebeu o mesmo nome do pai.

Ficando viúvo, o Dr. Pedro Américo casou-se com a Dra. Ana Célia; nascendo desse casamento a menina Larissa.

Inicialmente, o Dr. Pedro Américo foi advogado do Clube Militar do Rio de Janeiro, chegando à chefia do Departamento Jurídico da instituição. Ao ingressar na Magistratura Fluminense, ocupou o cargo de Juiz de Direito nas seguintes comarcas: Miracema, Mendes, Itaperuna, Barra do Piraí e Nova Iguaçu.

Como Desembargador, ocupou diversos cargos no Tribunal de Justiça do estado do Rio de Janeiro; sendo eleito, em 19 de dezembro de 1988, presidente do órgão máximo da justiça fluminense. Como Presidente do Tribunal de Justiça, realizou a reforma dos prédios dos fóruns de Cachoeiras de Macacu, Cantagalo, Sapucaia e Nova Iguaçu. Outro fato marcante na gestão do Dr. Pedro Américo foi a criação da Escola da Magistratura do Estado do Rio de janeiro (Emerj), cuja biblioteca recebeu o nome do seu criador.

No Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Pedro Américo foi um incansável defensor de Cantagalo na questão de nossas divisas, quando municípios vizinhos, levados por ambição, desejaram se apossar de nossas três fábricas de cimento. Trabalho que continuou, depois, como consultor jurídico do escritório Zveiter, do Rio de Janeiro.

Dedicou-se, também, ao magistério superior, lecionando Direito Civil e Introdução à Ciência do Direito na Faculdade de Direito de Nova Iguaçu. Ocupando o cargo de Diretor da Sociedade de Ensino Superior, no biênio de 1977-79.

Portador de uma cardiopatia, faleceu no Hospital de Cantagalo, assistido pelo saudoso Dr. Fernando Alqueres e por mim, vítima de edema agudo do pulmão; sendo sepultado no cemitério de nossa cidade ao lado de seus pais, sua sogra e sua primeira esposa, no dia 08 de setembro de 2006.

Escrever sobre o Dr. Clarindo de Brito Nicolau é muito fácil, tamanha a riqueza de sua vida esportiva, jurídica e familiar. Nascido em Cantagalo, filho do comerciante Sr. João Nicolau Filho, mais conhecido como seu Janjão, e de Da. Clarinda de Brito Nicolau, era membro de uma irmandade de 14 membros.

Desde jovem, praticava o futebol com grande categoria e aos 16 anos era titular do time do Ferroviário F.C. Versátil, atuava em várias posições: lateral esquerdo, meio de campo e ponta esquerda. No Rio de Janeiro, teve a oportunidade de treinar no Vasco da Gama (seu clube do coração) e no Fluminense. Em Niterói, quando estudava no Colégio Plínio Leite, treinando no Canto do Rio, sofreu grave lesão do menisco, desistindo do futebol. Hoje, seria recuperado rapidamente!

Começou como bancário do Banco do Brasil. Ao mesmo tempo, estudou direito na Faculdade de Direito de Niterói, sendo diplomado em dezembro de 1954. Aprovado em concurso público de provas e de títulos, ingressou na magistratura fluminense, exonerando-se do Banco do Brasil.

No dia 3 de janeiro de 1969, assume a titularidade na comarca de Santa Maria Madalena, passando a seguir por Cordeiro, Saquarema, Barra Mansa, Resende, Volta Redonda, Maricá, São Gonçalo, Niterói e Nova Iguaçu, onde permaneceu por sete anos, sendo removido, em 1979, para a 5ª Vara da Fazenda Pública do Rio de Janeiro.

Em 1988, foi promovido a juiz do tribunal de Alçada Cível e, em 19 de março de 1993, a desembargador, por merecimento, exercendo suas funções na 6ª Câmara Cível, até se aposentar compulsoriamente.

Durante suas atividades jurídicas, sempre atuou com correção e conhecimento, recebendo diversas condecorações.

Desde a sua juventude em Cantagalo, namorava a jovem Edda Itabaiana de Oliveira, filha do casal Dr. Aires Itabaiana de Oliveira e da Profa. Ida Itabaiana de Oliveira. Casaram-se na Igreja Nossa Senhora das Dores, no Ingá, Niterói, no dia 13 de fevereiro de 1954. O casal constituiu uma bela família de cinco filhos: Fábio, Míriam, Maisa, Flávio e Fernando. Quinze netos e dois bisnetos. Esse casal amigo chegou às Bodas de Diamante no dia 13 de fevereiro de 2014, comemoradas com linda festa no Clube Naval de Niterói.

Sempre que podia o casal estava em Cantagalo, no apartamento do edifício Mansur. O Dr. Clarindo jamais esquecia duas frutas do nosso jardim: as mangas e os cachos de Olhos de Boi.

Infelizmente o tempo passa e os amigos desaparecem, ficando a saudade e lembrança dos bons momentos vividos!

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