“Dois Gigantes”, por Dr Júlio Carvalho

Os primeiros séculos do cristianismo foram terrivelmente turbulentos; depois da morte e ressurreição de Jesus, seus seguidores foram perseguidos em Jerusalém: Estevão é morto a pedradas após julgamento sumário; Tiago, irmão de João, é morto a espada por ordem de Herodes, ocorrendo a dispersão da maioria dos apóstolos e discípulos pela Samaria, Galileia e para fora da Palestina.

A seguir, durante três séculos, os adeptos do cristianismo foram perseguidos impiedosamente pelo império romano até o momento da conversão de Constantino. Os seguidores de Jesus eram torturados e executados por toda parte do império, mas não renunciavam a fé. Dizia-se que o sangue derramado pelos cristãos formava sementes que faziam brotar novos adeptos do cristianismo.

Nesse período, surgiram os grandes líderes do cristianismo, entre eles São Pedro e São Paulo, cujas solenidades ocorrem no dia 29 de junho, considerado, também dia do Papa.

Por que razão a solenidade dos dois santos ocorre no mesmo dia? No ano de 395, Santo Agostinho, Bispo de Hipona (norte da África), em um discurso declarou: “São Pedro e São Paulo, na realidade, eram como um só. Embora tenham sido martirizados em dias diferentes, deram o mesmo testemunho. Pedro foi à frente; Paulo o seguiu. Celebramos o dia festivo consagrado para nós pelo sangue dos apóstolos. Amemos a fé, a vida, os trabalhos, os sofrimentos, os testemunhos e as pregações destes dois apóstolos”.

São Pedro
São Pedro

Pedro, do ponto de vista histórico, era um pescador da Galileia, residente em Cafarnaum, que certo dia abandonou tudo e acompanhou o Cristo, sendo escolhido para chefe da Igreja Católica.

Certa vez, li uma notícia de que escavações realizadas em Cafarnaum encontraram os restos de uma casa de dois pisos, em que a parte de baixo era uma garagem com barcos de pesca e, em cima, uma residência. Acreditou-se tratar-se da casa de São Pedro que não seria um simples pescador, mas dono de uma empresa de pesca. Se essa hipótese for verdadeira, aumenta o valor de São Pedro que abandonou bens materiais e a família (Mc 1, 30-31) para seguir Jesus.

As leituras parecem mostrar que Pedro era um homem rude, pouco inteligente, que alternava momentos de coragem com atitudes de covardia, mas era fiel a Cristo. A partir de Pentecostes, por ação do Espírito Santo, torna-se um grande pregador; com um só discurso converte e batiza três mil pessoas em um só dia.

Por medo dos judeus, nega o Cristo três vezes. Todavia, após a ressurreição, as margens do mar da Galileia, declara seu amor ao Mestre por três vezes, sendo escolhido para chefe da Igreja de Cristo. Nosso primeiro Papa!

Mais tarde, segue para Roma, no momento das grandes perseguições, é preso e condenado a ser crucificado. Considerando que não era digno de morrer como Jesus, solicita ser crucificado de cabeça para baixo. Foi executado no ano de 64, no governo do imperador Nero, sepultado no local onde foi construída a monumental basílica de São Pedro, sede do Vaticano.

Simão foi a pedra sobre a qual Jesus fundou sua igreja: “Tu és pedra, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela” (Mt 16,18).

Estátua de São Paulo na cidade do Vaticano, em frente à Basílica de São Pedro. Uma escultura renascentista.
Estátua de São Paulo na cidade do Vaticano, em frente à Basílica de São Pedro. Uma escultura renascentista.

Ao contrário de Pedro, Paulo era um homem de cultura e de posses, nascido na cidade de Tarso, na Cilícia, que hoje corresponde a Turquia. Seu nome era Saulo, judeu da tribo de Benjamim, judeu convicto, que na adolescência foi aluno de Gamaliel, em Jerusalém. Pertencia ao ramo dos fariseus. Embora judeu, Saulo tinha a cidadania romana.

No início do Cristianismo, Saulo se caracterizou por ser terrível perseguidor dos seguidores de Cristo. Assistiu a execução de Estêvão, invadia as residências levando à prisão os adeptos da nova seita.

Recebeu do sumo sacerdote carta de autorização para viajar a Damasco, onde perseguiria os seguidores de Cristo. Todavia, na viagem, ocorreu sua conversão. Atingido por intensa luminosidade, cai ao solo e ouve uma voz que lhe diz: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Ele interrogou: “Quem és Senhor?”. A resposta: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues”. (At 9, 3-6).

A intensidade luminosa foi de tal ordem que Saulo permanece cego sendo levado para Damasco, onde é batizado e curado por Ananias. O terrível perseguidor se transforma em propagador do Evangelho de Jesus Cristo.

Uma vez convertido, Paulo viaja para a Arábia onde passa algum tempo mal conhecido em sua história. Retornando a Damasco, passa a pregar os ensinamentos de Cristo. Sua pregação gera conflitos, Paulo tem a vida ameaçada e foge de Damasco.

Em Jerusalém, a situação de Paulo é inconfortável; os judeus procuram mata-lo por traição as Leis de Moisés, enquanto os seguidores de Cristo o temem em virtude das violentas perseguições anteriores.

É enviado a Tarso, onde permanece cerca de dez anos, considerado o período silencioso do ministério do apóstolo Paulo, mas é provável que tenha continuado trabalhando e criado algumas igrejas nessa região.

Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.
Júlio Carvalho é médico e ex-vereador em Cantagalo.

Paulo foi o grande missionário do cristianismo levando o Evangelho ao mundo conhecido daquela época. Durante cerca de dez anos, realizou três viagens missionárias.

Na primeira viagem, Paulo estava acompanhado por Barnabé e João Marcos, que os abandonou durante a viagem, retornando para Jerusalém.

Na segunda viagem, Paulo foi acompanhado por Silas, também conhecido como Silvano. Foi uma viagem muito mais longa, chegando a Macedônia. Paulo visitou as cidades de Filipos, Tessalônica, Beréia, Atenas e Corinto.

Como os gregos eram politeístas, em Atenas, Paulo encontrando um altar vazio dedicado ao deus desconhecido aproveitou-se para falar sobre Jesus Cristo como o deus desconhecido dos gregos.

Na terceira viagem de Paulo, entre 54 e 58 d.C., passou pela região da Galácia e Frígia, seguindo depois para a Ásia e sua principal cidade Éfeso. É provável que as sete igrejas da Ásia tenham sido criadas nessa época.

Em cada cidade, Paulo pregava o Evangelho, criava grupos batizados, estabelecia igrejas, nomeava presbíteros e mantinha contato com cada igreja através de cartas e, quando podia, retornava aos locais.

Paulo deixou 14 cartas que até hoje servem como orientação doutrinária para todo cristão. Colocando a fé acima da Lei de Moisés, Paulo separou o cristianismo como religião independente do judaísmo.

Em suas viagens, Paulo muito sofreu: “Muito mais do que eles, pelos trabalhos, pelas prisões, por excessivos açoites; muitas vezes em perigo de morte; cinco vezes, recebi dos judeus quarenta chicotadas menos uma; três vezes, fui batido com varas; uma vez, apedrejado; três vezes naufraguei; passei uma noite e um dia em alto-mar” (2 Co 11, 23- 25).

Jesus Cristo foi a pedra angular, Pedro e Paulo as duas grandes colunas do Cristianismo que continua se expandindo por todo o planeta Terra.

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

Ver anterior

Pesquisa do Sebrae aponta que 47% dos pequenos negócios conseguiram crédito na crise

Ver próximo

Ciclistas se confraternizam no 1º Pedal Macuco da Paróquia de São João Batista

Comente

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Populares

error: Conteúdo protegido !!