Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Entre o dr. Flávio Luiz Pinaud, juiz da Comarca, e o prefeito Henrique Frauches, na posse deste, em 5 de fevereiro de 1963, está a homenagem de Dona Lourdes ao seu padrinho Getúlio Vargas. Os demais personagens da foto: Telva, Celso, Joel Naegele, Joel Mendes e Reynaldo, chefe da agência do IBGE em Cantagalo.
Conheci a professora Maria de Lourdes Dietrich Gonçalves, mais conhecida por Dona Lourdes, nos primeiros dias de março de 1948, quando iniciei o curso ginasial no Ginásio Municipal Euclides da Cunha, que funcionava na Rua Nilo Peçanha, após o preparatório para o Exame de Admissão, com a professora Dulce Lutterback.
Os meus colegas e amigos da turma 1948/1951 conhecem esses tempos de fraternidade que vivemos por quatro anos letivos. Ali construímos fortes amizades que permanecem até hoje.
A professora Maria de Lourdes ministrava as disciplinas Canto Orfeônico, Educação Moral e Cívica e Artes que, juntamente com Organização Social e Política Brasileira, foram eliminadas do currículo desse nível educacional. “Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si”. Quem não se lembra das aulas de Canto Orfeônico, dos cânticos dos hinos brasileiros, de La Marseillaise… Allons enfants de la Patrie / Le jour de gloire est arrivé! Me lembro até hoje. Aprendi Geografia com ela. Seus alunos sabiam desenhar mapas de todos os continentes e países, decorei o nome das capitais de todos eles. Essa informação é pouco válida hoje. A antiga e fracassada União Soviética, uma ditadura comunista que desmoronou junto ao “muro de Berlim”, hoje está fragmentada em dezenas de países. Idem a África. Nas Américas não houve mudanças significativas.
Em Artes, aprendemos muitas coisas que não foram úteis na minha vida, mas era um ócio criativo…
Dona Lourdes era indispensável nos carnavais da época. O “Bloco da Dona Lourdes” – Paz e Amor – fazia sucesso. Em um desses carnavais, desfilei no bloco com a fantasia do Super-Homem. Eu era magrelo, um palito. Alguns engraçadinhos diziam que era o Clark Kent depois da gripe espanhola de 1918… Ela participou ativamente de vários blocos: Caturra, Treme Terra, Bando da Lua, Os Piratas.
A professora Maria de Lourdes também estava presente no curso Científico, agora no Colégio Euclides da Cunha, que ficava onde é a sede atual da agência do Banco do Brasil. Era um colégio particular, dos irmãos Teixeira: Messias e Mário.
Terminado o curso Científico, fui morar em Niterói. Meu pai, Henrique Luiz Frauches, tomou posse como prefeito em 5 de fevereiro de 1955. Lá estava Dona Lourdes, agora como Secretária da Prefeitura. Foi uma excelente colaboradora de Henrique, assim como de outros chefes do Executivo cantagalense.
Voltei a encontrar Dona Lourdes, agora como vereadora, em fevereiro de 1963, na posse de Henrique no seu segundo mandato (1963/1967). Eu a substituí no cargo de Secretário da Prefeitura. E encontrei o altar erigido por ela ao “santo” Getúlio, “o Pai dos Pobres”, seu padrinho de formatura do curso Normal. Esteve presente na administração de vários prefeitos, em diversos cargos. Como vereadora continuou a ser excelente colaboradora.
Estava diariamente em contato com ela no Colégio Cenecista. Ela era diretora e professora, eu secretário e instrutor de Organização Social e Política Brasileira. Mais tarde, o meu grande amigo e professor Ewandro do Valle Moreira assumiu a direção do Colégio e eu continuei como secretário até dezembro de 1966.
Tenho de Dona Lourdes boas lembranças. Admirava o seu espírito de coletividade, de generosidade como professora, como mestra de bloco de carnaval, como Secretária da Prefeitura, como Vereadora, como diretora do Colégio Cenecista. Ela, sem dúvida, marcou positivamente a vida de diversas gerações de cantagalenses.
Maria de Lourdes Dietrich Gonçalves não era cantagalense de nascimento (*). Ela veio a este mundo em 2 de fevereiro de 1913, na cidade do Rio de Janeiro. Seus pais: Victor Dietrich e Izolina Calábria. Seu Victor era descendente de alemães e dona Izolina de italianos. Maria de Lourdes era um dos três filhos do casal. Os outros dois faleceram na infância.
Victor era farmacêutico no Rio. A convite da família Vollu veio residir em Cantagalo, quando a filha estava com sete anos de idade. Foi “de fato” uma cantagalense da gema. Victor adquiriu uma fazenda, em sociedade com seu cunhado, Luiz Calábria. Cuidavam da lavoura e da pecuária. Desfeita a sociedade, Victor passou a fabricar queijos. Foi, mais tarde, nomeado funcionário da Prefeitura, indo residir numa casa ao lado da residência do seo Paschoal, em frente ao local que abrigaria a Praça de Esportes José dos Santos Vieira. Adotou o filho de sua colaboradora e amiga Vera Mattos, registrando-o como Victor José de Mattos Dietrich, um extraordinário músico, que reside em Portugal e faz sucesso por toda a Europa. Um cantagalense do mundo.
Maria de Lourdes estudou no colégio de Corina Penna da Fonseca, com quem aprendeu as primeiras notas ao piano. Fez o antigo curso primário no internato do Colégio de Irmãs, na cidade do Rio de Janeiro. O ginasial foi realizado em Nova Friburgo, no Colégio Nossa Senhora das Mercês.
Casou-se com Sebastião Gonçalves, proprietário rural e taxista, em 8 de dezembro de l938, na Igreja do Santíssimo Sacramento. Depois de casada, cursou o ensino médio, onde obteve, seguidamente, o título de normalista e de técnico em contabilidade, no antigo Ginásio Euclides da Cunha, onde iniciou sua carreira docente. Em seguida, concluiu o curso de Direito na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, e o Conservatório Vila Lobos, no Rio, em Piano e Canto Orfeônico.
Católica praticante, estava presente em todas as solenidades, em particular, nas procissões, com andores caprichosamente ornados. Foi a introdutora do Baile das Debutantes, continuado por Luiz Carlos Falcão, o Calufa.
A história de Maria de Lourdes Dietrich Gonçalves não terminou com o seu falecimento (19 de março de 1992). Ela vive na memória de seus colegas de trabalho, dos seus discípulos, dos políticos por ela ajudados, de todos os que com ela conviveram em cerca de setenta anos.
Ah, Dona Lourdes, se soubéssemos como o mundo mudaria, teríamos retido o tempo, o mapa, a geografia, dançado mais a paz, cantado bem mais o Amor…
Éramos felizes. Será que sabíamos?
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(*) Dados biográficos extraídos do livro O sobrado – Memórias e histórias de uma geração, do meu querido amigo João Nicolau Guzzo (Cantagalo, RJ: Ed. do Autor, 1998, p.p. 217-219).
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.