“Dona Maricota”, por Dr Júlio Carvalho

Minha querida e saudosa mãe, que só viveu para a família e o lar, algumas vezes, com carinho, falava sobre a Dona Maricota. Mas quem foi a Da. Maricota?

Seu nome verdadeiro era Maria Belliene de Olival ou d’Olival, como outras vezes vi escrito. Era professora e diretora do Colégio Na. Sa. das Dores, responsável pela educação de algumas gerações de cantagalenses e crianças de outros municípios vizinhos que vinham estudar em Cantagalo.

Filha de Alberto Augusto Belliene e de Joana Roure Belliene, nasceu na Fazenda de São Joaquim, no ano de 1869. Realizou seus primeiros estudos no Colégio Cantagalense, conceituado estabelecimento de ensino criado e dirigido pela professora Charlotte Spraimann.

Mais tarde, depois de prestar concurso público junto a Inspetoria de Ensino, foi nomeada professora pública, em 1895. Permaneceu durante três anos dirigindo a 2ª Escola Pública de Instrução Primária sediada em Cantagalo, onde se destacou pelo seu conhecimento e zelo na administração da escola. Nesse período, os pais faleceram e, com a mudança do governo da província fluminense, foi afastada do cargo.

Desejando continuar como educadora da infância, Da. Maricota criou o Colégio Na. Sa. das Dores, inicialmente só para meninas e, a partir de 1910, para os dois sexos. Embora vivesse da renda auferida com seu estabelecimento de ensino, Da. Maricota, por sua formação católica, recebia alunos desprovidos de recursos financeiros para pagar as mensalidades.

O Colégio Na. Sa. das Dores permaneceu em contínuo funcionamento durante 38 anos (1900-1938) sendo um marco histórico na educação de várias gerações cantagalenses. Não se limitava ao ensino das matérias fundamentais, o grupo feminino recebia aulas de tricô e crochê; lembro-me que minha mãe confeccionava belíssimos sapatinhos e meias para crianças recém-nascidas, que fazia questão de oferecer de presente às jovens mamães amigas. Habilidade que aprendera no colégio de Da. Maricota!

No final do ano, o encerramento das atividades no Colégio Na. Sa. das Dores era assinalado por uma apresentação teatral no Cine Teatro Elias, presenciada pela sociedade cantagalense. Era o teatrinho da Da. Maricota!

Além de professora, Da. Maricota era exímia pianista, arte que aprendera com os mestres Guilherme Beker e José Alves. Manteve, durante muitos anos, ensino da arte musical em sua residência, ao lado da praça principal da cidade. Algumas pessoas da minha geração com ela aprenderam a executar músicas nesse instrumento que outrora havia em várias residências.

A mestra foi casada com o Sr. Diogo Lopes de Olival que, durante a sua vida, foi o diretor-gerente do jornal semanário Correio de Cantagalo, que funcionou até o ano de 1930, mas do casamento não surgiram filhos.

No dia 26 de janeiro de 1938, o prefeito de Cantagalo Sr. Antônio da Silva Pinto, considerando o extraordinário trabalho da Da. Maricota como serviço público prestado à comunidade, a aposentou como professora municipal, merecidamente.

Se não bastasse sua labuta como professora por cerca de quarenta anos, Da. Maricota foi, também, durante 60 anos, regente do coro da Paróquia do Santíssimo Sacramento de Cantagalo, graciosamente. Durante minha juventude, lembro-me de Da. Maricota subindo com certa dificuldade e vagarosamente a escada que dá acesso ao coro, em virtude da idade e do seu corpo pesado, mas não faltava ao compromisso assumido com a igreja.

Seria injusto deixar de citar nesse artigo a figura da Profa. Elvira Belliene Goulart (Dona Yaiá), irmã de Da. Maricota e companheira inseparável da mesma durante os 38 anos do Colégio Na. Sa. das Dores e por toda vida.

Aos 93 anos de uma vida profícua, Da. Maricota, ao descer a pequena escada que dava acesso à sala principal de sua residência, sofreu queda, resultando fratura do fêmur e consequente falecimento, provavelmente por pneumonia decorrente da imobilidade no leito.

No bairro Santo Antônio, no 1º distrito de Cantagalo, existe a E. M. Maria Belliene D’Olival, justíssima homenagem a uma cantagalense que durante toda vida se dedicou ao ensino de várias gerações.

 

Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.
Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.

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