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Dr. Cassinho foi uma figura marcante na cidade de Cantagalo, destacando-se como advogado, jornalista, político e poeta. Foi registrado no cartório civil como Cássio Passos Barreto, filho de Dr. Rômulo da Câmara Barreto, advogado, e da Sra. Maria Rosa Passos Barreto, Dona Sinhá Passos. Nascido em 3 de maio de 1897.
Dr. Cassinho, como sempre era chamado, foi advogado destacado em Cantagalo e em nossa região; homem desprovido de ambições financeiras, estava sempre pronto a atender todos que necessitavam de seus serviços jurídicos em uma época em que não havia a Defensoria Pública.
Como jornalista, foi redator do Correio de Cantagalo e, posteriormente, da Voz de Cantagalo. Sempre pregando e defendendo a democracia. Em 1932, escreveu artigos favoráveis à Revolução Constitucionalista de São Paulo, durante o primeiro governo de Getúlio Vargas, o que lhe causou a prisão, sendo encaminhado para a cidade de Niterói, na época capital do Estado do Rio de Janeiro.
Colocava-se sempre na oposição. Durante o governo municipal do Sr. Acácio Ferreira Dias, travou com o mesmo discussão política através da imprensa local. Todavia, não guardando rancor dos adversários, no dia 15 de julho de 1933, enviou ao seu oponente o seguinte cartão:
“As amizades particulares e pessoais devem pairar acima de quaisquer interesses de ordem pública. Assim, pois, partindo desse princípio, eu venho felicitar-te pelo seu aniversário natalício, ocorrido em 13, com os meus sinceros votos de prosperidade sempre crescente ao lado de sua dedicada esposa e queridos filhinhos” – Cassinho.
Que belo e bom tempo, os adversários se respeitavam!
Dr. Cassinho parecia um homem despreocupado com a vida, estava sempre tranquilo e sorridente. Possuía um velho automóvel, que frequentemente enguiçava nas ruas da cidade. Ele descia calmamente, pedia para que populares empurrassem o veículo e partia sorridente, acenando com a mão esquerda para os que haviam ajudado na manobra.
À noite, gostava de frequentar com os amigos o bar do Sr. Janjão, onde comiam deliciosos salgadinhos feitos pela família do proprietário, bebiam cervejas e contavam histórias ocorridas na região. Certa vez, um dos companheiros noturnos se excedeu nas bebidas e se deu mal; ocasião em que o Dr. Cassinho saiu com essa:
“Não sei porque disse,
eu disse não sei porque
você foi apagar o fogo
e o fogo pegou você!”
Assim era o Dr. Cassinho, brincava em todas as oportunidades que surgissem.
Sempre que podia, gostava de pescar e caçar inhambu, ligado nessas atividades à família do farmacêutico Euclides Sant’Anna e a outros amigos da cidade.
Na política, presidiu durante muitos anos a União Democrática Nacional (U.D.N.), partido cujo emblema era uma tocha acesa, circundada pela frase “O Preço da Liberdade é a Eterna Vigilância”. Apesar da luz emitida pela tocha e pela frase, acompanhada de eloquentes discursos nos comícios e encontros políticos, a U.D.N. jamais venceu uma eleição em Cantagalo.
A cada quatro anos, a U.D.N., coligada a outros partidos políticos, conseguia eleger dois ou três vereadores, numa câmara de onze membros. Terminada a apuração das cédulas de papel, perdida a eleição, o Dr. Cassinho, em vibrante discurso no Fórum da cidade, protestava veementemente, alegando irregularidades eleitorais, clamando pela anulação do pleito. Imediatamente, o representante do Ministério Público contestava as palavras do presidente da U.D.N., afirmando que a eleição ocorrera dentro da Lei Eleitoral. E tudo terminava. Era impossível vencer a máquina eleitoral de Amaral Peixoto, político sereno, que se relacionava bem até com os adversários, sendo autêntico dono de todos os cargos públicos do estado do Rio de Janeiro.
Dr. Cassinho não perdia a oportunidade de combater o P.S.D.; no período de 1944-46, quando meu pai foi prefeito do município, aterrando o jardim de Cantagalo com terra retirada do cemitério velho para que fosse construído o G.E. Lameira de Andrade, Dr. Cassinho distribuía na cidade panfletos em prosa e versos criticando a atitude do prefeito. Meu pai chegava em casa com os papéis e dizia sorridente: o Cassinho é inteligente. Quem ficava aborrecido era minha mãe.
Dr. Cassinho era um bom poeta. No livro Terra de Cantagalo, volume II, pag. 215, encontra-se um soneto de sua lavra:
BEIJOS
Licor sublime em lábios purpurinos,
Divina essência em taça de cristais,
Que sorvemos nas bocas divinas,
Cobertas de marfins adamantinos.
Poesia! Luz! Eternos madrigais!
Os beijos têm acordes tão divinos,
Para nós, forasteiros peregrinos,
Em busca de formosos ideais!
Ó vós, imaculadas virgens puras,
Mais tarde, lá de Deus, anjos sidéreos,
Nos beijos concentrais vossas venturas!
Quanta noiva gentil eu sempre vejo,
Em caminho dos tristes cemitérios,
Desconhecendo as vibrações de um beijo!
Cantagalo, 1927.
Dr. Cassinho era maçom. Na loja Confraternidade Beneficente de Cantagalo, chegou a Venerável, sendo seu orador oficial durante vários anos.
Era casado com a Sra. Nair Catermol Barreto, pessoa educadíssima, resultando do matrimônio os filhos Clovis, Natalina, Eliana, Washington Luiz e Elizabeth. Creio que havia outro filho, de nome Cássio, que morreu na infância, quando a família residia na rua Cesar Freijanes. Todavia, esse não aparece nas biografias do pai.
Aos 73 anos de idade, o Dr. Cassinho foi vítima de doença incurável naquela época, ficando eu incumbido de acompanhá-lo até o final da vida. Cheguei várias vezes a sua residência e jamais o encontrei com face de sofrimento ou de revolta em virtude da doença, permanecia tranquilo e, algumas vezes, sorridente; era um homem de bem com a vida! Veio a falecer no dia 26 de agosto de 1970.
Depois do seu falecimento, sua esposa, gentilmente, me presenteou com um despertador metálico, de som estridente, que me foi muito útil durante vários anos. Educadamente me disse: “Dr. Júlio, esse despertador é para o senhor usar sempre que precisar acordar cedo. É uma lembrança nossa pelo carinho que você sempre teve com o Cassinho”. Dona Nair era uma mulher de finíssima educação!
Pelo seu trabalho como advogado e pela defesa da democracia que sempre exerceu, a municipalidade cantagalense lhe prestou duas justas homenagens: seu nome está colocado em uma escola, na Taquara de Baixo, e na rua em que ele residiu com a família durante muitos anos.