Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Em 1948, ao iniciar o primeiro ano ginasial no extinto Colégio Euclides da Cunha, fazia parte de uma turma de cerca de trinta ou trinta e cinco alunos. Era uma turma mista, com os meninos ainda franzinos. Havia, todavia, um mais desenvolvido, quatro anos mais velho, com o corpo bem desenvolvido, lembrando um adulto, que permanecia calado e não se misturava com os meninos na hora do recreio ou quando as aulas terminavam. Tinha até um porte nobre e nas aulas de educação física gostava de se exibir nos exercícios na barra.
Seu nome Edmo Rodrigues Lutterbach, gostava de estudar e sempre se colocava no grupo dos melhores alunos da turma. Fomos colegas até o término do curso científico. Depois, nossos destinos seguiram caminhos diferentes, eu fui para o Rio de Janeiro, estudei como um louco dia e noite e ingressei na Faculdade de Ciências Médicas, enquanto Edmo foi para Niterói e estudou direito na Faculdade Fluminense. Nesse período, não mantivemos nenhum contato.
Em 1965, ao retornar para Cantagalo, certo dia encontrei-me com o Edmo, conversamos um certo tempo e o colega era membro do Ministério Público do Rio de Janeiro, ingressando por concurso público. Continuava cerimonioso no modo de falar, mantendo o porte atlético da época do ginasial. A partir dessa data, passou a enviar-me pelo correio todas as suas publicações literárias. Era um verdadeiro campeão em escrever, eram opúsculos, livros e artigos, parece que só vivia para as letras.
Outra vez que me encontrei com o Edmo, em Cantagalo, durante o regime militar, ele me contou com entusiasmo que havia presidido três inquéritos contra políticos da nossa região. Como esses três políticos tinham vencidos as eleições com expressiva votação, eu lhe disse: vou pedir para você presidir um inquérito contra mim pois quero também ser bem votado. Notei que ele não gostou da brincadeira, parando de me enviar seus trabalhos literários.
Alguns anos depois, nos reencontramos em Cantagalo. Edmo já com os cabelos um pouco grisalhos, mas sempre ereto como um atleta, convidou-me para festa de aniversário na sua propriedade rural. Compareci a uma bela festa em que estavam presentes seus amigos de Niterói, todos ligados às letras e às artes.
Edmo, havendo nascido na mesma fazenda que Euclides da Cunha nascera, era um Euclidianista fervoroso, participando de todos os encontros em memória do escritor de Os Sertões e de outras obras importantes para nossa nacionalidade.
Na época em que a Casa de Euclides da Cunha funcionou em Cantagalo, Edmo realizou algumas palestras, sempre imponente e com um português perfeito.
Em outra ocasião, criou a Academia Cantagalense de Letras, em solenidade noturna memorável, na sede do Fraterno Auxílio Cristão, onde fez questão de colocar como patrono, das 25 cadeiras, cantagalenses que se destacaram em diversos ramos da atividade humana. Estava emocionado e, no seu discurso, declarou que escolheu todos os patronos nascidos em Cantagalo porque queria uma academia autenticamente cantagalense.
Na noite, em que a Profa. Carmem Marques Freire da Silva ingressou na Academia, ocupando a cadeira cujo patrono era o Dr. Júlio Santos, seu avô, Dr. Edmo estava presente, presidindo belíssima solenidade no salão nobre do nosso fórum.
Ontem, revirando meu arquivo de jornais, encontrei o nº 07 – ano II, do Literato – Jornal das Letras de Niterói. Dezembro de 2011. Na capa, o retrato colorido do meu querido amigo e colega de sete anos no Colégio Euclides da Cunha. Cabelos brancos mas o porte nobre e ereto que mantinha desde a juventude. Infelizmente, o jornal comunicava o seu falecimento no dia 27 de setembro de 2011.
No mesmo jornal, na página 03, notícia do falecimento e inauguração da biblioteca da Academia Fluminense de Letras, que recebeu o nome do nosso conterrâneo, em uma justa homenagem àquele que a presidiu durante um decênio (1979-1989). Nessa solenidade, foi inaugurado um busto do Dr. Edmo Rodrigues Lutterbach.
Na página 07, outra homenagem, dessa vez da Academia de Letras da Região Oceânica de Niterói (ALRON).
Finalmente, na página 10, outra notícia do Dr. Edmo, dessa vez em relação à Academia Niteroiense de Escritores, em agradecimento ao nosso extinto amigo.
Certa vez tive a oportunidade de analisar um currículo vida do Dr. Edmo, anotando alguns dados: membro de 12 academias de letras; membro de seis institutos históricos; membro de mais seis instituições ligadas à cultura. Livros publicados quatro e dezesseis opúsculos; vinte e quatro conferências; dezoitos artigos; oito teses sustentadas; sete ciclos de extensão; três preleções; prefaciou dois livros e fez a apresentação de mais dois. Recebeu sete condecorações de diversas instituições culturais. Provavelmente o currículo é muito maior, pois o que analisei já era um pouco antigo.
Certa vez, fui visitá-lo em sua propriedade rural, ele fez questão de mostrar a restauração da sede antiga, a sede nova e me levou à sua enorme biblioteca, em prédio separado. Mostrou o passado e o presente. Era um grande amigo!
Dr. Edmo gostava de dizer que era da idade do Cristo Redentor do Rio de Janeiro, ambos do dia 12 de outubro de 1931, que fariam 80 anos em 2011, mas que o Cristo estava com a saúde melhor do que a dele. Estava programada uma grande festa para comemorar os 80 anos, todavia, quinze dias antes, ele viajou para eternidade.
Um AVC o vitimou em Niterói, permaneceu em coma profundo alguns dias e faleceu. O corpo passou por Cantagalo, onde recebeu as últimas homenagens dos parentes e amigos, seguindo para Macuco, onde foi sepultado junto de seus antepassados.
Dr. Edmo foi um celibatário, acredito ter amado alguma mulher, mas sua grande paixão foram as letras, pelas quais sempre se empenhou com enorme brilhantismo.
Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.