Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
No artigo dessa semana, focalizarei um cidadão pouco conhecido pelos nossos leitores. Cidadão que veio a Cantagalo duas ou três vezes, à noite, para reuniões com o Conselho Deliberativo e a Diretoria do Hospital de Cantagalo, retornando ao Rio de Janeiro ao final das mesmas.
Em 1962, trabalhava no H.U. Pedro Ernesto, preparando-me para trabalhar no interior, recebia mensalmente o Boletim do Hospital dos Servidores do Estado, presenteado pelo meu saudoso colega Adrelírio Rios, que trabalhava naquela bem organizada instituição hospitalar; lia os artigos ligados à cirurgia, principalmente os de cirurgia biliar, muito bem escritos pelo Dr. Flávio Heleno Poppe de Figueiredo.
Em 1965, aprovado em um concurso do antigo estado do Rio de Janeiro, passei a trabalhar no Posto de Saúde de Cordeiro e na Casa de Caridade de Cantagalo, em companhia de Dr. José Cavalcante de Oliveira, Dr. Nilo Teixeira Rodrigues e Dr. João Nicolau Guzzo, sob a direção médica de meu pai, Dr. Joaquim de Souza Carvalho Junior; tendo como provedor da instituição o Sr. Diavolasse de Oliveira Reis.
Depois de um trabalho exaustivo de todo grupo, contando com apoio da nossa comunidade, conseguimos reequipar o hospital materialmente e conquistar a credibilidade do mesmo, quadruplicando o número de pacientes atendidos em um ano (de 504 para 2.200 atendimentos).
No dia 23 de janeiro de 1974, o Conselho Deliberativo do Hospital de Cantagalo me elegeu provedor da instituição, tendo como companheiro de diretoria as seguintes pessoas: Dr. João Nicolau Guzzo (vice-provedor), Sr. Carlos Teixeira Camacho (tesoureiro) e o Sr. Dalton Carvalho Robadey (secretário). Todos com menos de 40 anos, todavia plenos de desejo de crescimento para o hospital criado em 1875 pelas Lojas Maçônicas Ceres e Confraternidade Beneficente de Cantagalo, em feliz momento.
Tínhamos em caixa um bom saldo deixado pela administração sadia do Sr. Nelson Marcelino de Paula e uma planta de uma maternidade, desenhada na gestão do Sr. Antônio Rocha e Silva Junior, todavia era necessário algo maior, pois Cantagalo entrava na era das cimenteiras. Na época, trabalhava, duas vezes por semana, no Hospital de Cantagalo, o jovem Sr. Geraldo Vasconcellos, administrador de empresas, com especialização na área hospitalar, residente em Nova Friburgo, que orientava a parte administrativa do HC; que me aconselhou a procurar no Rio de Janeiro a firma Proplanus, sediada em Botafogo, especializada em projetos hospitalares.
Agendada a visita, partimos para o Rio de Janeiro, sendo recebidos na Proplanus por um dos seus diretores, figura dinâmica e cheio de entusiasmo contagiante que, além de falar sobre a possibilidade de preparar a planta para um novo hospital, falou também sobre o FAS, programa do governo federal através da Caixa Econômica Federal, que financiava a construção de hospitais, com carência de três anos e quinze para pagamento, com juros baixos. Este cidadão era o Dr. Flávio Heleno Poppe de Figueiredo, o mesmo autor dos artigos que eu lia em 1962, que ao primeiro contato já havia nos conquistado por suas vibrações positivas.
Alguns dias depois, comparecia a Cantagalo, em companhia de um arquiteto, seu sócio na Proplanus, para uma reunião noturna com o CD e a Diretoria do HC. Seu entusiasmo em expor suas ideias era contagiante, convencendo todos os membros do CD da necessidade da construção de um novo hospital.
Assinado o contrato, aceitou nosso pagamento parcelado face os parcos recursos do HC. Decorrido algum tempo, as plantas física, elétrica e hidráulicas estavam aprovadas pelo Ministério da Saúde e pelo INAMPS, dando entrada na Caixa Econômica Federal, para o financiamento de uma obra de 2.400 m².
Infelizmente os recursos do FAS eram limitados, terminando antes da aprovação de nosso projeto. Três anos depois, já considerando a batalha perdida, recebo uma ligação do colega Dr. Flávio Heleno, informando que o governo federal havia reiniciado o FAS e que ele tinha possibilidade de reativar nosso projeto na Caixa Econômica Federal. Marcou uma reunião na quarta-feira seguinte, às 11h30, em seu hospital em Botafogo, Semic. Ao chegar ao hospital Semic, encontrei o Dr. Flávio Heleno em companhia de um cidadão de vasta cabeleira branca, que o Dr. Flávio disse-me: “Júlio, esse é o deputado federal Leo Simões, capaz de resolver o problema do Hospital de Cantagalo junto à Caixa Econômica Federal”.
Logo depois fomos almoçar no Colégio Brasileiro de Cirurgiões, onde pude melhor conhecer o deputado Leo Simões (escreverei um artigo sobre ele). Depois o Dr. Flávio Heleno reativou o projeto do HC na CEF. O final foi feliz e construímos 1600 m² do novo HC. Com maravilhoso centro cirúrgico (800 m²) e dois blocos de enfermarias (400 m² cada um), o HC, que possuía 28 leitos, passou a ter 70 leitos em instalações modernas, seguras e confortáveis.
Se tudo isso aconteceu foi graças ao entusiasmo, dinamismo e fidelidade do Dr. Flávio Heleno, pois o compromisso dele com o HC era elaborar as plantas do hospital, aprová-las no Ministério da Saúde e na Previdência Social, dando entrada na CEF. Todavia, três anos depois, ainda preocupado com o estado precário de nosso velho hospital, ligou para mim propondo reativar nosso processo, tudo a custo zero, aparecia voluntariamente em nossa defesa, indo depois algumas vezes à CEF e passando para mim o andamento do processo, foi um abnegado.
Dr. Flávio Heleno nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 4 de agosto de 1934, onze meses mais velho do que eu; fez seus estudos elementares no Colégio Marista São José, no bairro da Tijuca; sendo diplomado médico pela Faculdade Nacional de Medicina, na Praia Vermelha, Urca.
Depois de diplomado foi cirurgião do Hospital do IPASE (Rio de Janeiro), chefiando o centro cirúrgico. Posteriormente, optou pela iniciativa privada, sendo presidente do Serviço Médico à Indústria e ao Comércio (SEMIC) possuindo um hospital em Botafogo e dois ambulatórios no Rio de Janeiro. Além disso, era sócio da firma Proplanus, especializada em projetos para construção de hospitais, como o da Posse, na Baixada Fluminense, o de Cantagalo e tantos outros, que o Dr. Flávio Heleno acompanhava com grande empolgação.
Na juventude, Flávio Heleno foi um exímio pianista, abandonando a arte musical ao ser aprovado no vestibular para medicina. Dedicava-se, também, aos esportes aquáticos, praticando Polo Aquático e Natação. Em 1952, na Olimpíada Universitária, na cidade de Dortmund (Alemanha) conquistou a medalha de bronze; várias vezes foi campeão carioca e brasileiro na categoria nado de Peito Clássico; aos 70 anos, ainda competia, diversas vezes no Master de Natação.
Aos 19 anos, começou a namorar a jovem Elisa, grande amor de sua vida, com apena 15 anos de idade. Casaram-se, constituindo uma bela família de quatro filhos: Flávia, Letícia, Ana Elisa e João Camilo; nenhum seguiu o caminho da medicina, mas todos estão bem situados, com atividades em outros ramos da atividade humana.
Infelizmente, meu amigo faleceu alguns anos depois de um AVE. Todavia, sua viúva, Sr.ᵃ Elisa, vive no Rio de Janeiro, cercada pelos carinhos dos quatro filhos e sete netos, com lembranças inesquecíveis do esposo, que foi um baluarte na defesa de uma medicina de alta qualidade profissional e bem-estar dos pacientes e de seus familiares.
Da minha parte permanecem a saudade do amigo e a gratidão eterna por tudo que fez pelo querido Hospital de Cantagalo. Mais uma vez, muito obrigado colega e amigo FLÁVIO HELENO.