DR. Osmar
Durante muitos anos, Cantagalo não possuía laboratório de análises clínicas, os pacientes eram obrigados a utilizar os exames realizados em Bom Jardim, a 30 Km. de distância, ou Nova Friburgo, ainda mais longe, 50 Km. Em 1967, apareceram no Hospital de Cantagalo duas pessoas que se propunham a instalar um laboratório de análises clínicas naquela instituição, chamavam Dr. Osmar e Dr. Cidemar, os nomes davam boa rima poética.
Conversaram comigo e os levei à casa de meu pai, Dr. Carvalho, que era o Diretor Médico do hospital e que já se encontrava adoentado. Depois de uma conversa de cerca de uma hora, ficou tudo acertado e os dois retornaram a Niterói.
Cerca de 15 dias depois, o Dr. Osmar retornava a Cantagalo, enquanto o segundo desistira. Dr. Osmar retornara com sua mala de roupas e objetos de uso, uma máquina de datilografia, um microscópio, várias pipetas, buretas, muitos tubos de ensaio e outros elementos necessários ao funcionamento de um laboratório.
O início do trabalho do Dr. Osmar foi de muito sacrifício. Como o antigo prédio fosse de dimensões restritas, o laboratório ficou instalado em um pequeno cômodo com cerca de 5 m². no qual ele trabalhava sozinho, dando ao laboratório o nome de Rodolfo Albino, em homenagem ao cantagalense autor da Farmacopeia Brasileira.
Procurando melhorar as condições do laboratório, o Provedor da instituição, na época, o Farmacêutico Antônio Rocha e Silva Junior (Sr. Rocha), demoliu uma velha casa ao lado da parte posterior do hospital, edificando no local um prédio onde instalou o Laboratório de Análises Rodolfo Albino e, em outra parte, um serviço de Raios-X. com uma pequena aparelho portátil da marca FN-X, doado pelo cantagalense, então governador do estado do Rio de Janeiro, Marechal Paulo Francisco Tôrres, através da Loteria Estadual.
Quem era o Dr. Osmar, que subitamente aparecera em Cantagalo? Era um cantagalense, nascido no dia 05 de setembro de 1931, na localidade de Taquara de Baixo, filho do Dr. Abelard Gomes Vieira e da Sra. Ladmar de Souza Vieira. Seus pais transferiram a residência para Niterói, quando Osmar tinha apenas um mês de nascido. Na então capital do estado do Rio de Janeiro, Osmar fez todos os seus estudos, sendo diplomado como Farmacêutico Bioquímico, pela Universidade Federal Fluminense, em 1962.
Ao retornar a sua terra natal, Dr. Osmar era plantonista do Hospital Orêncio de Freitas, em Niterói, para onde viajava uma vez por semana. Durante 24 anos, dirigiu e trabalhou no Laboratório Rodolfo Albino, onde mantinha também um banco de sangue para suprir as necessidades do Hospital de Cantagalo.
Antes da implantação do SUS o número de carentes do município era muito grande, todavia todos que necessitavam eram atendidos no Laboratório Rodolfo Albino graciosamente, em cuja capa dos exames Dr. Osmar determinava que no local categoria do paciente fosse datilografado Cortesia, pois achava que a palavra Indigente humilhava a pessoa.
Em 1969, casou-se com Vera Lúcia Vieira, pessoa que foi o seu braço direito, assumindo a parte administrativa do Laboratório Rodolfo Albino. Até hoje é atuante no Laboratório Rodolfo Albino, instalado em Nova Friburgo, sob a responsabilidade técnica de seu filho Dr. Osmar de Souza Vieira Junior.
O casal se integrou totalmente na vida política e social de Cantagalo. Desportista que fora na juventude e flamenguista apaixonado, Dr. Osmar assumiu a direção técnica do Flamenguinha A.C.; passando, posteriormente, a presidente da agremiação, ocasião em que formou uma excelente equipe, sob a direção de Afonso Celso Bath, representando o município de Cantagalo no campeonato fluminense. No primeiro ano, classificou-se em 3º lugar e, no ano seguinte, como vice-campeão pela Federação Fluminense de Futebol.
Outra atuação importante de Dr. Osmar era na parte carnavalesca, ocupando o cargo de vice-presidente da Escola de Samba Unidos de Cantagalo.
Em 1982, foi eleito Vereador, participando como membro da Comissão de Constituição e Justiça. Sua atuação na Câmara Municipal de Cantagalo foi sempre voltada para os problemas sociais e da saúde do povo cantagalense. Dr. Osmar foi membro do Rotary Club de Cantagalo e da Loja Maçônica Confraternidade Beneficente de Cantagalo, chegando a Venerável da mesma.
Além, das múltiplas atividades exercidas pelo Dr. Osmar na sociedade cantagalense e dos benefícios que proporcionou na área médica com o Laboratório Rodolfo Albino, o que o caracterizava era a sua extraordinária educação, sempre gentil e generoso, a ponto de ser explorado, financeiramente, por algumas pessoas.
Há cerca de três anos foi construído em Cantagalo, na rua Prof. Arthur Nunes, com verbas federais, um prédio que recebeu o nome de Laboratório Citopatológico Dr. Osmar de Souza Vieira, justíssima homenagem, em belíssima solenidade, com grande público e com os familiares do homenageado. Algum tempo depois, o prédio foi pintado e transformado em Farmácia do SUS, sendo retiradas as letras metálicas com nome do homenageado. Até hoje não entendi. A municipalidade necessita realizar a correção!
Do matrimônio de Dr. Osmar e da Sra. Vera, resultaram três filhos: Osmar Junior (bioquímico), Karine e Waleska. Em 2001, aos 71 anos de idade e em plena atividade, Dr. Osmar que se caracterizava pela generosidade de seu coração, foi surpreendido pela patologia desse órgão falecendo no Hospital de Cantagalo ao qual ele servira com dedicação e competência durante um quarto de século, deixando a comunidade cantagalense profundamente consternada.
Seu grande legado é o Laboratório Rodolfo Albino, atualmente com sede no bairro de Olaria, em Nova Friburgo, e com filiais em Cantagalo e outras localidades, sob a responsabilidade técnica de seu filho Dr. Osmar Junior; bem como seus 07 netos, quatro com profissões ligadas à área da saúde.
Júlio Carvalho.