Drex, versão digital do Real, poderá baratear crédito para pequenas empresas

A versão digital da moeda brasileira, chamada Drex, promete tornar operações financeiras mais rápidas, eficientes e seguras, o que pode baratear a tomada de crédito por segmentos da sociedade que têm dificuldade em consegui-lo, como pequenas empresas, por exemplo. A afirmação foi feita pelo economista e chefe da Divisão de Regulação do Banco Central, Nagel Paulino, durante o evento Inovação tecnológica no Sistema Financeiro Nacional, promovido pelo Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) nesta terça-feira, 30 de abril. “Pessoas físicas que têm dificuldade de tomar crédito e empresas pequenas vão poder usar o que eles tiverem de colaterais, ou de ativos, dentro de uma estrutura como o Drex para tomar crédito mais barato”, disse o palestrante.

Segundo Paulino, o alto custo do crédito no País está relacionado à dificuldade de associação de garantias: “Quando você tem uma operação sem garantia, o custo tende a se exacerbar muito. Com a garantia associada à operação, você tira muito da percepção de risco do crédito”. Ele exemplificou que o detentor de um ativo como um título público pode ter dificuldade para usá-lo como garantia para contratar uma operação de crédito, o que será facilitado com o novo sistema. “O Drex está evoluindo para que os títulos públicos e outros ativos sejam tokenizados, então, será possível tomar crédito a partir de uma carteira de ativos que você tenha e o custo dessa operação fica muito menor”, explicou.

O economista esclareceu que o Drex, que ainda não foi lançado, adota a criptografia e não se confunde com os ativos digitais, já que é uma representação da moeda brasileira. “O Drex será tanto uma moeda, quanto uma infraestrutura tecnológica envolvendo o Banco Central, instituições financeiras e outras instituições de fora do segmento para permitir que sejam criados produtos e serviços na seara financeira”, afirmou.

Na abertura do evento, o 1º vice-presidente do IAB, Carlos Eduardo Machado, destacou que a entidade tem buscado, através das iniciativas da Comissão de Inteligência Artificial e Inovação, analisar os impactos das novas tecnologias em diferentes áreas da sociedade, além de acompanhar a regulamentação da IA, que está em debate no Congresso Nacional. “Sou encantado pelo tema e acredito que temos que usufruir da inteligência do ser humano e de tudo o que ele cria para o nosso bem, fazendo com que se mantenha assim: para o bem”, disse o advogado.

O webinar também teve palestras do coordenador do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central do Brasil, Pedro Henrique Nascimento, e do assessor sênior do mesmo departamento Matheus Rauber, além de mediação da presidente da Comissão de Inteligência Artificial e Inovação do IAB, Ana Amelia Menna Barreto, e do membro da mesma comissão Matheus Puppe.

Em sua palestra, Pedro Henrique Nascimento abordou a dificuldade de conceitualizar a tokenização e o papel do Banco Central nas atuais agendas ligadas ao tema. “Escutamos muito que a tokenização é a transformação de ativos físicos em digitais, mas expandindo essa explicação, ela seria a inclusão de um ativo, seja financeiro, real ou mobiliário, em um sistema digital parecido com o que usamos para ativos virtuais puros”, disse ele.

De acordo com Nascimento, o Banco Central, na tentativa de identificar a própria área de atuação na agenda relacionada à tokenização, criou um grupo de trabalho interdepartamental. “O GTI procurou mapear como hoje acontece a emissão, a escrituração, o registro e o depósito de ativos e como seria em um mundo tokenizado”, afirmou. Ele destacou que o grupo teve várias dificuldades, dentre elas definir quais avanços a tokenização permitiria. “Uma das coisas que percebemos é que a tokenização é um acoplamento de tecnologias diferentes como, por exemplo, a descentralização, a programabilidade ou a liquidação de uma transação entre dois ativos de maneira automática, sem intervenção humana”, sublinhou o palestrante.

Outra inovação do sistema financeiro comentada no evento foi o Open Finance, tema abordado por Matheus Rauber. Ele explicou que o sistema se caracteriza pelo compartilhamento padronizado de dados e serviços entre instituições financeiras e outras instituições autorizadas a participar do Open Finance pelo Banco Central do Brasil. “Os dados são compartilhados de uma forma bilateral entre as instituições e com o prévio consentimento do cliente, de acordo com o que é estabelecido pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD)”, explicou Rauber, esclarecendo que esse consentimento pode ser revogado pelo usuário a qualquer momento.

O Open Finance nasceu a partir da criação da LGPD, que trouxe a premissa de que o cliente é o dono dos seus dados e pode optar por compartilhá-los entre instituições”, contou o palestrante. Segundo Rauber, o objetivo do Open Finance é garantir o aumento da concorrência no sistema financeiro para que ele seja cada vez mais inovador e customizado ao cliente. “Com uma maior facilidade e comodidade na comparação e na contratação de produtos e serviços também podemos atingir uma maior cidadania financeira da população”, completou.

Durante o evento, os mediadores destacaram que os novos sistemas tecnológicos colocam o País na vanguarda. “O Brasil é referência em inovação do sistema financeiro. Nos Estados Unidos, por exemplo, não tem nada do que temos e tudo é complicado”, disse Ana Amelia Menna Barreto. No mesmo sentido, Matheus Puppe afirmou que o sistema bancário brasileiro é diferenciado e põe a privacidade em local de destaque. “Acho que o Drex é uma solução fantástica. Estamos trazendo o futuro para o mercado e conseguimos otimizar diversos processos e não apenas na questão de crédito”, elogiou o advogado.

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