Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
Foto de capa: Fazenda do Sossego – casa-sede
“Santa Rita foi o berço de dois gênios, Euclides da Cunha e Eduardo Durão, as grandes glórias de Cantagalo, duas potências intelectuais, que são orgulho não só do nosso Município, mas da própria nacionalidade”.
(Amélia Tomás)
Cantagalo é o verdadeiro tesouro de Mão de Luva. Guarda muitas riquezas escondidas aos olhos de sábios distraídos, mas passíveis de serem encontradas por quem tiver a paciência de garimpar no aluvião dos rios que passam, ou entre cascalhos, o brilho de joias preciosas. Foi assim que apareceu mais um talento brilhante de nossa terra, mas “meio esquecido” em nossos tempos: EDUARDO DURÃO. Já ouviram falar dele?
Ao escrever sobre Eduardo Teixeira de Carvalho Durão ou Eduardo Durão, ou “Durãozinho”, estou me referindo a um notável jurista, político, poeta e literato nascido em Cantagalo, na fazenda do Sossego, em 1853, no distrito de Santa Rita do Rio Negro (Euclidelândia).
Ele tinha parceiros de notável saber e importância política no Império e, particularmente, na região entre Nova Friburgo e Cantagalo. Entre eles está o Conselheiro Paulino, que era proprietário da fazenda Ponte de Tábuas, mais tarde distrito de Conselheiro Paulino, do município de Nova Friburgo. Paulino José Soares de Sousa era um político conservador que exerceu inúmeras funções públicas e parlamentares. Como conselheiro do Imperador, indicou seu amigo Eduardo Durão para o cargo de Promotor do Império.
Seus pais, Virgínia Amélia Durão Teixeira e Antônio Teixeira de Carvalho, eram fazendeiros prósperos. Ela descendia do comendador João Pereira Durão, ex-ajudante de campo do Imperador. O apelido “Durãozinho” tem origem entre os seus familiares e amigos, acompanhando-o por toda a vida.
Segundo seus familiares, tinha memória incrível, muito acima da média. Aos catorze anos de idade, sabia integralmente, “de cor e salteado”, a “Divina Comédia”, de Dante. Leu a “Ilíada”, de Homero, no original. Desde cedo seus estudos e opiniões demonstravam tendência à advocacia. Cursou a Faculdade de Direito de São Paulo, criada por D. João VI, ainda hoje uma das mais importantes do país.
Tinha o respeito e a admiração de professores e colegas, por sua sabedoria e comportamento íntegro. Diplomou-se aos dezenove anos, indo imediatamente advogar em Pantanal, no interior paulista, como promotor, em 1873, onde obteve o respeito e o reconhecimento da população e de seus colegas da Justiça. Mudou-se para Nova Friburgo para exercer a promotoria pública, incluindo o município de Santa Maria Madalena. Em 1877, foi nomeado juiz municipal de São Fidélis.
Na sua trajetória profissional, estabelece-se na cidade do Rio de Janeiro com um escritório de advocacia, com seu amigo e poeta Luiz Murat e outros colegas. Nessa fase projetou-se nacionalmente. Granjeia notável reputação. Estende seus afazeres à terra natal, Cantagalo. Ingressa no partido conservador do Barão de Cantagalo e do Conselheiro Paulino. No jornal “O Conservador”, passamos a conhecer um jornalista crítico, vibrante, combativo. Semanalmente escreve longos artigos sobre criminologia.
Candidato pelo Partido Conservador, em 1878, foi eleito deputado estadual e exerceu o seu mandato de forma brilhante até 1885. Orador eloquente, tinha toda a atenção de seus pares para os seus discursos, sempre brilhantes, demonstrando pleno conhecimento da legislação e do direito.
Nesse ano de 1885, houve a vaga para o cargo de 1º Promotor da Corte. O seu admirador e amigo Conselheiro Paulino viu a oportunidade de indicar Eduardo Durão para 1ª Promotoria do Império. D. Pedro II sofreu resistências de forças políticas e jurídicas adversas ao indicado, mas, reconhecendo o valor jurídico de Durão, acatou a indicação de seu Conselheiro. E um cantagalense passou a ser o 1º Promotor do Império. O único conterrâneo a alcançar esse cargo.
“Durãozinho” teve desempenho brilhante nesse cargo. O barão de Lucena, convivendo com ele e lendo os seus textos jurídicos, desabafou entre amigos: “Esse promotor é enciclopédico”. Em todos os processos de que participou, Durão foi sempre enciclopédico, com uma retórica “fora da caixinha”. Cumpriu o seu mandato até 1889.
Humilde e modesto, Eduardo Durão nunca deixou de estudar e de se atualizar na área jurídica. Aprendizagem para toda a vida.
Nessa fase, a pedido de seu amigo Conselheiro Paulino, vai ser advogado de defesa do capitão José Lopes Martins, influente chefe político em Macuco. A peça de defesa foi impecável. Martins foi absolvido. Os amigos do Conselheiro e do Capitão resolveram prestar-lhe uma grande homenagem, em Macuco, no dia 22 de junho de 1880.
Um jornalista e poeta cantagalense, não identificado na história, encerra a solenidade com versos imortais, que sensibilizaram “Durãozinho”:
Em ti vejo eu de novo o gênio ardente
Arrojar-se a voar pelo infinito.
Abatem-se as montanhas do granito,
Ao sopro dessa voz onisciente
Morre-te as plantas a falange ingente,
Tudo que é grande anula-se ao teu grito;
Tens na posteridade o nome inscrito,
Ninguém lhe apaga o traço refulgente!
A eloquência que rola de teu crâneo
Na doce vibração que causa abalo,
Eleva-te muito mais de supedâneo!
Ante essa toga, eu curvo-me vassalo
E saúdo num brinde simultâneo
Ao jovem Mirabeau de Cantagalo!