“Ecologia e Religião”, por Dr Júlio Carvalho

Ecologia

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Fala-se muito, atualmente, em ecologia, como se fosse um tema do mundo atual; principalmente, nos últimos quatro anos, quando a floresta amazônica era destruída impiedosamente por madeireiros, ao mesmo tempo em que os rios da região eram criminosamente contaminados com mercúrio colocado por garimpeiros em busca de ouro, resultando na extinção da vida animal naquelas águas; sem comentar na mortalidade de índios ianomâmis, por desnutrição, doenças venéreas, envenenamento mercurial, estrupo e outros males levados por pessoas movidas pela ambição de enriquecimento ilícito.

A palavra ecologia foi usada pela primeira vez em 1866, na Alemanha, sendo a parte da Biologia que estuda as relações entre os seres vivos e a natureza. Todavia, essa preocupação já existia bem antes dessa data.

Na tradição religiosa judaico-cristã, já se observa essa preocupação. No primeiro livro da Bíblia, o Gênese, no fim do primeiro capítulo, depois que Deus fez toda criação, encontramos: “E Deus viu que tudo quanto havia feito, era muito bom” (Gn. 1,31). E tudo era muito bom do ponto de vista ecológico porque tudo estava em perfeito equilíbrio.

Nos Livros Sapienciais, aparecem manifestações ecológicas. No Saltério, diversos Salmos enaltecem a criação do universo por Deus; o Salmo 104 é um verdadeiro poema sobre a ecologia.

No livro Cântico dos Cânticos, a natureza é descrita com toda beleza, é enaltecida em depreciação a vida urbana, por exemplo:

“Levanta-te, minha amada, minha rola, minha bela e vem!
O inverno passou, as chuvas cessaram e já se foram.
Aparecem as flores no campo, chegou o tempo da poda, a rola já faz ouvir o seu canto em nossa terra.
A figueira produz seus primeiros figos, soltam perfume as vinhas em flor.
Levanta-te minha amada, minha bela e vem!
Minha rola que mora nas fendas das rochas, no esconderijo escarpado, mostra-me o teu rosto e tua voz ressoe aos meus ouvidos, pois a tua voz é suave e teu rosto lindo!”

(Ct. 2, 10b-14)

Jesus Cristo, nos três anos em que percorreu a Palestina falando com o povo em parábolas, usava inúmeras expressões ligadas à natureza: o semeador, o trigo e o joio, o grão de mostarda, os trabalhadores da vinha, os agricultores assassinos. São tantas as citações ligadas à natureza que alguns acreditam que Jesus na Galileia tenha sido um agricultor e não carpinteiro.

Entre os santos da Igreja Católica, São Francisco de Assis foi escolhido, em 1979, pelo Papa João Paulo II, como patrono da Ecologia. Com muita razão agiu o papa polonês, pois São Francisco se destacou, entre outros aspectos, por estar sempre ligado à natureza, ao meio ambiente, sendo um homem à frente do seu tempo.

Nascido na cidade de Assís, na Úmbria, norte da Itália, Francisco era filho de rico comerciante, portanto pertencia à burguesia. Seu pai tentou introduzi-lo no comércio, todavia o filho não mostrou pendores para o ramo comercial.

Como muitos jovens ricos daquela época, Francisco resolveu ingressar na vida militar; as cidades italianas viviam em lutas entre si e numa dessas batalhas, contra a cidade de Perugia, em 1202, Francisco caiu prisioneiro, passando cerca de um ano em um porão mal iluminado, sendo alimentado com os restos que sobravam das refeições dos nobres e burgueses, dormindo no chão frio.

Em 1207, Francisco renuncia a tudo, entregando ao pai até a roupa que vestia, passando a usar vestes grosseiras e velhas. Dois anos depois, seguido por alguns jovens, cria a Ordem dos Franciscanos, caracterizada pela pobreza de seus membros. Será que a prisão de Francisco foi importante para sua conversão?

São Francisco esteve sempre ligado à natureza, sendo famoso O Cântico ao Sol, de sua autoria, no qual louva Deus, considerando o Sol com todo seu esplendor a representação de Deus. No mesmo cântico refere-se à lua, às estrelas, ao vento, à névoa, ao ar que respiramos, à água, ao fogo e à terra. Estava sempre ligado à natureza, às árvores e aos pássaros. Era um homem ecológico! Faleceu, em total pobreza, em 03 de outubro de 1226, aos 44 anos, um homem que nascera rico, mas que, abdicando de todas as riquezas, renovou a Igreja Católica em um momento de crise.

Além da Ordem dos Frades Menores, São Francisco, junto com Santa Clara, criou a Ordem Segunda das Clarissas, em 1211; no ano seguinte é criada a Ordem Terceira dos Franciscanos, para leigos que seguem os princípios do Santo de Assis. Calcula-se que no mundo de hoje existem 300.000 pessoas que formam essas três ordens criadas por São Francisco.

Em abril de 2014, por ocasião da canonização dos Papas João XXIII e João Paulo II, em companhia de minha esposa, seis cantagalenses e duas dezenas de membros da Paróquia de Nossa Sra. da Conceição (Rio das Ostras), visitamos a Catedral de Assis, ocasião em que o nosso querido amigo Padre Alexandre José de Albuquerque, em uma das capelas mais simples, celebrou a Eucaristia e, em belíssima e inteligente homilia, enalteceu os valores da pobreza e da humildade na vida do cristão, lembrando também as desigualdades sociais existentes em nosso país.

Creio que a manifestação maior que existe na Igreja Católica a favor da Ecologia se encontre na encíclica Laudato Si, de 24 de maio de 2015, de autoria do Papa Francisco; documento que deveria ser lido por todos, independentemente da religião, pois mostra o cuidado que devemos ter com a natureza, nossa casa comum.

A humanidade está inserida na natureza, onde vivemos em total e completa interdependência, a todo instante o meio ambiente é agredido, “A criação geme em dores do parto” (Rm 8,22). Se um dia o meio ambiente desaparecer, a humanidade, também, desaparecerá!

 

Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo
Júlio Marcos de Souza Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo

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