“Escuta ativa: o segredo para cultivar a empatia”, por Jalme Pereira

Era uma segunda-feira de manhã, e estávamos em uma reunião crucial. Precisávamos tomar uma decisão importante e a pressão no ambiente era evidente. Todos queriam encontrar uma solução rápida, mas, à medida que as discussões avançavam, vozes começaram a se sobrepor.

Em certo momento, eu estava explicando um ponto essencial quando fui interrompido. Tentei continuar, mas outro colega já havia puxado o assunto para outro rumo. Insisti, tentando resgatar a ideia, mas fui cortado novamente. O padrão se repetia: ninguém esperava o outro concluir. Todos pareciam antecipar respostas, ansiosos para demonstrar envolvimento e participação, mas, na prática, estavam apenas gerando frustração. Estávamos tão impacientes para falar, que ninguém estava realmente ouvindo. Em vez de uma discussão produtiva, tivemos um embate desorganizado. As interrupções sufocaram as ideias. 

Aquela experiência ficou martelando na minha cabeça. Foi então que comecei a observar meu próprio comportamento. E percebi que o problema não estava apenas nos outros—eu fazia parte do ciclo. Eu também interrompia os outros com frequência. Por isso, nas conversas seguintes, me contive. Esperava minha vez de falar e passei a ouvir mais. Foi angustiante no início, mas aprendi que ouvir de verdade é um diferencial para gerar empatia.

Escuta Ativa: A Base da Empatia

Empatia não é apenas se colocar no lugar do outro; é estar genuinamente disposto a compreendê-lo. E a escuta ativa é a ferramenta essencial para isso. O problema é que muitas pessoas não conseguem escutar, sem interromper. Elas sentem uma necessidade tão urgente de expor suas ideias que até já “sabem” o que o outro vai dizer. Esse comportamento prejudica relacionamentos, compromete a comunicação e costuma criar ambientes tensos e improdutivos. Estudos indicam que, em uma conversa comum, as pessoas ouvem apenas 25% do que é falado, pois passam grande parte do tempo formulando suas próprias respostas. 

Por Que as Pessoas Têm Dificuldade em Escutar?

  • Impaciência e Ansiedade: Algumas pessoas têm dificuldade em esperar sua vez de falar, seja por impaciência ou porque têm medo de esquecer o que querem dizer. Isso pode estar ligado a traços de personalidade ou até mesmo a ansiedade.
  • Ego e Necessidade de Protagonismo: Algumas pessoas interrompem porque acreditam que seu ponto de vista é mais importante ou interessante do que o do outro. Isso pode ser um reflexo de um comportamento egocêntrico ou da necessidade de validar constantemente sua opinião.
  • Falta de Habilidade em Escuta Ativa: Muitas pessoas nunca foram ensinadas a ouvir de forma atenta e respeitosa. Elas estão mais preocupadas em pensar no que vão dizer a seguir do que em realmente absorver o que o outro está falando.
  • Cultura de Conversação Competitiva: Em algumas culturas, interromper é quase um reflexo natural da conversa. O diálogo pode ser visto como uma disputa, onde falar mais significa ter mais poder na interação.
  • Empolgação Genuína: Em alguns casos, as pessoas interrompem porque estão animadas com a conversa e querem contribuir. Embora a intenção não seja ruim, pode ser percebida como desrespeitosa.
  • Desatenção ou Falta de Interesse: Algumas interrupções ocorrem simplesmente porque a pessoa não está prestando atenção de verdade na conversa e acaba mudando o rumo sem perceber.
  • Falta de Controle Emocional: Algumas pessoas interrompem quando ficam frustradas, com raiva ou muito animadas, pois não conseguem controlar suas emoções e reagem impulsivamente.

O Poder da Escuta Ativa 

Felizmente, a escuta ativa pode ser aprendida e aprimorada. Algumas estratégias práticas para desenvolver essa habilidade incluem:

  1. Pratique o “Espera Três Segundos”: Antes de responder, espere três segundos depois que a outra pessoa terminar de falar. Isso evita a interrupção natural.
  2. Use o “Ouvir para Entender, Não para Responder”: Em vez de focar em sua próxima fala, concentre-se em entender o que está sendo dito. Você pode até reformular mentalmente a ideia da pessoa para confirmar que compreendeu.
  3. Demonstre Interesse: Use expressões como “Entendi”, “Faz sentido”, “Me conta mais sobre isso” ou apenas acene com a cabeça para mostrar que está acompanhando.
  4. Evite Cortar a Fala do Outro (Mesmo que Tenha uma Ideia Boa!): Se surgir um pensamento importante, anote para não esquecer, em vez de interromper a conversa.
  5. Pratique o Espelhamento: Repita de forma resumida o que a pessoa disse antes de dar sua opinião: “Então, o que você quer dizer é que…” Isso mostra que você ouviu e reforça a conexão.
  6. Controle Sua Impaciência: Se sentir vontade de interromper, respire fundo e se pergunte: “Isso realmente precisa ser dito agora?” Muitas vezes, a resposta será não.
  7. Mantenha Contato Visual e Evite Distrações: Não olhe para o celular ou computador enquanto conversa. Seu corpo e sua atenção devem estar voltados para a outra pessoa.
  8. Identifique Gatilhos: Quais os momentos em que você tende a interromper mais? É quando se sente ansioso? Quando discorda? Reconheça e controle os padrões.
  9. Pratique a Regra de Ouro da Comunicação: Se você não gosta de ser interrompido, não interrompa os outros. Adote essa regra como um compromisso pessoal.
  10. Respire antes de responder: ao sentir vontade de interromper, respire fundo e espere a pessoa concluir.
  11. Faça perguntas antes de opinar: “Você pode explicar melhor?” ou “Como você chegou a essa conclusão?” são boas formas de mostrar interesse.
  12. Se Observe: Se possível, grave, com a permissão do outro, uma conversa importante e escute depois para avaliar como foi sua escuta ativa.

O Que Você Ganha ao Melhorar sua Escuta?

Pessoas que aprendem a escutar sem interromper constroem relações mais saudáveis, melhoram a comunicação no trabalho e fortalecem a credibilidade. Além disso, ao realmente compreender o outro, tomam decisões mais acertadas e evitam conflitos desnecessários. 

Que tal experimentar a ouvir de forma mais ativa hoje? Na próxima conversa, pratique esperar antes de responder e veja como isso transforma suas interações. Você pode se surpreender com os efeitos positivos dessa mudança!

 

Jalme Pereira é músico, palestrante, desenhista e trabalha na Universidade Veiga de Almeida (UVA)
Jalme Pereira é músico, palestrante, desenhista e trabalha na Universidade Veiga de Almeida (UVA)

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