Jovem friburguense é campeão mundial no World Pro Jiu-Jitsu, em Abu Dhabi
O ano de 1955 foi um período pesado de minha vida estudantil, meu objetivo era ingressar na faculdade de medicina, ingressei no Curso São Salvador, situado na Rua México, 98, 3º andar, propriedade dos Drs. Samuel Tabacow e João Carneiro. Estudava cerca de oito horas por dia, passando para doze horas nos últimos três meses daquele ano.
Certa tarde, estando com um colega na Avenida Graça Aranha, defronte ao belo prédio do Ministério da Educação, vi descer de um automóvel um senhor muito idoso, cabelo completamente branco, amparado por duas pessoas, motivo de admiração de vários transeuntes. O colega me disse que aquele senhor era o Marechal Rondon. Respondi: “como é a vida, andou milhares e milhares de km a pé pelo Brasil e, hoje, necessita ser apoiado por duas pessoas.
Rondon, cujo nome inicialmente era Cândido Mariano da Silva, nasceu no Estado de Mato Grosso, em 05 de maio de 1865, no distrito de Mimoso, município de Santo Antônio Leverger.
Seu pai era descendente de portugueses, espanhóis e índios guanás, enquanto a mãe descendia de indígenas terenas e bororos; portanto, como grande parte da população brasileira, Rondon era descendente dos primeiros habitantes do Brasil.
O pai faleceu antes do seu nascimento, acometido de varíola; aos dois anos de idade ficou órfão da mãe, sendo criado pelo avô paterno e, posteriormente, por um tio Manuel Rodrigues da Silva Rondon.
Aos 16 anos, ingressou no Exército Brasileiro e, mais tarde, acrescentou o sobrenome Rondon em homenagem ao tio que dele cuidou. Em 1888, no posto de segundo tenente, Rondon defendia ideias abolicionista e republicanas.
Proclamada a República, o governo federal estava preocupado com a parte centro-oeste do Brasil, muito isolada dos maiores centros urbanos do país e, ao mesmo tempo, com enormes regiões fronteiriças com diversos países da América do Sul, sem proteção nacional. É projetada a primeira linha telegráfica do Estado de Mato Grosso e, em 1890, Rondon é nomeado ajudante da Comissão de Construção das Linhas Telegráficas de Cuiabá a Registro do Araguaia, tarefa concluída em 1895. A seguir, Rondon iniciou a construção da estrada ligando a cidade do Rio de Janeiro (capital do Brasil) a Cuiabá. Até essa época, a ligação só era feita por navegação. Em 1892, Rondon é nomeado chefe do Distrito Telegráfico de Mato Grosso.
Outro trabalho importante de Rondon foi a instalação das linhas telegráficas ligando o Brasil à Bolívia e ao Peru, serviço realizado de 1900 a 1906. Nesse período os trabalhadores entraram em contato com os índios bororos, encontro tão pacífico e favorável que os indígenas ajudaram na construção das linhas telegráficas. Nesse trabalho, no oeste brasileiro, Rondon descobriu vários acidentes geográficos: rios, montanhas, vales, etc. Concluída essa tarefa, Rondon foi incumbido de realizar a ligação telegráfica entre Cuiabá e o território do Acre, incorporado ao Brasil naquela época.
A seguir, recebeu a missão de estender as linhas telegráfica de Mato Grosso à Amazônia; nessa tarefa descobriu o rio Juruena, entrou em contato e pacificou a tribo dos Nhambiquaras, povo indígena que vivia isolado e matara todos os brancos que se aproximaram da região por eles habitada. Descobriu também as ruínas do Real Forte Príncipe da Beira, construção portuguesa toda em pedra.
Essa tarefa, na região amazônica, foi a mais longa (1907-1915). Em 1909, a expedição comandada por Rondon permaneceu um período tão demorado na região amazônica, sem comunicação com a civilização, que todos foram considerados mortos, reaparecendo, no Natal, na região do rio Madeira. Foi considerado um herói, sobrevivendo na selva, alimentando-se da caça e das frutas silvestre; talvez por ser descendente de índios.
Nessa missão amazônica, foi atingido por uma seta envenenada lançada pelos nhambiquaras. Por sorte, a mesma se alojou na bandoleira de couro de sua arma. Todavia, não permitiu que elementos do seu grupo revidassem o ataque, pois tinha por lema: “Morrer, se preciso for. Matar, nunca”. Conseguia pacificar os índios sem usar a violência.
O trabalho de Rondon foi tão importante que o Meridiano 52 Oeste recebeu o seu nome. Nessas missões pelo Brasil, Rondon criou vários povoados que hoje foram transformados em cidades.
Outro trabalho importante de Rondon foi a Expedição Científica Rondon-Roosevelt, que realizou com o ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, visando explorar o rio da Dúvida, descoberto pelo próprio Rondon em uma de suas missões. Terminada essa tarefa, o rio da Dúvida recebeu o nome de rio Rooselvet.
Rondon criou o Serviço de Proteção do Índio (SPI) do qual foi presidente. Na década de 1950, apoiou a campanha dos Irmãos Villas-Boas, que levou à criação da primeira reserva indígena do Brasil, o Parque Nacional do Xingu, em 1961.
No dia em que completou 90 anos, em 5 de maio de 1955, Rondon recebeu o título de Marechal do Exército Brasileiro, concedido pelo Congresso Nacional.
Faleceu em 19 de janeiro de 1958, aos 92 anos de vida, sendo sepultado no Rio de Janeiro, no cemitério São João Batista.
Esse brasileiro, que extraordinários serviços prestou ao Brasil, recebeu merecidamente inúmeras homenagens em vida e, depois da morte, mais algumas:
- Em 1957, foi indicado pelo The Explorers Club, de Nova York, para o prêmio Nobel da Paz;
- Em 1963, foi designado Patrono da Arma de Comunicações do Exército Brasileiro;
- Em 1958, o Território Federal do Guaporé passou a ser designado Território Federal de Rondônia, hoje Estado de Rondônia;
- O aeroporto principal de Mato Grosso é denominado Aeroporto Internacional Marechal Rondon;
- Várias escolas, bairros e ruas receberam o seu nome;
- Em 1º de julho de 2015, o Governo Federal determinou a inscrição do nome de Rondon no Livro de Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Pátria, em Brasília;
- Em 1968, foi criado o Projeto Rondon, que lega a juventude universitária brasileira a entrar em contato e a conhecer os problemas do interior brasileiro;
- Finalmente, o dia 05 de maio, data do nascimento de Rondon, é considerado o Dia Nacional das Comunicações, justíssima homenagem àquele que, caminhando milhares de kms, conseguiu interligar, através de linhas telegráficas, o centro-oeste, a Amazônia, o Peru e a Bolívia.
Júlio Carvalho é médico, ex-vereador e ex-provedor do Hospital de Cantagalo, e atualmente é auditor da Unimed de Nova Friburgo.