Amanda de Moraes 
“Nada foi feito para durar!” Essa frase não é minha. Até quis que fosse, mas pertence à obra do sociólogo Zygmunt Bauman.
Atualmente, vivemos em uma sociedade guiada pelo consumo. Em uma prateleira do supermercado, inúmeras opções. Nas lojas, roupas das mais diversas formas. Para o dia a dia, o comércio lança, a cada instante, um novo item, para uma necessidade ainda nem imaginada. Quer uma cerveja? Centenas de opções de cervejas artesanais estão disponíveis, de gostos distintos.
O mercado de PetShop, para os amantes do melhor amigo do homem, está movimentando bilhões de reais: banheiros higiênicos, roupinhas, rações, petiscos, bolos, calçados, brinquedos, carrinho de bebê, massageador, passatempos tecnológicos, apetrechos dos mais diversos tipos. Logo ali, já será criada uma nova necessidade para os pais de pet ou “doguinhos”, um neologismo dos últimos tempos para os cachorros.
A lógica é nunca deixar o consumidor plenamente satisfeito. Com o tempo, a sensação de felicidade gerada pela nova aquisição se esvai, e já se parte em busca de mais uma nova compra.
Tornamo-nos uma sociedade insaciável, sempre em busca de novos prazeres.
Quando essa lógica é transportada para os relacionamentos, a questão fica ainda mais delicada. Nada é feito para durar nos vínculos.
É claro que há casos nos quais a separação é necessária; ninguém deve ser obrigado a permanecer em uma convivência violenta, por exemplo. No entanto, o que se verifica, em massa, são pessoas que pulam de um namoro para o outro, como se estivessem trocando de roupa.
O mundo virtual agrava a situação, distanciando as pessoas, mas trazendo uma falsa sensação de proximidade. Não há o contato efetivo, a troca, o mergulho no outro ser. É preciso dizer o óbvio: like em story de Instagram não é demonstração real de afeto.
O amor virou algo descartável, líquido, como diz Bauman. A qualquer momento, pode ser trocado por algo que pareça mais interessante. Logo após, será – mais uma vez – substituído, para se fazer um novo download sentimental, em versão 2.0.
Constroem-se, assim, relações superficiais, inseguras e instáveis, que se desfazem como castelos de areia ao serem confrontados pela primeira chuva. Sempre haverá alguém novo para se conhecer, aliás, totalizamos 8 bilhões de seres humanos no mundo.
Permita-me, caro leitor, uma confissão. Vez ou outra, leio as cartas trocadas pelos meus bisavôs, ainda muito bem guardadas pela família.
São belas. Esperava-se uma, duas semanas, pela notícia do amado; existia o cuidado com a palavra e a profundidade de um afeto real e longevo.
Escrever uma carta é muito mais do que transmitir uma mensagem. Exige-se tempo. No momento da escrita, o que se tem é a concentração no que se deseja transmitir. Cada palavra é carregada de ternura. O outro, ao recebê-la, alegra-se não somente pelo que lê, mas pela hora e vida a que a ele foram dedicadas.
O amor demanda. Dá trabalho. É construído nos detalhes do dia a dia. Como uma flor, que precisa ser regada diariamente. O amor precisa de um espaço seguro e sólido para amadurecer.
Apesar de a sociedade caminhar para o vazio, os filmes românticos (como o aclamado Diário de uma Paixão, do diretor Nick Cassavetes) ainda fazem sucesso e levam a boas lágrimas muitos telespectadores, demonstrando que há chance ainda à humanidade.
É preciso ensinar a geração que está por vir que o líquido se dissolve pelas nossas mãos. E a vida se torna mais colorida com o amor… E, o amor, dá trabalho, como tudo que é verdadeiro e significativo na vida. Você, diretor de sua vida, preferirá conceber que tipo de filme?
