A Fazenda Itaoca [1] é localizada no 5º distrito de Cantagalo – Boa Sorte, situada a 25 km da sede municipal, 1º distrito. Ela pertenceu ao barão de Nova Friburgo, Luiz Alberto Pereira Gonçalves; Antônio Clemente Pinto Filho, primeiro barão, visconde e Conde de São Clemente; Maria José Clemente Pinto; João de Abreu Júnior; Bertha Jordão de Abreu; João Carlos Burguês de Abreu. Com a morte deste, a fazenda foi objeto do espólio da herança.
É banhada pelo ribeirão de Areas. Possui uma área de 350 alqueires, a maior parte em pastos, matas, capoeirões, capoeiras e culturas.
Itaoca destacou-se no cenário da pecuária em virtude do extraordinário trabalho desenvolvido por João de Abreu Júnior (1869/1949), originário da ilha da Madeira, a principal ilha do arquipélago da Madeira, uma região autônoma de Portugal, frente à costa noroeste de África. Ele foi o primeiro criador em nosso país ao selecionar o Zebu para a produção de leite e manteiga.
Abreu Jr. importou, diretamente da Índia, os touros Gladiador, Sultão, Pavilhão, Indostão e Calicut e, com estes, 17 fêmeas. “Inventou” o Zebu Leiteiro, com a marca GUZERÁ-JA. Escolheu a raça de bovinos indianos denominada Guzerá. Dedicou sua vida, desde 1895, ao desenvolvimento dessa raça no Brasil. Quando faleceu, a fazenda ficou com os filhos João Carlos Burguês de Abreu e Alyrio Jordão de Abreu, falecidos, que seguiram seus métodos e conselhos valiosos, por sua experiência na área da pecuária de raça.
O casarão-sede da Fazenda Itaoca não existe mais. Foi substituído por uma nova sede.
No auge, Itaoca possuía engenho de água, responsável pela energia elétrica, engenhos de arroz, café, cana e milho. A serraria foi conservada. As instalações são amplas e apropriadas a cada cultura desenvolvida na fazenda.
O Guzerá
JA era caracterizado como manso, leiteiro, manteigueiro e de fácil adaptação. Segundo João Carlos Burguês de Abreu, a marca JA significa pureza racial, grande produção de leite e alto teor de gordura (até 13,2%).
Um dos touros dessa raça, Gladiador-JA, foi campeão nacional; Pavilhão-JA foi campeão em 1922; Flamengo-JA foi campeão nas exposições de Cordeiro e Campos; Gladiador-JA recebeu premiação nas exposições de Uberaba e São Paulo.
Para nós, cantagalenses, era um orgulho admirar aqueles exemplares magníficos do gado Guzerá nas exposições de Cordeiro, ali tão pertinho de nós. Interessante notar que o distrito de Boa Sorte sempre mostrou sua marca acentuada no poderio econômico, político e histórico de nosso município.
A Comissão Econômica para a América Latina – Cepal, em estudo realizado sobre a pecuária brasileira, deu destaque para doze produtoras de leite da raça GUZERÁ-JA, do plantel de Itaoca, em 1961, variando de 10,0% a 13,2% no controle da lactação. Desde 1939, essas produtoras bateram recordes nas inúmeras exposições pecuárias de que participaram.
O estudo da raça GUZERÁ-JA chegou à universidade. A Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – implantou a disciplina Zootecnia Especial para estudo e pesquisa sobre essa raça.
João Carlos Burguês de Abreu foi prefeito de Cantagalo no período de 1967/1970. Em 1965, editou um folheto com todos os dados da raça GUZERÁ-JA, desde a importação da Índia, pelo pai, ao desenvolvimento por ele e seus descendentes.
Allyrio Jordão de Abreu herdou parte da fazenda Itaoca, batizada por Canaã, e trezentas cabeças de Guzerá-JA. A produção cessou com a morte de Allyrio. Mas o registro da era da pecuária é relevante para a história de Cantagalo, um dos projetos do Instituto Mão de Luva, desenvolvido por mim, por minha esposa, Angela Araújo, e por nosso diretor-executivo, Sérgio de Souza.
O amigo e colega de coluna, Júlio Carvalho, produziu um excelente artigo sobre esse tema – Patrimônio quase perdido – na edição do JR de 10 de janeiro de 2021. Vale a pena ler de novo.
[1] Dados extraídos do Álbum das Fazendas de Cantagalo. CARVALHO, Sebastião A. B. e CARVALHO, Rosa Maria O. Werneck Rossi. Nova Friburgo, RJ: In Media Res, 2020, p.p. 103/105 + GUZERÁ – JA. Cantagalo, RJ, 1965.