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Casa-sede da Fazenda Sossego: jardim.
Em novembro de 2020, eu e Angela participamos do lançamento do livro Álbum das Fazendas de Cantagalo, de autoria de Sebastião A. B. de Carvalho e Rosa Maria O. Werneck Rossi de Carvalho (Nova Friburgo: In Media Res, 2020). O evento foi realizado na Fazenda São Clemente, totalmente restaurada por seu atual proprietário, Marcello Monnerat.
Folheando esse álbum, tomei conhecimento da Fazenda Sossego, no distrito de Euclidelândia, antiga fazenda do cel. Sebastião Monnerat Lutterbach.
Na edição de edição nº 1639, de 11 a 17 deste mês de agosto, o Jornal da Região publicou excelente reportagem sobre essa fazenda, com destaque para a gastronomia caipira.
A Fazenda Sossego teve sua sede construída em 1830. Entre 1857 e 1921, tinha 440 alqueires. A fazenda foi adquirida pelo coronel Lutterbach em 1901. No ciclo do ouro negro, o café, a fazenda era uma das mais produtivas. Com a decadência da agricultura do café, a fazenda passou para a criação de gado bovino da raça Zebu, com cerca de 440 cabeças, além de alguma agricultura, como arroz, feijão, milho, hortaliças, cana de açúcar.
Está localizada a 21 km da sede de Cantagalo e dista quatro quilômetros de Euclidelândia. Sua área atual é de 233 km. O filho do coronel, Tito Monnerat Lutterbach, era o administrador.
A fazenda passou, em seguida, para Joaquim Lino Martins e José Guedes Martins. Hermínia Martins Daflon, casada com Joaquim Daflon, herdou a Sossego de seu pai, José Guedes Martins. O casal teve três filhos, entre eles Rogério Martins Daflon.
Segundo relato do livro Álbum das Fazendas de Cantagalo, José Guedes Martins, antes de falecer, vendeu cem alqueires e comprou a parte dos outros irmãos que viviam em Portugal, transferindo a fazenda para a filha Hermínia Martins Daflon. Quando esta faleceu, Rogério herdou a fazenda com a sua esposa, Lucia Helena Marini Daflon. O casal teve três filhos, Filipe, Rosa e Paula.
Na visita à Fazenda Sossego, agendada com Lúcia, fomos por ela recepcionados. Após, um farto almoço típico da roça.
Pudemos visitar as dependências da casa-sede e de outros espaços. Percorrendo as diversas instalações da Sossego, encontramos arado antigo, tachos e forno para a produção de rapaduras, tonéis, filtros e forno para destilar aguardente de cana. Há, ainda, debulhador de milho movido a água, gerador de eletricidade, trator, carroça, todos equipamentos rurais do final do século 19 e do início do século passado. Galinheiro, fogão a lenha e lago completam o cenário.
A senzala dos escravos ficava no porão do casarão; hoje serve de depósito para máquinas e equipamentos.
Na Fazenda Sossego, as partes externa e interna conservam as mesmas características de seus tempos áureos. Apenas alguns móveis não são originais da fazenda. O relógio e o telefone, todavia, são da época do coronel Lutterbach. O curral de hoje foi outrora o terreiro de café. Sossego é uma fazenda que perpetua o passado, no aspecto cultural.
Lúcia nos contou que a ideia do restaurante foi sua, por conta da pandemia do vírus chinês. Precisava de um lugar mais aberto para receber o evento Caminhos do Imperador, sob a responsabilidade de Mezak Gualberto, da Almek, de Boa Sorte. Como o roteiro era só uma vez por mês, surgiu a possibilidade de abrir aos sábados e domingos para almoço e visita às instalações da Sossego. Hoje trabalham com almoços agendados para celebração de aniversários, encontros de famílias, amigos e outros eventos. Os almoços ajudam na manutenção e conservação da fazenda. O preço varia, dependendo do cardápio. Gira em torno de R$ 45,00 a R$ 55,00, incluindo sobremesa, cafezinho e visita à casa-sede, com direito a repouso em redes ou confortáveis poltronas.
Lúcia afirma que a sua ideia é receber o turista com um atendimento diferenciado, num local arejado, sem tumultos ou filas, onde os visitantes possam ficar à vontade. A fazenda é farta em água, o bem principal, ao lado da eletricidade, para o desenvolvimento de um projeto de turismo rural com grande possibilidade de êxito e perenidade. A água potável é do próprio imóvel. A água para os currais e irrigação vem da represa do córrego Bom Vale.
Sebastião A. B. de Carvalho, no Álbum das Fazendas de Cantagalo, relata que “ao vislumbrar esta importante e histórica fazenda, sentimos por alguns momentos que o tempo não passou, e que estamos vivendo nos anos de 1857 a 1890, pois Sossego é o retrato autêntico do que foi uma fazenda nessa época. A sede surge majestosa, cercada de grandes palmeiras centenárias, no centro de uma vasta várzea, rodeada de morros com várias tonalidades de verde, e o azul do céu completa essa paisagem digna de um óleo. Mas esse retorno ao passado, infelizmente, não pode ser longo, pois temos uma missão cultural muito importante para com as gerações do presente e as futuras, de registrarmos toda essa história, para que não se perca no tempo e na memória”.
A Fazenda Sossego é um exemplo para o turismo rural em Cantagalo. A estrada que a ela dá acesso é precária. Necessita de melhorias para fluir melhor o trânsito por aquela região, tanto a partir da rodovia Cordeiro-Macuco, quanto da vila de Euclidelândia. As fábricas de cimento que dominam toda a região, no distrito de Euclidelândia, poderiam financiar a recuperação e melhores condições de tráfego para uma estrada que vai servir a essas cimenteiras e, também, ao turismo rural em Cantagalo.
Mesmo nas atuais condições da rodovia, há viabilidade para um tráfego seguro. Este garante a indispensável visita à Fazenda Sossego, uma relíquia histórica para o nosso município. A Fazenda Sossego é administrada por Lúcia Helena e seu filho, Filipe, com apoio em uma equipe com habilidades para a gastronomia e para o atendimento cordial, eficiente e eficaz que o turista pode receber, com simplicidade e competência.
Ah! O almoço foi financiado pelo cunhado Ronaldo Araújo, irmão de Angela, que está passando merecidas férias em Cantagalo, ao lado de sua esposa, Monica.
Celso Frauches é escritor, jornalista, já foi secretário Municipal em Cantagalo e é presidente do Instituto Mão de Luva.